O falhanço de 1969 que acabou por ser o “início” da Internet
A ideia era apenas transmitir uma palavra entre dois computadores. Só conseguiram enviar duas letras, mas o esforço é hoje considerado como o pontapé de saída para a criação da internet, tal como a conhecemos hoje. Conheça esta história fascinante.
LOGIN... alô, alguém desse lado?
A internet, tal como a conhecemos hoje, é uma rede global que conecta milhões de dispositivos e permite o fluxo contínuo de informações entre pessoas de todas as partes do mundo.
No entanto, o seu surgimento foi marcado por uma série de desafios e fracassos. Se hoje nos parece um sistema bem estabelecido e funcional, na sua origem foi uma experiência cheio de incertezas e tentativas falhadas. Curiosamente, um desses fracassos iniciais acabou por dar início ao que se tornaria a internet moderna.
É que a origem da internet, se assim podemos falar, remonta aos anos 1960, quando os Estados Unidos da América e outros países desenvolviam sistemas de comunicação que pudessem sobreviver a eventuais ataques durante a Guerra Fria.
Nesse contexto, surgiu a ARPANET, uma rede financiada pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA (DARPA). O objetivo da ARPANET era ligar várias universidades e centros de pesquisa de forma que pudessem partilhar recursos e dados científicos. Tratava-se de uma tentativa de descentralizar a comunicação e tornar os sistemas mais resilientes a falhas, especialmente em caso de guerra nuclear.
A comunicação que ficou a meio
Em 29 de outubro de 1969, uma data que ficaria marcada na história, foi então realizada a primeira tentativa de comunicação entre dois computadores, um localizado na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e o outro no Instituto de Pesquisa de Stanford.
A ideia era simples: enviar a palavra “LOGIN” de um computador para o outro. Mas o que parecia uma tarefa banal para os padrões atuais mostrou-se um grande desafio. Na época, a tecnologia era rudimentar e instável e as redes de comunicação eram muito diferentes das que conhecemos hoje.
Quando a equipa de engenheiros na UCLA começou a digitar a palavra “LOGIN”, aconteceu o inesperado: após enviar apenas as letras “L” e “O”, o sistema entrou em colapso e a conexão foi perdida. A palavra completa nunca chegou a ser transmitida com sucesso naquela tentativa.
Foi um momento frustrante para os envolvidos, mas acabou por ser também um momento histórico. Esse "fracasso" na comunicação entre dois computadores foi, na realidade, o primeiro passo na criação da internet.
A razão pela qual este fracasso é tão importante reside no facto de ter sido a primeira tentativa de estabelecer uma rede de comunicação entre computadores geograficamente distantes. A incapacidade inicial de concluir a transmissão não desanimou os engenheiros e cientistas envolvidos no projeto.
Pelo contrário, reforçou a necessidade de aperfeiçoar o sistema e encontrar formas de superar as limitações da tecnologia da época. O episódio ilustra bem o espírito inovador e resiliente que marcou o desenvolvimento da internet: mesmo com as falhas, havia um propósito maior e a determinação em fazer com que o sistema funcionasse.
Tentativa e erro
A ARPANET continuou a ser desenvolvida e, aos poucos, outros centros de pesquisa e universidades foram adicionados à rede. As falhas iniciais tornaram-se fontes de aprendizagem e motivaram a criação de protocolos de comunicação mais robustos.
Foi durante esse processo de tentativa e erro que surgiram protocolos fundamentais, como o Transmission Control Protocol (TCP) e o Internet Protocol (IP), que formam a base das comunicações online até hoje.
No início dos anos 1970, a ARPANET já permitia a troca de informações entre vários locais nos Estados Unidos, mas ainda estava longe do conceito moderno de internet. Foi só na década de 1980 que a ARPANET evoluiu para algo mais próximo da internet atual, com a adição de redes de outras áreas e o desenvolvimento de protocolos de interligação.
Em 1983, o TCP/IP foi oficialmente adotado como o padrão para a ARPANET, permitindo a criação de uma “rede de redes” que se expandiu globalmente. Com essa adoção, qualquer rede que utilizasse o mesmo protocolo podia conectar-se à ARPANET, criando assim uma infraestrutura global.
Este sistema continuou a crescer e, eventualmente, ultrapassou as suas origens militares e científicas, sendo aberto para usos comerciais e pessoais nos anos 1990. Com a criação da World Wide Web por Tim Berners-Lee, em 1989, a internet ganhou um rosto mais acessível, permitindo que qualquer pessoa pudesse navegar, procurar e partilhar informações. O que começou com uma tentativa falhada de enviar uma palavra entre dois computadores tornou-se na base da comunicação global que hoje conhecemos.
Quando os engenheiros de 1969 tentaram, sem sucesso, enviar uma palavra simples, mal sabiam que estavam a lançar as bases para uma revolução tecnológica sem precedentes.