Guerra na Ucrânia e os problemas energéticos: De onde vem a energia consumida em Portugal?
A Europa recebe da Rússia cerca de 40% do gás que aquece as residências e escritórios, assim como gera eletricidade em termelétricas ou manter as fábricas a funcionar. Portanto, não haverá grandes dúvidas que esta guerra trará fortes constrangimentos no que toca ao fornecimento de energia à Europa. Contudo, há países que sofrerão um impacto maior que outros. Portugal não é um país tão dependente do gás e petróleo da Rússia.
Apesar de quase dois terços da energia consumida em Portugal virem do petróleo e do gás, o país tem soluções elétricas e renováveis. Então, atualmente, de onde vem a energia que consumimos?
A invasão da Ucrânia pela Rússia mobilizou os países ao redor do globo (mas com maior incidência na Europa) numa condenação a este ato de guerra. Vários pacotes de sanções foram aprovadas e algumas estão já a castigar o país de Vladimir Putin. Contudo, esta guerra, que se espera nunca chegar a patamares do uso de armamento nuclear, trará consequências a vários níveis, principalmente no que diz respeito à energia.
O gás natural tem sido o trunfo da Rússia para controlar algumas das posições dentro da própria União Europeia. No entanto, Portugal não é assim tão dependente como é a Alemanha ou a Itália.
Portugal tem outros fornecedores e reservas de gás natural?
Segundo informações do Ministério do Ambiente e da Ação Climática em comunicado, a Rússia representa cerca de 40% das importações de gás natural (GN) da Europa.
Assim, no contexto nacional, em 2021, somente 10% das importações de GN foram provenientes da Rússia, pelo que não se antevê que uma potencial interrupção do fornecimento por parte da Rússia represente uma disrupção no fornecimento de GN a Portugal.
Além disso, Portugal vive hoje num cenário de uma maior diversificação de origens do gás natural que importa e, sendo o mercado de GN global, existem diversos fornecedores que poderão representar uma alternativa segura e viável ao GN vindo da Rússia.
No que toca ao armazenamento e às reservas, Portugal dispõe de elevados níveis de armazenamento de GN (79,2% da capacidade total), que atualmente é dos valores mais elevados da Europa em termos percentuais. Até ao momento, refere o comunicado, não se verificaram quaisquer falhas nas entregas de GN no terminal de Sines e a calendarização de fevereiro e março decorre como programado pelos agentes de mercado.
No que respeita ao Petróleo Bruto (crude) e seus Derivados, não se anteveem problemas de abastecimento, dado que Portugal não importa crude da Rússia desde o ano 2020. Os produtos intermédios que se importaram da Rússia, e que representam uma pequena fração do total, têm fornecedores alternativos no mercado internacional.
Portugal dispõe de reservas estratégicas de crude e de combustíveis (gasolina, gasóleo e GPL), os quais, no caso dos combustíveis, são suficientes para garantir o consumo nacional durante 90 dias.
Esta informação é interessante e complementa aquela que cada consumidor recebe na sua fatura do fornecedor.
Origem da produção da energia que abastece a casa dos portugueses
De forma a informar os consumidores sobre a origem da eletricidade que consome, ou melhor dizendo, quais as fontes energéticas utilizadas na sua produção, foi criado, há uns anos, um sistema de rotulagem para a eletricidade.
À semelhança do rótulo de um produto que compra no supermercado, a fatura da eletricidade, bem como a informação online das entidades envolvidas, passaram a disponibilizar informações sobre as fontes de energia associadas ao seu consumo e os impactos ambientais daí resultantes.
Em síntese, cada empresa fornecedora deve informar o seu cliente sobre:
- A origem da energia consumida (carvão, gás natural, hídrica, eólica, etc.);
- Os impactes ambientais associados ao consumo, designadamente as emissões de dióxido de carbono (CO2) e produção de resíduos radioativos de alta atividade.
- Assim, se consultar a sua fatura deverá ver a informação sobre quais as fontes da sua energia que consumiu.
