Explorar o minério da Lua levanta 4 questões importantes e que urge responder
Com o virar do ano, há uma certa tendência para vaticinar o que vai acontecer num futuro próximo. Alguns entendidos extrapolam mesmo o próximo passo da humanidade na Lua. Dizem que até ao final desta década será possível algumas nações e empresas privadas explorar a superfície da Lua. Escavar o satélite à procura de riqueza. Mas, temos de saber a resposta a quatro importantes perguntas sobre este assunto.
À medida que o espaço se torna acessível a mais nações e corporações, precisamos de parar e perguntar-nos que atividades comerciais queremos permitir, inclusive na Lua.
Agora é o momento de criar as regras e regulamentos que protegerão o futuro partilhado da humanidade no espaço e garantirão que a Lua permaneça um símbolo e uma inspiração para as gerações futuras.
NASA sees lunar mining trial within the next decade (Reuters). https://t.co/90iyLQqlTk pic.twitter.com/ZXrqbbbnyy
— Gilles F. Leclerc (@spaceleclerc) June 28, 2023
1. Por que explorar a Lua?
O programa Artemis da NASA, que envolve milhares de milhões de dólares, não se limita a enviar astronautas de volta à Lua. O objetivo também é abrir caminho para operações de exploração mineira. A China está numa trajetória semelhante.
Isto deu início a uma nova corrida lunar, com empresas privadas a competir para descobrir como extrair recursos da Lua, potencialmente vendendo-os de volta a governos numa cadeia de fornecimento cósmica.
Atualmente, todos os abastecimentos para a exploração espacial são enviados da Terra, tornando itens essenciais, como água e combustível, extremamente caros.
Quando um litro de água chega à Lua, o seu custo ultrapassa o do ouro. Mas, ao converter o gelo de água da Lua em hidrogénio e oxigénio, é possível reabastecer naves espaciais no local. Isto pode tornar viagens para o espaço profundo, especialmente para Marte, muito mais viáveis.
A abundância de metais raros na Lua, essenciais para tecnologias como os smartphones, também significa que a mineração lunar poderia aliviar a pressão sobre as reservas da Terra.
As empresas privadas podem ultrapassar as agências espaciais; uma startup pode começar a explorar a Lua antes de a NASA enviar o próximo astronauta.
2. Poderá a mineração alterar a forma como vemos a Lua a partir da Terra?
Quando se extraem materiais da Lua, levanta-se poeira. Sem uma atmosfera para desacelerá-la, essa poeira lunar pode viajar grandes distâncias.
A superfície da Lua está “envelhecida pelo espaço” e é menos refletiva do que os materiais mais brilhantes por baixo. Perturbar a poeira lunar pode fazer com que algumas áreas da Lua pareçam mais brilhantes onde a poeira foi removida, enquanto outras podem parecer mais baças se a poeira assentar novamente.
Mesmo operações de pequena escala podem levantar poeira suficiente para causar mudanças visíveis ao longo do tempo.
Gerir a poeira lunar será crucial para garantir práticas de mineração sustentáveis e minimamente disruptivas.
3. Quem é o dono da Lua?
O Tratado do Espaço Exterior (1967) é claro ao afirmar que nenhuma nação pode “possuir” a Lua (ou qualquer corpo celeste).
Contudo, não é tão claro se uma empresa que extrai recursos da Lua viola esta cláusula de não apropriação.
Dois acordos posteriores abordam esta questão:
- O Tratado da Lua de 1979 declara a Lua e os seus recursos naturais como “património comum da humanidade”. Muitos interpretam isto como uma proibição explícita da mineração comercial lunar.
- Os Acordos Artemis de 2020, por outro lado, permitem a mineração, reafirmando o Tratado do Espaço Exterior na rejeição de qualquer reivindicação de posse sobre a Lua.
O Tratado do Espaço Exterior também afirma que a exploração do espaço deve beneficiar toda a humanidade, não apenas as nações ou empresas mais ricas que conseguem lá chegar.
No que toca à extração de recursos, alguns argumentam que isso significa que todas as nações deveriam partilhar os benefícios de qualquer empreendimento futuro de mineração lunar.
4. Como seria a vida dos mineiros na Lua?
Imagine trabalhar 12 horas seguidas em condições quentes e sujas. Está desidratado, faminto e exausto. Alguns dos seus colegas colapsaram ou ficaram feridos devido à exaustão. Gostaria de encontrar outro emprego com melhores condições, mas não pode. Está preso no espaço.
Esta visão distópica destaca os perigos de avançar com a mineração lunar sem abordar os riscos para os trabalhadores.
Trabalhar em condições de gravidade reduzida traz riscos para a saúde, como:
A exposição à radiação cósmica aumenta o risco de vários tipos de cancro e pode também afetar a fertilidade.
Os mineiros lunares também enfrentariam isolamento prolongado e intenso stress psicológico. Será necessário criar boas leis e diretrizes para proteger a saúde e o bem-estar da força de trabalho no espaço.
Os organismos reguladores para defender os direitos dos trabalhadores e garantir padrões de segurança estarão longe, na Terra. Isso poderá deixar os mineiros sem recurso se forem obrigados a trabalhar em condições inseguras ou horas desumanas.
O astrobiólogo britânico Charles S. Cockell alerta que isso torna o espaço “propenso à tirania”, com indivíduos poderosos a poderem abusar de pessoas que não têm para onde fugir.
A Lua detém um incrível potencial como ponto de apoio para a exploração humana e como fonte de recursos para sustentar a vida na Terra e além.
Mas a história mostrou-nos as consequências da exploração desenfreada. Antes de explorarmos a Lua, precisamos de estabelecer regulamentos robustos que priorizem a equidade, a segurança e os direitos humanos.
Esta notícia, especialmente a parte final, lembra-me seriamente “The Moon is a Harsh Mistress”, de Robert Heinlein. E os desenvolvimentos de IA que andam por aí só fortalecem mais o paralelo…
Nunca li esse, e li muitos desse autor. Fiqueo curioso. Hei-de procurar.
E para minerar que os robos da tesla servem entre outras funções…
Astropolitica a nova onda que tornou a geopolítica obsoleta. Faltou referir que quem tem o mapa de hélio3 é a China. No entanto, a china não é aquelas coisas em navegar no espaço, ora que perde a nave ora que chega lá e tomba. Agora, a Índia.. A Índia está bem avançada, aliás deram cartas no congresso do último ano em Milão, se estas se unem os Estados Unidos vão se ver gregos e acho que tanto a china quanto a índia não dão muita importância se a lua começar a ficar com um certo blur a troco do combustível para a futura fusão nuclear. Quanto ao envio de humanos para mineração é pouco viável, a ideia é enviar robots controlados a partir da terra.
Ui a China domina tudo e tudo sabe! Dever ter sido quem mapeou em primeiro toda a Lua e Marte, quem sabe onde está a água, quem descobriu o Helio 3, “tocou” o Sol, nem usou espionagem para ir à Lua ou Marte – os americanos é que copiaram, como todo mundo sabe – como também tem sido quem nos facultou, hoje quase lugares comun: imagens de todos os planetas do nosso sistema e respectivos satélites, inclusive objectos do cinturão de asteróides e da nuvem de Oort ou do Cinturão de Kuiper, de galáxias proximas e distantes, a investigaçãode rádio e infravermelhos! A santa china, o que seria de nós sem ela…