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Como é viver com um Lumia em 2019? A degradação lenta do Windows 10 Mobile…

Palavras como Lumia, Windows Phone, Nokia, Windows 10 Mobile, Cinemagraph, Live Tiles ou MixRadio provocam saudades junto de um conjunto de fãs e utilizadores que usaram (será que ainda alguém usa?) o sistema operativo móvel da Microsoft.

Eu fui um desses utilizadores, tendo tido vários equipamentos com este sistema operativo desde 2013. Apesar de no ano passado ter rumado ao Android, nos últimos meses voltei a usar o Microsoft Lumia 650. Partilho agora a minha experiência e uma retrospetiva sobre o Windows 10 Mobile.


Desde o lançamento do Windows Phone 7, foram milhões os utilizadores que aderiram ao sistema operativo móvel da Microsoft. Algo que o Windows Phone teve de particular foi a sua capacidade de ser usado por públicos distintos: muitos utilizadores deram o salto de um telemóvel básico da Nokia para um Lumia, ao passo que havia um conjunto de utilizadores que encontravam no Windows Phone um terminal para complementar o seu computador, uma verdadeira máquina de trabalho e produtividade.

Má gestão levou ao insucesso do Windows nos smartphones

O principal motivo do insucesso do Windows Phone foi má gestão por parte da Microsoft. Apesar de as OEM e especialmente os desenvolvedores de apps – com o famoso app gap – terem a sua quota de influência, a Microsoft teve momentos em que aparentava não ter um rumo definido para o seu sistema operativo móvel.

Tal foi desencadeado também pela mudança de CEO na empresa de Redmond, de Steve Ballmer para Satya Nadella, em 2014. A postura de Nadella era bastante diferente da de Ballmer, o que levou a uma mudança na filosofia da Microsoft. Passou a ser dada mais importância aos serviços, a Microsoft agora é uma empresa “cool” que suporta os sistemas operativos dos concorrentes. Inclusivamente, a Microsoft agora ama o Linux!

Nesta “Nova Microsoft”, o Windows 10 Mobile não fazia sentido. Era um segmento que dava prejuízo à empresa de Redmond e não estava a evoluir na sua quota de mercado. Esta realidade foi crucial para a Microsoft deixar de desenvolver o Windows 10 Mobile e passar a dar mais primazia aos concorrentes, disponibilizando todos os seus serviços no Android e iOS, inclusivamente o Microsoft Launcher.

Há vários fatores que tiveram muito impacto no desfecho do sistema operativo móvel da Microsoft. A transição entre as várias versões do Windows Phone e Windows Mobile não foram pacíficas: equipamentos que não puderam ser atualizados, quando a Microsoft tinha afirmado que todos os equipamentos com Windows Phone 8.1 íam receber o Windows 10 Mobile. Na transição do Windows Phone 7 para o Windows Phone 8 aconteceu algo muito idêntico. Para além disso, para instalar o Windows 10 Mobile não bastava ir às definições e instalar a atualização como seria de esperar… Era necessário instalar uma app e autorizar a atualização a partir daí. Ora, muitos utilizadores não estavam informados acerca disto e por isso nunca instalaram o Windows 10 Mobile nos seus terminais.

Talvez esta falta de organização e foco dentro da própria Microsoft tenha sido um dos motivos que levaram os desenvolvedores de aplicações a nunca investir tanto no Windows Phone como o faziam no Android e iOS. Neste quesito, a Microsoft disponibilizou diversas ferramentas, criou programas de incentivos ao desenvolvimento para Windows, mas tal nunca foi suficiente. De facto este foi, muito provavelmente, o fator que “mais matou” o Windows 10 Mobile: a quantidade e qualidade das apps que constam na Microsoft Store.

O legado do Windows 10 Mobile

O que mais se destaca no Windows 10 Mobile, e nas versões anteriores do Windows Phone, é a sua “intuitividade” e o design único. Estava algo à frente do seu tempo no que toca à interação com o utilizador… Todos os utilizadores relembram as Live Tiles e de que forma eram bem mais úteis e amigáveis que os ícones estáticos do iOS ou os widgets do Android. O nível de personalização concedia aos utilizadores a liberdade de adequar o Windows ao seu gosto, algo ao nível do Android que também é altamente costumizável.