Electricity Map
De forma muito mais global, existem serviços que nos oferecem informação detalhada. Assim, recorrendo ao serviço interativo Electricity Map, que nos dá informação tempo real, temos informação rica em pormenor.
Neste serviço poderá ter toda a informação sobre quais as fontes de energia usadas para a produção de eletricidade nos mais diversos países, incluindo Portugal. O site informa também sobre a intensidade de carbono e quanto se produz de energias renováveis.
Este serviço fornece ainda um vasto leque de dados sobre a produção elétrica de cada país. Desta forma, facilmente percebemos o estado do mundo, no que toca a eletrificação a vida das pessoas.
Este artigo tem mais de um ano
Com a maior utilização de energia eléctrica na Europa, poderão vir os apagões eléctricos para Portugal, em especial desde o encerramento das centrais a carvão, em que Portugal passou a estar ainda mais dependente da energia eléctrica de outros países como Espanha e França.
Devíamos ter construído e colocado em estado de operacionalidade mais centrais a carvão para ter energia de reserva permanentemente disponível para utilização quase imediata, e utilizável em caso de necessidade, e fez-se o contrário: encerrou-se.
E quem diz construir centrais a carvão diz utilizar outras fontes como por exemplo que utilizem os restos das florestas e similares, que alguns dizem que geraria pouca energia, mas pouca energia é melhor que nenhuma energia em casos graves de falta de fornecimento de outras fontes… e se já arderam centenas de milhares de quilómetros de florestas em caso de emergência essas mesmas árvores em vez de irem em incêndios constantes iam para as centrais de produção de energia, onde pelo menos a poluição pode ser melhor controlada.
Por outro lado oponho-me à utilização de centrais a carvão, enquanto houver alternativas mais ambientalmente amigas realmente utilizáveis… mas seria uma reserva de emergência, que no limite deveria permitir fornecer 100% de energia, se todas as outras fontes estiverem indisponíveis (ex.: guerra).
Apesar de aparentemente o carvão ser todo importado, acho que em caso de emergência nacional é possível voltar a extrair carvão em território português… sim, não é o ideal, mas poderá ser a única coisa realmente viável em caso de corte de fornecimento de matérias ao país se as energias renováveis não forem suficientes… e não houver água suficiente nas barragens para se utilizar para energia eléctrica.
@Joao Ptt não está uma ideia totalmente descabida, mas o nosso carvão era muito fraco para queima, em comparação com o carvão do Reino Unido e Alemanha.
O problema é o custo do estado de prontidão dessas mesmas centrais… mas também acho que seria preferível ao invés de um apagão.
Neste momento, biomassa e nuclear (então a última geração é fantástica) como base. E como complemento com tendência importante de crescimento, as renováveis.
Mas os nossos políticos não ouvem a ciência, apenas as redes sociais.
E quem os elege, também.
A minha resposta para quem contestar tudo isto é uma: estudem e ouçam os peritos (os verdadeiros).
MINAS EM PORTUGAL ??? NUNCA NA VIDA…… LOL
Não falta aí no artigo o nome do País que neste contexto terá um peso significativo no fornecimento de gás ao nosso país?
Penso que Argélia será a palavra chave.
Ou me engano ou houve falta de rigor.
Não era esse o foco, isto é, não era o objetivo detalhar de onde vem o gás ou a energia hídrica ou a solar, ou outra qualquer. Se fosse, teríamos feito, portanto, não há falta de rigor, como é óbvio.
Mas posso levantar um pouco desse assunto, na ótica do gás natural (as barragens fica para outro dia).
O Gás Natural é extraído das jazidas, tratado e para chegar ao destinatário final, fá-lo por duas grandes vias: terra e mar.
Por terra chega através de um gasoduto que tem origem na Argélia, passa por Marrocos, Estreito de Gibraltar, Tarifa (Espanha), Córdoba, Badajoz e chega a Portugal em Campo Maior. A partir daí, o GN, a alta pressão, entra no gasoduto nacional.
