Rochas roxas em Marte intrigam cientistas
Se Marte é frequentemente chamado de planeta vermelho, então terá só elementos dessa cor? Não, claro que não, no solo existem elementos de várias cores, apesar do próprio planeta ter um aspeto vermelho aos telescópios e a superfície estar coberta por poeira avermelhada, conforme mostram as sondas que já lá pousaram. Aliás, foi mesmo um desses robôs, o Perseverance, que descobriu alguns pontos de cor adicionais que deixaram os cientistas intrigados.
Podemos pensar que já se conhece bem Marte, mas não, ainda há muito para explicar. As rochas roxas são disso um exemplo.
Na reunião anual da União Geofísica Americana em Nova Orleans, a geoquímica Ann Ollila falou de rochas roxas em Marte, e a National Geographic mais tarde também falou no assunto. O rover avistou a coloração roxa nas rochas dentro da sua área de pouso, a Cratera Jezero.
Estas rochas de Marte têm manchas e revestimentos roxos incomuns
A NASA já tinha notado que a coloração roxa nas rochas existentes no local onde o rover Perserverance aterrou era comum. O rover viu estas manchas em praticamente todos os lugares para onde apontou a sua câmara. No entanto, a coloração varia um pouco.
Nalgumas rochas, parece um verniz liso. Noutras amostras é mais como gotas de tinta. O robô notou também que estas manchas apareciam em pedras de vários tamanhos, de pedregulhos maiores a pequenos seixos.
O rover Perseverance da NASA explora a Cratera Jezero desde fevereiro de 2021. Durante este período, várias rochas com potenciais revestimentos foram observadas. Os revestimentos rochosos podem registar as interações das superfícies rochosas com a atmosfera, regolito e água são alvos importantes para a compreensão das condições ambientais.
Explicou Ann Ollila à National Geographic.
Como é que este revestimento roxo se formou?
Não há ainda uma resposta. Os cientistas querem investigar mais para tentar descobrir a sua origem. Aliás, há várias manchas coloridas em certas rochas de Marte que ainda não foram explicadas e ainda poderão dar pistas importantes sobre o planeta.
Conforme refere a geoquímica, a descoberta destas rochas não é uma surpresa, mas é única.
Os cientistas espaciais já tinham visto revestimentos em rochas marcianas antes. Como tal, estes revestimentos roxos nas rochas da Cratera Jezero não são uma surpresa. Aliás, até mesmo a sonda Viking 1 avistou algumas manchas interessantes – neste caso, esverdeadas – em rochas próximas.
Marte: Perserverance coloca toda a sua tecnologia na investigação
Não é uma rocha qualquer e de facto os cientistas querem saber mais sobre esta coloração estranha, num planeta ainda ele muito desconhecido. Assim, a NASA usou o instrumento SuperCam para analisar os revestimentos com mais detalhe. O laser vaporiza um pequeno pedaço da rocha e transforma-o num pó que pode ser analisado.
Tudo pode ser importante para descobrir pistas quando se está a mais de 300 milhões de quilómetros da Terra. Até o microfone do rover ajuda a determinar coisas, como a dureza da rocha, quando capta o som do impacto do laser na superfície da rocha.
Foi exatamente este equipamento, a SuperCam, que mostrou aos cientistas que os revestimentos são enriquecidos em hidrogénio e às vezes em magnésio. Além disso, imagens do Mastcam-Z sugerem que eles também contêm óxidos de ferro. Tanto os óxidos de hidrogénio quanto os de ferro indicam que a água passada está envolvida na formação dos revestimentos.
Isso não deveria ser muito surpreendente, talvez, já que esta área na Cratera Jezero costumava ser um lago alguns mil milhões de anos. Nesse sentido, os revestimentos devem fornecer pistas valiosas sobre como eram as condições quando esta região já foi muito mais húmida.
Descobriu-se que estes revestimentos roxos são mais macios que as rochas subjacentes. Eles também são quimicamente distintos da própria rocha. Isso sugere que eles se formaram em cima das rochas já existentes, e os cientistas tentam investigar o processo específico que pode ter estado na origem destas manchas.
Terão sido os micróbios os responsáveis?
Um dos aspetos mais interessantes dessa investigação é que os revestimentos lembram os similares da Terra conhecidos como verniz do deserto. Em muitos deles, as cianobactérias ajudam a criar os folheados coloridos.
O microbiologista ambiental Chris Yeager em Los Alamos, que também estudou as rochas, disse à National Geographic que estes vernizes contêm bactérias resistentes à radiação.
Na Terra, estes vernizes do deserto atuam como uma espécie de protetor solar para ajudar a proteger os micróbios terrestres da radiação solar. Poderá acontecer o mesmo em Marte?
Claro que isto não quer dizer que estes vernizes encontrados pelos vários rovers e outras sondas não são uma prova da existência de vida. Mas estes resultados – como tantos outros em Marte – são tentadores.
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