“Cocientista” de IA da Google resolve problema de 10 anos em apenas 2 dias
A mais recente ferramenta de inteligência artificial (IA) da Google conseguiu resolver, em apenas dois dias, um problema que cientistas levaram uma década a decifrar.
10 anos de investigação resolvidos em apenas 2 dias
José Penadés, professor de microbiologia no Imperial College London, e a sua equipa passaram 10 anos a investigar de que forma certas superbactérias desenvolvem resistência a antibióticos - um fenómeno alarmante que representa uma ameaça crescente à saúde global, e que causa milhões de mortes anualmente.
Contudo, quando os investigadores colocaram esta questão à ferramenta de IA da Google, conhecida como "cocientista", receberam uma resposta surpreendente. Em apenas dois dias, a IA chegou à mesma conclusão a que os cientistas tinham chegado após anos de trabalho. E, na altura, os resultados da equipa ainda não tinham sido publicados.
Penadés chegou até a contactar a Google para confirmar se a empresa teria tido acesso antecipado à sua investigação. A resposta foi negativa. Os investigadores publicaram posteriormente os seus resultados a 19 de fevereiro na plataforma bioRxiv, embora ainda não tenham sido sujeitos a revisão.
Os nossos resultados demonstram que a IA tem o potencial de sintetizar todas as evidências disponíveis e orientar-nos para as questões e experiências mais relevantes.
Se este sistema funcionar conforme esperamos, pode mudar radicalmente a investigação científica, ajudando-nos a evitar becos sem saída e a acelerar o progresso a um ritmo extraordinário.
Afirmou Tiago Dias da Costa, coautor do estudo e docente de patogénese bacteriana no Imperial College London.
A utilização de IA no combate às superbactérias
A resistência antimicrobiana (RAM) ocorre quando microrganismos infeciosos - como bactérias, vírus, fungos e parasitas - desenvolvem resistência aos medicamentos, tornando os tratamentos ineficazes. Considerada uma "pandemia silenciosa", a RAM é um dos maiores desafios sanitários da atualidade, agravada pelo uso excessivo de antibióticos na medicina e na agricultura.
Segundo um relatório de 2019 dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, originalmente) dos EUA, as bactérias resistentes a medicamentos causaram pelo menos 1,27 milhões de mortes a nível global nesse ano.
Para investigar o problema, Penadés e a sua equipa procuraram compreender como um tipo específico de superbactéria - uma família de vírus que infetam bactérias, conhecidos originalmente como capsid-forming phage-inducible chromosomal islands (cf-PICIs) - consegue infetar diversas espécies bacterianas.
Os cientistas formularam a hipótese de que esses vírus adquiriram essa capacidade ao incorporar caudas de outros vírus bacteriófagos. Essas caudas são estruturas essenciais para a injeção do material genético viral na célula hospedeira. Os testes laboratoriais confirmaram a teoria.
Antes de divulgar os resultados, a equipa colocou esta mesma questão à IA da Google. Em dois dias, o sistema gerou diversas sugestões, incluindo aquela que correspondia exatamente à conclusão dos investigadores.
Isto significa que o algoritmo conseguiu analisar as evidências disponíveis, avaliar as possibilidades, formular perguntas, sugerir experiências e chegar à mesma hipótese que nós desenvolvemos através de anos de investigação intensiva, mas num período incrivelmente curto.
Explicou Penadés.
Os investigadores salientaram que a utilização da IA desde o início do processo não teria eliminado a necessidade de realizar experiências, mas teria permitido formular a hipótese correta muito mais rapidamente.
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“Brilhantes cientistas”, enfim… O que vê é que a IA é melhor que nada. Venha de lá a IA mas em força.
sim sim
Boa
O que surpreende aqui é a surpresa do cientista. Bem, se isto contribuir para colocar a IA no centro de toda e qualquer investigação, já ganhamos qq coisa.
O que? Posso estar enganado, mas até onde sei, a pressão de selecção já está bem estudada e descrita desde que eu era criança
O que podemos verificar é que podemos ter novas possíveis soluções apresentadas pela IA em ciclos curtos de dias, mas será sempre necessária uma investigação de anos para provar se essas teorias são verdadeiras ou não e se as mesmas poderão ser aplicadas.
É extraordinário. A IA veio para mudar o mundo, quer se queira, quer não.
Resolveu um problema e criou outros 10.