Por mar, o GN chega ao Terminal de Sines, mas nesse caso sob a forma líquida (GNL). É transportado por navios chamados metaneiros. A maioria do GNL que chega a Portugal tem origem na Nigéria, mas vem também de países como o Qatar, a Guiné Equatorial, Trinidad e Tobago ou EUA.
Como vez, a palavra chave não é essa. Estás enganado 😉
Nada como uma discussão saudável para ser revelado o que penso muitos quererem saber.
Eu agradeço.
@Redin, o gás vindo da Argélia é quase residual.
Aqui pode encontrar a sua origem com reporte a Janeiro e posteriormente a todos os meses:
https://datahub.ren.pt/pt/gas-natural/balanco-mensal/
Pensei o mesmo. Obrigado
de Sines vêm também dos Estados Unidos, o restante sim está correto.
Eu trabalho na REN.
O movimento de navios aumentou esta semana, só ontem vieram dois Navios LNG no mesmo dia (em Sines), neste momento está cá o “LNG River Niger”.
Não sei se são só estes, aqueles que deixei foram os que reti, quando pesquisei sobre o assunto. Vou acrescentar ali os EUA, obrigado.
ora essa 🙂
queria salientar só uma pequena coisa:
O Porto de Sines tem vários terminais, a Administração Portuária de Sines, por exemplo, não é “responsável” por todos os navios que venham. Por exemplo o terminal de contentores (Terminal XXI) é gerido e concessionado pela PSA (empresa de Singapura).
O terminal de gás natural, de onde vem esses navios de gás, é gerido pela REN Atlântico, essa é quem fez contratos e encomendou o gás (como o exemplo do navio russo)
Não sabia. Obrigado.
Tem razão…a Argélia é o principal fornecedor de gás natural de Portugal. E a Rússia nem sequer tem sido um fornecedor habitual ao nosso País…na próxima sexta feira é que vai chegar um navio cisterna a Sínes com GNL da Rússia para a Naturgy (antiga Gas Natural Fenosa)! Mas a compra é anterior ao início da “guerra”.O navio que o transporta é Russo…com bandeira de Hong Kong!
yes, é o navio “Vladimir Vize”
Interessante, obrigado pela informação.
https://www.marinetraffic.com/en/ais/home/shipid:5630004/zoom:10
Bem o gas é uma commodity e o aumento do preço no norte da Europa vai directamente traduzir-se no preço do gas que importamos da Argélia. Quanto ao mapa tens uns dados que , embora correctos , são enganadores . A Finlandia uso pouquíssimo gas natural – Não são estupidos e nunca quiseram ficar nas mãos dos Russos – Daí a continua aposta no nuclear (com o gas Russo mesmo ali ao lado)
A Europa vai começar a pagar muito caro a energia. Não é só o gás… Preparem as carteiras que isto vai mesmo apertar.
verdade…
já começou! Segunda-feira o gasóleo pode subir até 19 cêntimos por litro e a gasolina 9 cêntimos (fonte: Jornal de Negócios)
10% do gás em 2021 veio da russia, e vamos sofrer aumentos de quanto?
Em 2018 para produção electrica, 6% era a partir do gás natural: https://pplware.sapo.pt/informacao/renovaveis-representaram-61-da-producao-nacional/
Em 2021 já é 29%: https://pplware.sapo.pt/informacao/portugal-energias-renovaveis-abasteceram-61-do-consumo/
Em 2022 é 50.38%?
Algo se está a passar
No site que vocês indicaram https://www.electricitymap.org/ lá está que o gás natural corresponde a 31.4% da energia consumida
De onde veio o grafico que apresentaram ai no final (dos 50.38%) https://pplware.sapo.pt/wp-content/uploads/2022/02/energia_portugal01.jpg ?
Da tua fatura de energia que recebes em cada, tu, eu e todos 😉
Boa noite,
Não temos mais produção limpa de energia, porque estaríamos a destruir o negocio de alguém!
Porque é que os contadores inteligentes em vez de fazem a monitorização a 12horas fazem a 15 minutos?
Só para refletir!