Trump quer que telemóveis Android sejam fabricados nos EUA. Mas isso nunca acontecerá!
Trump não larga a ideia de obrigar pela força das tarifas, os construtores americanos e não só., a trazer a produção para os EUA. Depois das ameaças à Apple, o presidente dos Estados ameaça agora os smartphones Android com pesados impostos. Mas... é impossível fabricar Androids nos EUA, isto porque a infraestrutura, a mão de obra e a cadeia de abastecimento simplesmente não existem no país.
Ontem, segundo a Bloomberg, Trump anunciou que pretende impor tarifas alfandegárias pesadas sobre os fabricantes de smartphones para os forçar a produzir nos EUA. Primeiro, afirmou nas redes sociais que estas tarifas seriam de 25% sobre a Apple. Mais tarde, em conferência de imprensa, alargou a intenção a outros fabricantes, como a Samsung — que, curiosamente, não é americana.
Como é habitual quando fala de tarifas, Trump não apresentou plano concreto nem calendário. Limitou-se a dizer que as tarifas seriam aplicadas de forma “apropriada” e “prontas” até ao final de junho.
O problema é que o que Trump deseja é praticamente impossível. Apple, Samsung, Google e outras não podem fabricar telemóveis nos EUA.
Produzir telemóveis Android nos EUA é impossível
Fabricar um smartphone nos EUA enfrenta três grandes obstáculos:
- Infraestrutura: as fábricas necessárias para produzir e montar ecrãs, chips, baterias, sensores, etc., simplesmente não existem nos EUA. Seria preciso investir milhares de milhões (ou biliões) de dólares e levar mais de uma década a criar toda a cadeia produtiva.
- Mão de obra especializada: não existe pessoal qualificado suficiente no país. Teria de ser treinado — ou importado de outros países, o que implicaria altos salários e entraves à imigração (tema sensível para Trump).
- Matérias-primas: certos metais raros essenciais não são extraídos nos EUA. Por exemplo, o escândio, usado em baterias, não é produzido há 50 anos no país. Mesmo que fossem encontrados depósitos, seria necessário construir instalações para processá-los e contratar trabalhadores.
No fim, mesmo que alguém conseguisse ultrapassar tudo isto, o telemóvel resultante teria de custar dezenas de milhares de dólares só para cobrir os custos. E ainda assim seria um produto de “primeira geração”, com todos os riscos e limitações inerentes.
E se o telemóvel for “quase” feito nos EUA?
Na semana passada, Trump falou com Tim Cook (Apple), que lhe explicou os planos da Apple para deslocalizar parte da produção da China para a Índia. Trump não gostou da ideia:
Ele está a construir na Índia. Não quero que ele construa na Índia.
Apesar da Apple se comprometer a investir 500 mil milhões de dólares nos EUA nos próximos quatro anos, incluindo uma nova fábrica em Houston, Trump parece querer tudo ou nada.
Mesmo um telemóvel parcialmente fabricado nos EUA encareceria bastante. A China fabrica componentes com custos imbatíveis. Transferir a produção para os EUA aumentaria drasticamente o custo de cada peça — encargo que acabaria por recair sobre o consumidor.
É provável que fabricar localmente seja ainda mais caro do que suportar os 25% de tarifa. Assim, a solução mais realista pode ser aceitar a tarifa e aumentar os preços.
Como vão reagir os fabricantes?
Sabemos que Trump quer telemóveis “Made in USA”, mas isso é irrealista. Mesmo soluções intermédias seriam economicamente insustentáveis.
As empresas estão encurraladas. Tim Cook terá certamente tentado explicar a Trump porque é impossível fabricar um iPhone nos EUA — mas isso não parece ter influenciado a sua convicção.
A verdade é esta: o que Trump quer é irrealizável. E mesmo a alternativa “moderada” teria custos altíssimos. A única saída viável será incluir os 25% nas contas e deixar os consumidores pagar a diferença.
Por exemplo, se o iPhone 16 ou Galaxy S25 custam hoje nos EUA 799 dólares, passariam para 999 dólares — uma diferença significativa.
Veremos o que acontece nos próximos meses. Mas uma coisa é certa: o sonho de Trump de ter um telemóvel fabricado nos EUA não vai acontecer.
Há quem diga que o regresso ao tema das tarifas – 50% sobre produtos da UE e 25% sobre smartphones, resulta de outra questão:
No passado dia 22, a Câmara dos Representantes aprovou a lei orçamental de Trump (a “Big Beautiful Bill”) por um voto (215-214). Tem cortes na despesa e cortes nos impostos – mas há muitos a dizer que as contas não batem certo, que o défice e o aumento da dívida é muito maior que o anunciado. Por isso, voltar outra vez a falar em tarifas, é Trump a repetir que vai encher os cofres com taxas alfandegárias – e por isso pode cortar nos impostos (como se as taxas alfandegárias não fossem impostos).
