Análise Thief (Playstation 3)
2014 foi o ano que viu renascer do esquecimento um dos títulos mais populares dos finais da década de 90 e um dos heróis mais discretos.
Falo de Thief e de um dos Ladrões mais famosos do mundo dos videojogos, Garrett.
Uma das características de Thief é o facto de se basear numa jogabilidade muito mais direcionada para a acção furtiva, sendo inclusive um dos jogos mais emblemáticos do género. Juntamente com Splinter Cell, Metal Gear Solid e mais tarde Assassin’s Creed, Thief conseguiu criar um tipo de jogo onde impera a acção sub-repticia em detrimento da violência e do confronto directo.
Cerca de 10 anos após a sua última aparição, Garrett volta aos nossos ecrãs e com novos truques na manga.
O Pplware já encarnou O Ladrão.
O nosso primeiro encontro com Thief, leva-nos até uma cidade (identificada como The City) em plena Idade Média, diria eu, e que se encontra assolada por uma praga, causando grande dizimação e medo entre a população.
Entretanto, desde cedo nos apercebemos que existe uma outra ameaça a pairar sobre a cidade, Baron. Baron, é quem manda efectivamente na cidade. Com a ajuda da ganância alheia e da corrupção, Baron mantém a cidade a pulso de ferro ao mesmo tempo que ele próprio a delapida de tudo o que tenha valor. Nós é que somos o Ladrão mas como terão oportunidade de ver, é o próprio Baron que vasculha as próprias entranhas dos mortos à procura de qualquer coisa que tenha valor.
O jogo começa conosco a vaguear pelas ruas e telhados da City com a nossa amiga Erin. Encaminhamo-nos para o telhado de um edifício (Northcrest Manor) onde nos apercebemos de um ritual no seu interior. Entretanto, algo acontece e o ritual termina da pior maneira. No calor da confusão e explosões resultantes, Erin desaparece e Garrett é salvo, surgindo alguns meses mais tarde.
Aqui começa a nossa aventura a sério, à medida que vamos investigando as actividades criminosas de Baron, e tentamos descobrir o que aconteceu com Erin.
Está criada a trama para Thief e é assim que começamos lentamente a descobrir a cidade, as suas ruas e ruelas, os seus telhados os seus habitantes, ….
The City é uma típica metrópole da Idade Média. Com montes de ruas e ruelas, e muitos becos, apresenta ainda um grande conjunto de telhados e plataformas, que são o nosso meio preferido de nos movimentarmos.
A cidade está extraordinariamente bem-criada. Não me refiro apenas à forma como as foi criada fisicamente (casas, ruas, becos, ..) mas pelo ambiente pesado e soturno que a Square Enix lhe conseguiu dar, criando assim um efeito real de doença, medo, corrupção. A cidade é o palco e em simultâneo, uma personagem do jogo.
Grande parte do jogo passa-se conforme indiquei pelas ruas e telhados da cidade mas muitas das missões levam-nos ao interior de determinados edifícios. Os interiores estão ainda mais detalhados. É impressionante a quantidade de pormenor que foi imposta à maior parte dos interiores.
Aliás, esse pormenor vai ao ponto de conseguir transmitir uma sensação de pobreza nas casas dos pobres habitantes da cidade em contrapartida com a riqueza e opulência de alguns outros edifícios, como por exemplo o Bordel da cidade.
Contudo essa qualidade gráfica toda, tem alguns custos e no caso da Playstation 3 o preço a pagar são algumas quedas abruptas de framerate em certas zonas. Nada de catastrófico mas também, nada de saudável.
Conforme mencionei, ao longo da aventura são-nos dadas variadas missões a completar. Creio que os jogadores menos adeptos deste tipo de jogos se poderão queixar da mecânica de grande parte das missões, que numa primeira vista pode ser repetitiva. Se olharmos de uma forma muito genérica pode-se identificar um padrão de ir até ao Ponto A e roubar algo ou alguém. No entanto, acredito que num jogo como Thief isso não seja obrigatoriamente um grave problema. A grande questão deste tipo de jogos não é tanto o que fazer, mas como fazer. Aí é que está o valor acrescentado do jogo.
Para um jogador que venha de um jogo mais imediatista como Call of Duty, é simples … vai-se em frente, mata-se tudo o que se encontrar pela frente com o BlackJack e pronto. Mas o objectivo do jogo é precisamente o oposto. O truque está em conseguirmos ser uma sombra na grande City.
Por falar em sombras, estas serão as nossas melhores amigas pois ao longo da aventura iremos utilizá-las e bastante. Existe um medidor no canto inferior direito de luminosidade que nos indica se estamos muito ou pouco invisíveis e, quer seja em interiores ou exteriores, convém sempre ter atenção a esse medidor.
