Orçamento dos clientes para um carro não vai aumentar só para o veículo ser elétrico, diz VW

Vítor M. says:

O mito da não sustentabilidade do lítio e dos carros elétricos. Apesar de haver algumas pessoas que comungam dessas críticas à exploração de lítio e à mobilidade elétrica baseadas em dados soltos e comparações enviesadas, também é verdade que cada vez são menos. E ainda bem.

No entanto, tal como algumas vezes já escrevemos, com base factual, a realidade é mais complexa e, sobretudo, mais favorável ao caminho elétrico do que muitos querem fazer crer. Mas, em relação ao teu comentário, vamos por pontos:

1 – Falaste e bem na extração do lítio e impacto ambiental: sim, é inegável que a extração de lítio tem impacto ambiental, como qualquer atividade mineira. No entanto, a maioria dos projetos modernos na Europa e noutros continentes está a ser planeada com regras ambientais exigentes, tecnologias de reaproveitamento de água e sistemas de recuperação ecológica. Não é menos verdade que o consumo de água de 500.000 litros para 1 tonelada de lítio refere-se aos salares da América do Sul, que não representam a realidade da mineração de rocha dura, como é o caso europeu (ex. Portugal e Austrália). Além disso, as novas técnicas de extração direta estão a reduzir drasticamente o consumo de água e o impacto no solo.

2 – Falaste e bem na energia necessária para produzir baterias: como também já escrevemos algumas vezes, a energia gasta na produção de baterias está a diminuir ano após ano, graças à eficiência das fábricas e à transição para fontes renováveis. Gigafábricas na Europa e nos EUA já operam com energia solar ou eólica. os números de 10 ou 15 MWh para uma bateria estão desatualizados. O valor médio atual ronda os 3 a 5 MWh por bateria de 75 kWh, e este custo energético é compensado nos primeiros 20 a 30 mil quilómetros de uso.

3 – Comparaste com o petróleo: a tal falácia energética: é sabido que um barril de petróleo pode ter energia térmica, mas é altamente ineficiente: apenas cerca de 20–30% é convertido em movimento no carro. Um carro elétrico usa 90% da energia da bateria para mover-se. A diferença de eficiência entre um motor elétrico e um motor a combustão é enorme. Por isso, a comparação de “MWh vs barris” é tecnicamente incorreta e enganadora.

4 – A rede elétrica e a transição energética: há imensos estudos e projetos em desenvolvimento que mostram que a eletrificação da mobilidade será progressiva, acompanhada por reforços na rede e aumento de produção renovável. Países como Portugal, Noruega ou Dinamarca já produzem mais de 60% da sua eletricidade a partir de fontes limpas.

Além disso, como recentemente escrevi, os carros elétricos podem ainda ser parte da solução, com baterias ligadas à rede (V2G), podem estabilizar a produção e armazenar excedentes solares ou eólicos.

5 – Ecologia comparada: elétrico vs combustão: mesmo com a pegada da bateria, um carro elétrico emite entre 50% a 70% menos CO₂ ao longo da sua vida útil face a um carro a combustão. O verdadeiro impacto ambiental de um automóvel deve considerar o ciclo de vida completo, não apenas a produção da bateria.

Portanto, e para não me alongar, é aceite já pela maioria que o carro elétrico, apesar de não ser perfeito, é incomparavelmente mais eficiente, limpo e sustentável do que o motor a combustão. As críticas ao lítio devem ser contextualizadas, e não usadas para alimentar mitos ou defender o status quo do petróleo.