Quanto à anterior isenção de todas as taxas alfandegárias para smartphones e outros produtos eletrónicos (exceto a taxa fentanil, de 20%, se fossem fabricados na China), não há grandes duvidas que se deveu ao iPhone/Apple – mas não ficava bem a isenção ser só para iPhones.
Agora a ameaça da taxa de 25% era sobre o iPhone para obrigar a Apple a fabricá-los (montá-los) nos EUA, o que é praticamente impossível que venha a acontecer – mas não ficava bem que fosse só sobre iPhones. A ameaça da taxa de 25% sobre os smartphones Android não quer dizer que Trump queira que sejam fabricados nos EUA. Quer é os iPhones, como a Apple está a roer a corda no entendimento dele, vai arranjar uma maneira de se vingar. Ou passar ao ponto seguinte da sua agenda, alucinada.
ahhh, a bela resposta do ChatGPT. Que original que és!!!
“Por exemplo, se o iPhone 16 ou Galaxy S25 custam hoje nos EUA 799 dólares, passariam para 999 dólares”
as tarifas são sobre o custo de importação, não sobre o preço de venda ao consumidor, como tal o aumento não seria de 200 dólares, seria antes algo perto dos 75-100 dólares.
E ao aplicar a tarifa no custo de importação não se vai refletir no preço de venda? Claro que vai. Estás a confundir preço de fabrico com preço de importação. O valor dos 25% no custo de importação serão transferidos para o preço final. O valor da importação do equipamento não é metade do valor de venda ao consumidor 😉
Seja como for, isto são exemplos teóricos, até porque a Apple apresenta um preço e depois, nos vários estados, recebem VAT por cima. Só 3 ou 4 não aplicam VAT. Portanto, o valor poderá estar muito aproximado.
o meu português aparenta ser ininteligível
O valor de importação é aquele que a Apple declara ter pago à empresa que fabricou e que exporta para os Estados Unidos…
As estimativas de custos de fabrico do iPhone são cerca de 400 dolares, como tal sim, seria cerca de metade do preço de venda. Por exemplo, quando se falava do impacto no preço de venda do iPhone, com as tarifa de 145% na China, a estimativa dos especialistas da UBS era um aumento de cerca de 66%.
A Apple tem outros custos com o iPhone mas esses são custos de desenvolvimento, marketing, administrativos e royalties que não entram no custo de importação. São custos internos da empresa ou pagos a outras entidades que não a fábrica.
Não estamos a falar no fabrico. Mas da importação. E o teu cálculo esta sobre o fabrico. Por isso está errado. Mas também ninguém sabe o preço de importação, mas deve rondar o preço do iPhone sem o VAT.
Na verdade estamos a falar no fabrico já que o que a Apple importa é aquilo que sai da fábrica. A Apple não compra iPhones a intermediários, ela compra/paga/contrata à fabrica para fazer os iPhones para si mesma segundo as suas especificações.
Quanta a não saberes o preço de importação é certamente verdade, mas existe uma catrefada de especialistas que deverão saber bem mais – daí o exemplo que dei da UBS, onde fica claro que o impacto das tarifas no preço final é metade daquele que queres fazer crer.
Quanto a achares que o preço de importação do iPhone deve rondar o preço do iPhone sem o VAT, é uma ideia sem ligação à realidade.
É sobejamente conhecido que Apple tem margens grandes de lucro na venda dos seus produtos, como tal o valor de importação para o país onde tem a sua sede fiscal nunca poderá estar perto do valor de venda final.
A Apple apresenta nos seus resultados trimestrais as margens brutas de lucro na venda de hardware. Nos últimos resultados rondava os 36% – esta margem engloba todos os custos associados à venda dos produtos, de modo que a margem face ao custo de importação é ainda maior
Com uma taxa alfandegária de 25%, saber quanto é que vai subir o preço dos iPhones nos EUA não é muito relevante, porque o aumento é diluído no preço mensal das assinaturas.
O que importa é que sai sempre muito mais barato do que se a produção/montagem passasse a ser feita nos EUA.
Por isso, a história do aumento das tarifas trazer a sua produção para os EUA é um disparate.