Aliás, um vício que ganhei em Thief foi o de apagar todas e quaisquer velas que encontrasse pela frente. É precisamente este o objectivo do jogo … levar-nos a querer as sombras, o furtivo.
No entanto, e no que toca às sombras há alguns problemas. Em determinadas ocasiões vemo-nos escondidos numa sombra a menos de 2 metros de um guarda com um archote e ele não nos vê.
Seja com ou sem sombras, Thief oferece ao jogador grande liberdade de movimentos. Não há uma forma correcta de completar as missões, e o jogador pode optar claramente por uma postura mais violenta em vez de tentar passar despercebido. Isso é perfeitamente possível mas, devo confessar que nesse caso, se perderá a maior beleza do jogo. Aliás, no final de cada Capitulo, temos a avaliação da nossa performance e um dos pontos em análise é precisamente a utilização de força bruta versus adoção de táctica mais furtiva.
Apesar das missões principais, o jogo permite-nos vaguear pela cidade. Muitas das casas existentes apresentam janelas que conseguimos arrombar e em muitas delas há colecionáveis escondidos (em cofres, gavetas, móveis, …) pelo que o jogo também nos impulsiona para a exploração.
Em muitos casos teremos de arrombar fechaduras utilizando uma mecânica de rodar o analógico esquerdo até à posição certa e depois R2 para arrombar.
Aqui surge um problema bastante chato de Thief, tempo de loading que o jogo nos impõe. Não me refiro ao final de um nível, mas a situações simples como o arrombamento de uma janela. É estranho mas em grande parte das janelas arrombadas temos um tempo de loading pela frente e, embora perceba que pode representar a criação do conteúdo interior, é algo que se torna bastante incómodo.
Thief mantém-se fiel ao seu passado em quase tudo e uma das particularidades que o fez sobressair deste género foi o facto de ter extrema atenção ao capítulo sonoro. O som faz parte integrante do jogo e não apenas no sentido de dar música aos nossos ouvidos, ou de ouvir comentários (repetitivos) do povo … Não, o som faz parte do jogo no sentido de que temos de saber lidar com ele. Ao movimentar-se Garrett faz barulho e se houver vidros no chão ainda mais barulho faz, certo? Pois, estes barulhos podem ser ouvidos pelos guardas e assim temos de ter atenção redobrada nas secções furtivas.
O oposto se aplica e muitas vezes estando nós escondidos, conseguimos apercebermos-mos da aproximação de guardas pelos seus sons a andar ou a falar.
De qualquer forma não poderei deixar de tecer grandes elogios à composição musical do jogo pelo que parte do ambiente pesado do jogo, é criado pela excelente escolha musical escolhida que acompanha a acção de forma soberba.
Os combates em Thief são extremamente simples, e a mecânica passa basicamente por aguardar que o inimigo ataque para nos desviarmos e depois contra-atacar. Após alguns ataques bem-sucedidos podemos aplicar um finish (pressionando R1). O combate é demasiado repetitivo mesmo apesar do jogo sugerir constantemente a acção furtiva.
Garrett, como ladrão que é tem um poder especial, Focus. Basicamente o Focus permite a Garrett identificar com relativa facilidade objectos com os quais consegue interagir, identificar armadilhas, encontrar caminhos de fuga, nocautear guardas com um só golpe, …. Creio no entanto que o Focus é uma ajuda demasiado poderosa em Thief, e retira grande parte do desafio que o jogo deverá apresentar. Existe no entanto, a opção do Focus pode ser desligada.
O jogo apresenta um cariz RPG também, e permite-nos melhorar Garrett e os seus utensílios ao longo do jogo. Com o dinheiro que vamos ganhando com os roubos e com as coisas que encontramos pelo caminho (muitos pentes, cálices, canetas, …) podemos melhorar a utilização das nossas ferramentas como também fazer upgrades à nossa capacidade de Focus (mais silenciosamente, nocautear inimigos com um único golpe,...).
Uma coisa que a equipa deveria ter possibilitado era o podermos usar armas adquiridas dos guardas que derrubamos. Apesar de convidar a uma acção mais direta, faria sentido que tal acontecesse.
Thief é um jogo de acção furtiva que, apesar de permitir uma abordagem mais directa às diferentes missões é claramente um jogo que tem de ser jogado de uma forma mais pensada, mais cautelosa e só assim o jogador pode aproveitado na sua plenitude.