A própria UX, muito à base de gestos e menus deslizantes, permite visualizar características que chegaram ao Android depois de estarem implementadas no Windows Phone.

O impacto da Nokia no Windows Phone

A Nokia foi, sem dúvida, a grande impulsionadora do Windows Phone. Grande parte dos smartphones Windows eram Nokia e esta trouxe diversas aplicações de excelência para este sistema operativo. A suite Here tinha funcionalidades excelentes e, à data, devia ser a melhor suite de navegação disponível para smartphones.

Outro campo no qual a Nokia se destacou, foi a fotografia: Cinemagraph, Lumia Creative Studio, Lumia Camera fazem deslumbrar os amantes da fotografia. Os algoritmos usados nestas aplicações eram muito bons, dando aos Lumia a fama de terem das melhores câmaras do mercado, onde também recorreram à tecnologia PureView e às lentes Carl Zeiss.

Para além do excelente software que a Nokia desenvolvia para Windows Phone, os seus terminais eram de excelente qualidade. Muitas vezes não primoravam no design, com muitos telemóveis a recorrer ao policarbonato quando os iPhone e a concorrência no Android usava materiais mais luxuosos na sua contrução. Contudo, os Nokia Lumia eram equipamentos que duravam bastante tempo e com muita resistência a uso intensivo.

Surface Phone, o D. Sebastião dos tempos modernos

Com a decadência do Windows 10 Mobile, começaram a circular rumores que davam conta do Surface Phone que prometia revolucionar o conceito de smartphone e beber muita inspiração do Nokia McLaren e do Courrier.

Tal nunca se veio a realizar e, assim, o último smartphone lançado pela Microsoft foi o Lumia 650 que chegou a Portugal em março de 2016.

A minha experiência com o Windows 10 Mobile em 2019

Sou proprietário de um Microsoft Lumia 650 que utilizei desde o seu lançamento até 2018. Posteriormente passei a usar o Windows 10 Mobile em momentos esporádicos, mas nos últimos meses decidi voltar para ver como estava a plataforma móvel da Microsoft… E a degradação é evidente.

O Windows 10 Mobile nunca foi tão otimizado e fluído quanto o Windows Phone 8.1, que tinha nestas características um dos seus maiores trunfos. Apesar de o Microsoft Lumia 650 ter sido desenvolvido tendo em vista o Windows 10 Mobile, o seu desempenho nunca deslumbrou. Os ecrãs “A carregar…” e “A retomar…” são uma constante, beliscando muita da produtividade característica deste sistema operativo. Acredito que no Microsoft Lumia 950, o último topo de gama da Microsoft, a experiência seja bem diferente.

A somar a isto, as apps são cada vez menos e piores, o desenvolvimento está praticamente estagnado. O Facebook, Messenger e Instagram deixaram recentemente de funcionar, ao passo que o WhatsApp irá manter o suporte até ao final de 2019. Deste modo, é cada vez mais difícil usar um smartphone Windows porque começam a faltar serviços básicos. Pelo menos os serviços e aplicações da Microsoft funcionam perfeitamente, pelo que ainda é possível tirar algum partido do Windows 10 Mobile.

O ciclo de vida do Windows 10 Mobile está a terminar. O suporte termina no próximo mês de dezembro e a partir daí deixará de receber atualizações cumulativas e de segurança. O suporte das aplicações também irá decrescer ainda mais a partir desse momento. Não será sustentável usar um smartphone Windows.

Assim sendo, estamos definitivamente a chegar ao fim. O Windows Phone e Windows 10 Mobile tiveram um impacto enorme na Microsoft e ficarão para sempre como um dos seus melhores produtos… Mas que fracassou. A Microsoft é hoje uma empresa mais organizada e mais convicta nos seus investimentos. Em 2017 foi anunciado o fim do desenvolvimento, em 2019 é marcado o fim do suporte… Adeus, Windows 10 Mobile!

Android como alternativa ao Windows 10 Mobile

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