Sim isso não há dúvida. É mais barato fazer forra, importar e pagar as tarifas do que o fabricar lá. Mas., mesmo assim, duvido que Trump mantenha estas tarifas à Apple ou a outras empresas americanas. Só o número de postos de trabalho que a Apple mantém nos EUA desde a logística, pós-venda e lojas físicas… são milhares de pessoas que Trump não quer que sejam afetadas. Trump é apenas um fanfarrão.
Uma coisa é certa – tem que ir buscar dinheiro a outros impostos, como as taxas aduaneiras, para compensar a perda de receita daqueles que baixou.
Isentar os iPhones (e outros smartphones e certos produtos eletrónicos) fazia sentido quando as taxas aduaneiras sobre produtos da China estavam em 145% (20% da taxa fentanil + 125% das tarifas recíprocas do “dia da libertação”, que tinham começado em 34% mas sofreram sucessivas penalizações à medida que a China aumentava as suas). Em maio, com duração até agosto, os dois suspenderam mutuamente as suas taxas em 125% – a dos EUA ficou em 30% (continuando altas) e as da China em 10%. Continuar a deixar isentos os iPhones (e outros smartphones) dava muito nas vistas, tanto mais que a Apple não tem qualquer intenção de os fabricar nos EUA.
Isto das tarifas… como iremos ver daqui a meio ano, não vai passar de um esquema para os parceiros comerciais “enganarem” Trump com promessas. E na prática será a montanha a parir um rato. Mas… vamos ver os estragos que fará.
Não acontece porque há falta de mão-de-obra. Puro e Simples.
O problema da falta de mão-de-obra os capitalistas aqui resolvem-no (com a ajuda do PS, que está a pagar caro por isso, e do PSD ,que ainda não está mas vai pagar) com a importação massiva de migrantes. Dessa forma estão a repovoar o exército industrial de reserva, partem a espinha aos sindicatos e conseguem gado humano a preços de dumping com aquela frase maravilhosa do “vês ali aqueles todos à espera do teu lugar?”. O trump até ver fez precisamente o contrário, mas se os capitalistas lhe mandarem ele faz já uma viragem de 180 graus.
nenhum partido português (sem ser os extremistas ao cubo) iria aprovar trabalho infantil lol
Aprovar trabalho infantil aqui é inútil, já quase não há crianças. Os portugueses não ganham para se sustentarem, quanto mais para criar filhos. É por isso que os dois partidos “moderados” em ideologia (e extremistas em corrupção) combinaram com os capitalistas o esquema da importação massiva de migrantes.
Nunca acontecera porque? A nokia fabricava na europa e era a melhor marca de telemoveis do mundo.
um telemóvel da Nokia não tinha comparação com o nível de complexidade e escala de produção dum smartphone actual (basta olhar para os preços), sendo que até a Nokia tinha fábricas na China.
Tenta imaginar onde é que nos Estados Unidos, é que a Apple iria conseguir arranjar 50 000 operários temporários disponíveis para fabricar iPhones para a época do Natal?
Vai ler o attigo outra vez. Está lá explicado, ponto pot ponto, quais as razões e todas são pertinentes e objetivas.
Este senhor e os EUA, com este senhor à frente do seu destino, vão ter um final trágico.
A culpa não é só dele. O capitalismo neoliberal tem tudo para acabar num final trágico. A primeira fase é o caos e alucinação colectiva a eleger personagens destas.
Em todas as notícias, na parte dos comentários aparece sempre um Max, será a mesma pessoa que dantes era o Aves? Seja quem for que esteja por detrás, além de ser chato e cansativo, deve ser uma pessoa solitária.
Aves, sandokan, tipicos anormais daqui
Porque é que o Trump não faz como a UE? Impostos e mais impostos e está resolvido.
Isto mostra o grau de dependência que temos da China e não foi nada de mais, foi deixa-los a vontade, aproveitar preços baixos e deixa-los produzir. Agora, mesmo que se diga que e’ impossível o ocidente fabricar, não, e’ possível! Temos a nosso favor a IA, fabricas automatizadas e tudo o mais, assim queimando etapas e’ possível produzir no ocidente. Não e’ pelo Trump, e’ mais um louco que vai pagar caro o que anda a fazer sem pensar.
“Temos” é um modo de dizer. A Apple passou parte da produção de iPhones para a Índia e garantiu que a maior parte dos iPhones vendidos nos EUA viriam de lá. Quanto a “temos as fábricas automatizadas” … não temos. Quanto ao “ocidente” … há vários. “Oriente” também.
Expliquem-me uma coisa.
Seria válido eliminar os impostos sobre os telemóveis, mantendo apenas as taxas de importação?
Assim já não seria grave terem os 25% à entrana.