Análise Past Cure (Playstation 4)
Ocasionalmente, todos nós temos pesadelos e todos nós já passámos pela sensação de acordar de manhã e perceber que aquele sonho tão real e tão terrível tinha sido apenas isso mesmo, um sonho. Mas e se esses sonhos fossem tão reais que fossem indistinguíveis da realidade? E se quando acordássemos, se mantivesse a sensação de que estávamos a viver um sonho?
É assim que se sente Ian, o protagonista de Past Cure, o primeiro jogo do estúdio independente alemão Phantom 8 que já se encontra disponível para Playstation 4, Xbox One e PC. Vamos saber um pouco mais sobre este jogo.
Ian não tem memória de um longo período da sua vida. Para ser mais exato, Ian esqueceu completamente um período de 3 anos e tudo isso se deve às experiências científicas a que foi submetido e que visavam aumentar as suas capacidades mentais para patamares sobre-humanos.
É esta a premissa inicial de Past Cure, o primeiro jogo do estúdio Phantom 8 e que chegou às consolas no passado mês de Fevereiro. Neste jogo, teremos de ajudar Ian a desvendar essa parte perdida do seu passado, entrando bem fundo no seu subconsciente ao ponto de vivermos os seus sonhos – ou pesadelos.
O enredo do jogo está rodeado de mistério mas o que mais nos agrada é, sem dúvida, a maneira como o mesmo se desenrola. Os distúrbios mentais do protagonista, os seus pesadelos e as suas alucinações cada vez mais reais desempenham um papel muitíssimo importante durante todo o jogo. A narrativa é soberba e a forma como a história vai sendo contada faz-nos pensar que, na realidade, foram investidas muitas horas apenas a trabalhar esse aspeto do jogo.
Contudo, o nosso objetivo não é de todo claro e, em muitos momentos, sentimos-nos perdidos e sem perceber muito bem do que estamos à procura. Logo no início do jogo – e como é comum a muitos jogos – temos à disposição um pequeno tutorial que nos irá instruir sobre a mecânica de Past Cure. Eu utilizei o termo “pequeno” mas isso é algo que o tutorial não é; é maior do que em grande parte dos jogos e a verdade é que – a determinada altura – deixamos de conseguir perceber se já estamos a jogar (ou não) e se tudo aquilo nos vai levar a algum lado.
Este facto também pode ser encarado de forma positiva: toda a nossa confusão se deve à forma como este “treino” foi introduzido no jogo. Quando Ian adormece, somos transportados para dentro do seu pesadelo e é nesse ponto que a ação do tutorial tem início. Assim, e se por um lado sentimos alguma impaciência por nunca mais irmos para o jogo propriamente dito, por outro acabamos por não notar uma quebra: o tutorial acaba por ser parte integrante da ação do jogo.
Infelizmente, aquilo que poderia ser um jogo extremamente interessante começou, à medida que íamos progredindo, a revelar-se como um jogo um pouco frustrante sob vários aspetos.
Começando pelo aspeto gráfico. Não é que os gráficos do jogo sejam maus, mas a um jogo destinado a consolas de última geração era pedido muito mais do que aquilo que Past Cure nos oferece. Situações em que os nossos adversários ficam com partes do corpo dentro das paredes ou a ausência de qualquer sinal de impacto de uma bala quando atingimos alguém a tiro não é algo a que ainda estejamos habituados. Para uma consola como a Playstation 2, estes gráficos seriam excelentes mas estamos a falar da uma Playstation 4.
O que ainda consegue, de certa forma, salvar o aspeto gráfico do jogo são as cenas cinematográficas, que estão bastante boas. Já o som, embora tenha qualidade, peca por ser frequente existir um claro desfasamento entre os movimentos da boca dos personagens e o som que é emitido.
A jogabilidade, regra geral, achei-a bastante interessante. Os poderes sobrenaturais conferidos a Ian são, para além de bastante úteis, extremamente fáceis de utilizar e dominar. Um desses poderes especiais consiste na capacidade de Ian fazer uma espécie de “projecção astral”, como se o seu espírito abandonasse o corpo e vagueasse livremente – mas não de forma ilimitada. Isto é bastante útil para, por exemplo, desligar câmaras de vigilância ou para conseguirmos ter uma visão mais abrangente do que nos rodeia.
A outra característica especial que é conferida a Ian é a de conseguir desacelerar o tempo à sua volta. Isto dá-lhe uma vantagem enorme quando precisa de circular sem ser visto: parando o tempo à sua volta e conseguindo continuar a deslocar-se a uma velocidade normal, Ian consegue iludir os adversários mais atentos.
Ainda assim, é necessário ter algum cuidado na utilização destes poderes pois eles dependem da sanidade mental de Ian, que vai ficando cada vez mais débil a cada utilização. Felizmente é possível repor a sua estabilidade tomando alguns comprimidos que podemos encontrar dispersos no cenário.
Há, contudo, alguns aspetos que necessitam de ser limados. Exemplo disso é a extraordinária capacidade que os nossos adversários têm para nos conseguirem localizar: existem situações nas quais ficamos com a nítida impressão que algo não está bem. Não é muito plausível que um guarda armado nos consiga detetar se estivermos escondidos num canto de uma garagem mal iluminada ou atrás de uma parede de cimento.
Uma última palavra tem de ser dirigida à história e à forma como todo este mistério é desvendado. Apesar de nos agradar bastante a forma como a história se desenrola, fica a impressão de que o ritmo da narrativa é frequentemente desacelerado para estender o tempo de jogo. Além disso, e apesar de muitos aspetos deste mistério terem sido desvendados, a verdade é que – em muitos outros – o jogo deixou-nos com mais perguntas do que respostas.
Veredicto
No geral, Past Cure é um jogo razoável e uma estreia interessante para um estúdio independente. Com um enredo aliciante, somos levados a começar o jogo e a querer saber mais sobre o mistério que rodeia Ian. Mas se logo desde o início sentimos que não estamos a avançar grande coisa, a maior frustração chega-nos no final, quando vemos que questões que foram sendo levantadas ao longo do jogo não estão a ser desvendadas. Apesar de se compreender o facto de este não ser um blockbuster nem um produto de uma grande editora, há que ter (muito) mais atenção aos detalhes gráficos: embora as cenas cinematográficas estejam bastante boas, há situações em que julgamos estar a jogar numa PS2.
Um bom jogo que entretém mas que não é um clássico do género.
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