Cientistas encontram “partículas fantasmas” vindas de dentro da Terra
Chamam-se geoneutrinos e são misteriosas partículas que raramente interagem com a matéria e, por isso, podem ser quase impossíveis de detetar. No entanto, os cientistas encontraram novas "partículas fantasmas" de radioatividade vindas de dentro da Terra.
Este fenómeno, conseguido com o detetor Borexino, do laboratório italiano de Gran Sasso, foi registado em 53 novos eventos.
Geoneutrinos, as partículas fantasmas misteriosas
Os cientistas que trabalham no maior laboratório subterrâneo do mundo encontraram 53 novos eventos, quase duas vezes mais do que antes. Nesse sentido, foi possível aos investigadores detetar os eventos recorrendo ao detetor Borexino, que está enterrado a 1400 metros no subsolo e faz medições incrivelmente sensíveis de fenómenos geralmente impercetíveis.
O Borexino é uma experiência de física de partículas para estudar neutrinos solares de baixa energia (sub-MeV). Assim, o detetor é o calorímetro cintilador líquido mais puro do mundo. Este é colocado dentro de uma esfera de aço inoxidável que segura os detetores de sinal (tubos fotomultiplicadores ou PMTs) e é protegido por um tanque de água para o proteger da radiação externa e marcar os raios cósmicos que conseguem penetrar a sobrecarga da montanha.
Há muita atividade que acontece no centro da Terra e que não temos a noção. Assim, os cientistas esperam que as novas descobertas possam trazer informações para decifrar os eventos que acontecem debaixo dos nossos pés. Grande parte desses eventos são ainda um mistério.
Núcleo da Terra está em chamas e as partículas da atividade chegam até à superfície
Os geoneutrinos são produzidos durante a decadência radioativa dentro da Terra. Eles significam que o nosso planeta está em chamas e certas partículas esquivam-se e fluem até a sua superfície. Contudo, estas são totalmente invisíveis aos nossos olhos. O detetor Borexino, localizado no Laboratori Nazionali del Gran Sasso, em Itália, tem como objetivo ver esse fluxo invisível de partículas.
Os cientistas têm estado atentos aos neutrinos desde 2007, e têm vindo a recolher informações ao longo desse tempo.
Assim, os investigadores, no passado ano, detetaram o novo fluxo de partículas fantasmas, além de tornar as suas medições mais seguras.
Os geoneutrinos são os únicos vestígios diretos das decadências radioativas que ocorrem dentro da Terra, e que produzem uma porção ainda desconhecida da energia que impulsiona toda a dinâmica do nosso planeta.
Explicou Livia Ludhova, uma das duas coordenadoras científicas atuais de Borexino, em comunicado.
Processos radioativos são responsáveis pelos vulcões e terramotos
Indo ao encontro dessa e de outras questões relacionadas, as novas descobertas podem ajudar a lançar luz sobre estes misteriosos processos, do calor inexplicável que vem do centro da Terra. O mundo sob os nossos pés dá origem a uma série de fenómenos estranhos - como os espetaculares vulcões e o campo magnético da Terra - que não são como nenhum outro visto no sistema solar.
Os novos dados ajudam a refinar o entendimento dos cientistas sobre como estes processos acontecem. De certa forma, o que foi recolhido mostra que é muito provável que os processos radioativos dentro da Terra estejam a gerar mais da metade do seu calor, com o resto vindo da formação original do planeta, o que significa que estes processos radioativos são responsáveis pelos vulcões e terramotos que mudam a vida na superfície.
Os cientistas esperam poder aprender ainda mais sobre estes misteriosos processos, medindo as partículas fantasmas com mais precisão. Na China, uma experiência chamada Juno (que está em construção), será 70 vezes maior que Borexino e poderá dar uma visão muito maior.
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