Nota Final- 8,0
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2014 corresponde ao ano do regresso d'O Ladrão à ribalta, e em boa hora o fez. Assentando na mecânica de acção furtiva e ponderada que o tornou num jogo de referência na temática, Thief apresenta ainda variadas novidades que fazem com que esta versão de 2014 seja uma boa pérola para ter junto da Playstation 3. A Cidade convida-nos à exploração e a nos embrenharmos cada vez mais nos seus becos e ruelas e à medida que o fazemos vamos descobrindo uma Cidade pobre, doente, mas também rica em vida e pormenor. No entanto, Thief dá a ligeira sensação de ter sido idealizado para as consolas de Última Geração e exemplo disso são as quebras de framerates que abundam em determinadas situações. No seu nicho muito próprios de acção stealth, Thief é um jogo que qualquer amante do género gostará de poder explorar.
Gráficos: 8,3
Ambiente pesado, claustrofóbico e doentio. Riqueza visual da Cidade. Queda abrupta de framerates em determinadas ocasiões. Algumas animações de fraca qualidade.
Som: 8,7
Banda sonora que acompanha a acção e tem a sua quota parte na criação de um ambiente digno para O Ladrão. Efeitos sonoros realistas e com impacto no decorrer do jogo.
Jogabilidade: 7,5
Acção furtiva empolgante e recompensadora. Possibilidade de atingir os objectivos de várias formas. Grande liberdade de exploração da Cidade. Excessiva facilidade associada ao uso do Focus. Algumas nuances no uso das sombras e de zonas altas. Tempos de loading. Combate repetitivo e simples.
Longevidade: 8,0
Além das missões principais, e das variadas missões paralelas existe muito por explorar.
Género: Acção Furtiva Plataforma Analisada: Playstation 3 Outras Plataformas: Playstation 4, Xbox One, Xbox 360 Homepage Thief
Este artigo tem mais de um ano
Queria ter uma PS4 para jogar isto :/
Sim, na Playstation 4 o jogo terá um outro valor, sem dúvida.
No entanto, gostei bastante desta versão Playstation 3. É pena, realmente alguns problemas, tanto a nível da jogabilidade, como ao nível das quedas abruptas de framerates.
De resto, uma aventura muito boa para todos os que gostem de jogos furtivos. Creio que o vicio de apagar velas nunca mais me vai largar. 🙂
Pois, mas se compara agora o jogo, a PS4 fica mais longe 😉
O dinheiro não estica… 😀
Ja joguei no PC com gráficos ao max e no entanto não achei grassa ao jogo.
Grassa ?????? Isso é algum objecto do jogo ?????
Pois, mas não é um jogo para todos quem jogou os velhinhos de certeza que vai curtir este, os jogos não são só gráficos.
Cumps
Era um jogo em que eu tinha grande espectativa, contudo quando passado uns dias vejo o jogo (para pc) no allkeyshop a 14,48€, fiquei com um pé atrás… vou esperar mais uns tempos.
De facto, os gráficos não são nada do outro mundo, mas passa. É um bom jogo e penso que a nota que lhe deram aqui é muito mais justa do que a de um site especializado em jogos que apenas deu 6….para mim, subestimaram o jogo. E não é o primeiro caso de sites exclusivamente dedicados a jogos que vejo dar uma pontuação desfasada da qualidade do jogo, pelo que comecei a não atribuir muita importância às pontuações que dão e às análises que fazem. Existem até análises ridículas em que a única coisa que o analista faz é desdenhar constantemente dos jogos, sem quase a apontar uma única qualidade por muito mínima que seja.
No entanto, o Pplware continua a fazer análises realistas e justas pelo que não se inclui naqueles sites.
Este jogo não é muito, muito bom, mas um 7 ou 8 merece com certeza.
Bom trabalho!
@Pedro Pinho
Isso não seria uma campanha qualquer ou promoção?
É que o jogo está no Steam a € 49,99…
Creio que não, wishmaster, porque já está no site “allkeyshop”, que informa dos sites mais baratos para comprar keys originais do steam/ubisoft/origin, à alguns dias (talvez duas semanas).
E tens razão, cada vez dou menos valor às pontuações/reviews de sites de jogos. Sem dar muita importância a teorias, creio que exista muito dinheiro envolvido por detrás dessas reviews.
Até tento, dentro do possivel, não ver pontuações/reviews antes de jogar. Normalmente tento ver só o gameplay.
joguei a versão PC: Deadly Shadows que tinha um plot fantástico. É do tipo de jogos que não dá para esquecer. A missão no sanatório onde tem os walking dead 🙂 que podem ser mortos com água benta é de tal forma arrepiante que chega a dar medo de jogar. Já agora se alguém ainda joga: mantenham-se de cócoras para lhes dar porrada e nada vos acontece (ficam os meus 5 escudos). Continuando – já joguei esta nova versão e não me impressionou muito apesar de até ser mais trabalhada e complexa que a outra na minha opinião. Se há algo que me afasta dos jogos é quando começam a complicar demais.