Projeto da China pode ser uma das chaves para decifrar a origem do Universo
O futuro da ciência poderá estar escondido nas profundezas da Terra. A China está a ultimar a construção de um dispositivo subterrâneo (localizado a mais de 700 metros da superfície da Terra) que pode dar algumas explicações definitivas sobre as origens do universo.
China: JUNO tem 45.000 tubos fotomultiplicadores
Na incessante busca por respostas sobre os mistérios da formação do universo, cientistas chineses estão a desenvolver um projeto ambicioso: um dispositivo subterrâneo com o objetivo de estudar partículas subatómicas que podem revelar segredos fundamentais da origem do cosmos. Localizado a mais de 700 metros abaixo da superfície da Terra, este equipamento inovador procura desvendar interações invisíveis que remontam aos primeiros momentos após o Big Bang.
O Jiangmen Underground Neutrino Observatory ou, em português Observatório Subterrâneo de Neutrinos, (JUNO) é um dispositivo que está a ser construído em local estratégico no interior da China, em Kaiping, protegido por centenas de metros de rocha que atuam como um escudo natural contra a radiação cósmica de superfície.
Esta profundidade é essencial para garantir medições precisas e isoladas, já que partículas como os neutrinos — foco central da investigação — são extremamente difíceis de detetar.
Os neutrinos são partículas subatómicas sem carga elétrica e com uma massa incrivelmente pequena, atravessando a matéria praticamente sem interagir com ela. A sua origem está associada a eventos cósmicos de alta energia, como explosões estelares e reações nucleares no interior das estrelas. Devido à sua abundância e ao papel crucial no universo primitivo, compreender o comportamento dos neutrinos pode ser a chave para decifrar como o universo se formou e evoluiu.
O porquê do “detetor” subterrâneo
Na superfície da Terra, a radiação cósmica e outras partículas interferem com a deteção de neutrinos e fenómenos subatómicos. Colocar este detetor a grandes profundidades permite filtrar a "poluição" de partículas mais comuns e focar apenas nas interações extremamente raras dos neutrinos. Esta abordagem já foi utilizada em projetos semelhantes, como o Super-Kamiokande no Japão e o Sudbury Neutrino Observatory no Canadá.
No caso do detetor chinês, os cientistas esperam não apenas registar a passagem dos neutrinos, mas também compreender a sua oscilação — um fenómeno que descreve como os neutrinos mudam entre diferentes "sabores" ou tipos (eletrónico, muónico e tauónico) à medida que viajam. Esta informação pode fornecer dados valiosos sobre as propriedades fundamentais da matéria e a estrutura do universo.
Competição científica
Este projeto coloca a China na vanguarda da investigação de física de partículas, uma área onde países como os Estados Unidos, Japão e membros da União Europeia têm liderado há décadas. O investimento chinês na construção deste dispositivo reflete o compromisso em posicionar o país como um líder global na investigação científica de ponta.
Além de contribuir para a compreensão dos neutrinos, o detetor poderá explorar outros fenómenos, como a matéria escura — uma das substâncias mais enigmáticas do universo, cuja presença é inferida pelos seus efeitos gravitacionais, mas que nunca foi observada diretamente.
Ou isso ou outra coisa que depois se verá
Tenho 65 anos de idade, quando era criança ouvia muitas vezes uma professia:”quando a China se levantar, o mundo tremerá”, pensei que eram coisas para um futuro muito longínquo e que provavelmente eu não assistiria a algo como isso. Estava enganado, esse futuro é agora, a China está a tornar-se, subtilmente, na maior potência mundial. Este é só mais um passo.