Trabalho de moderar publicações do Facebook obriga a assistir às maiores crueldades
Começamos por referir que a leitura é perturbadora, as pessoas mais sensíveis não devem ler este artigo. O relato parte de um ex-funcionário da Meta que tinha o trabalho de ver os vídeos publicados no Facebook para moderar se podiam ou não ser publicados da rede. As mortes, os crimes que viu, tiraram-lhe a humanidade, tornaram-no doente fruto do que foi obrigado a assistir.
Facebook: Moderadores assistem a imagens de mortes do mais cruel que há na humanidade
Não é um trabalho de sonho, seguramente que, pelo relato, é um pesadelo para a vida toda. Nos bastidores do Facebook, milhares de moderadores protegem os utilizadores de conteúdos gráficos, filtrando as mensagens que violam as suas regras. A BBC falou com um moderador baseado no Quénia, que está a intentar uma ação judicial contra a empresa-mãe Meta.
No seu primeiro dia de trabalho a filtrar mensagens, o sul-africano Trevin Brownie, de vinte e poucos anos, viu um homem suicidar-se.
O problema não era [tirar a própria vida]. O problema era o miúdo de três anos que estava no vídeo com este homem. O menino estava a brincar no chão com os brinquedos, sem perceber o que estava a acontecer.
Foram precisos dois ou três minutos para que a criança se apercebesse de que algo estava errado e chamasse pelo pai. Começou então a chorar. Por fim, um adulto entrou na sala e a gravação foi interrompida.
Somos obrigados a ver pornografia infantil, zoofilia, necrofilia, violência contra pessoas, violência contra animais, violações. Como utilizador, a pessoa não vê coisas destas no Facebook. É meu trabalho, como moderador, garantir que a pessoa não veja coisas como estas.
A pessoa chega a um ponto, depois de ter visto 100 decapitações, em que começa a torcer para que a próxima seja mais horrível. É um tipo de vício.
Relatou Trevin Brownie, ex-funcionário do Facebook
Senti-me mal. Vomitava porque não percebia porque é que as pessoas faziam coisas daquelas.
Referiu ainda o jovem moderador.
Se imaginarmos o que por vezes ainda se pode ver, antes da remoção (que não é nada de especial em comparação com o pior que deve lá ser colocado) percebemos que o ser humano é capaz de tudo.
Há coisas que se veem nas redes sociais que nunca mais se esquecem
O sul-africano relata que no decurso seu trabalho viu o pior da humanidade - desde o abuso de crianças à tortura e aos ataques bombistas suicidas.
A sua experiência, acredita ele, amorteceu os seus sentimentos. O tremor na sua voz e a sua simpatia sugerem que ainda se preocupa profundamente com os outros, mas Brownie acredita que parte da sua humanidade desapareceu.
Porque estou basicamente muito habituado à morte e a ver a morte. Tornou-se uma normalidade para mim.
Conta o ex-funcionário do Facebook salientando que as mortes já não o afetam como ele acha que deviam.
Para este trabalhador, o seu trabalho de moderação é como se fosse uma defesa ao utilizador, uma espécie de proteção ao ser humano e à sua sanidade mental. A sociedade de hoje vive e consome conteúdos online e são moldados por esses conteúdos. Durante a pandemia esses conteúdos moldaram o ser humano, muitos foram tolhidos pelas falsas notícias e morreram.
Em janeiro, o principal centro de moderação do Facebook na África Oriental, operado por uma empresa chamada Sama, anunciou que deixaria de fornecer serviços de revisão de conteúdos a empresas de redes sociais. Nos meses seguintes a empresa despediu 260 moderadores, incluindo Brownie, concentrando-se no trabalho de descrição de vídeos para ajudar a treinar sistemas de visão computacional de inteligência artificial.
Ação judicial contra a Meta
Trevin Brownie faz parte de um grupo de 184 moderadores, apoiados pelo grupo de campanha Foxglove, que estão a intentar uma ação judicial contra a Meta, a empresa-mãe do Facebook, a Sama, e o novo contratante da Meta, a empresa luxemburguesa Majorel.
A Meta tem procurado livrar-se da ação, mas uma decisão de abril passado dá conta que pode ser processada por rescisão injusta. Uma decisão provisória contra a Meta e a Sama já significa que os contratos dos moderadores não podem ser rescindidos e que devem continuar a ser pagos até que o caso seja decidido.
Os moderadores afirmam que foram despedidos em retaliação por terem apresentado queixas sobre as condições de trabalho e por terem tentado formar um sindicato. Alegam ainda que foram injustamente discriminados e que lhes foi recusado trabalho na Majorel "com base no facto de terem trabalhado anteriormente nas instalações [da Sama]", lê-se na petição apresentada ao tribunal.
Mensagens de texto partilhadas com a equipa jurídica dos moderadores, e vistas pela BBC, mostram que os moderadores interessados em candidatar-se a um emprego na Majorel foram informados por um recrutador externo de que: "A empresa não aceita candidatos da Sama. É um não absoluto".
A Meta recusou-se a comentar, invocando a continuação da ação judicial. Mas a empresa exige que os seus contratantes forneçam apoio permanente no local, com profissionais formados, e acesso a cuidados de saúde privados desde o primeiro dia de trabalho.
Este artigo tem mais de um ano
Eu nem consigo imaginar pelo que este homem passou.Por tudo aquilo que viu.Só uma pessoa com muito sangue frio consegue passar pelo sofrimento que ele passou.Ele viu todo o podre do ser humano.
A malta assídua do Bestgore fazia isto com uma perna às costas.
A empresa e serviço de espionagem «Facebook» é uma organização terrorista, assim como os demais derivados ligados à mesma.
Eu um dia vi um vídeo gore no Reddit, depois desejei não o ter visto. Nunca mais me saiu da cabeça aquelas imagens. Sinceramente, deveriam banir completamente este tipo de conteúdo.
Tenho uma experiência parecida. Nunca mais me saiu da cabeça. Imagino este senhor 🙁
Pois mas para o banir alguém tem de o ver primeiro…
Não invejo o trabalho desse homem, é preciso muito estofo para o fazer.
É aí que a IA (deveria) entrar. Para não sermos nós a ver isto.
Banir nao mas colocaram avisos. Banir so resulta numa coisa, ignorancia pq depois andam as pessoas por ai a pensar que todo o mundo e fantastico, bondoso e maravilhoso!
As pessoas pensam que as redes sociais e, no geral a internet, são um mar de rosas e só trazem coisas positivas. Relativamente à internet é verdade, tem muitas coisas positivas, mas as redes sociais não são uma delas, na minha modesta opinião. Para que possamos usufruir desses serviços não só estamos sujeitos a espionagem para venderem os nossos dados para publicidade, como também é necessário que algumas pessoas desgracem a sua vida a moderar conteúdo, a troco de tostões. Pessoalmente, nunca mais utilizei redes sociais faz anos, faz alguns anos, porque elas permitem o pior da humanidade. E as empresas, em vez de reconhecerem que pelo menos estes trabalhadores se sacrificam para que o seu serviço funcionem, não… ainda os despedem sem pagar nada… nojento!
( https://www.codastory.com/authoritarian-tech/amazon-workers-surveillance/ )
…
Não falem em “este senhor” mas sim nos milhares que diariamente efetuam este trabalho! Sim, milhares, em todo o mundo, que diariamente, 24/24 tem como função filtrar o que passa para as redes sociais. Inclusive em Portugal, existem algumas centenas e sei, porque tenho familiar a desempenhar esta função. Eu não o faria, preferia qualquer outro trabalho!
Querem dinheiro fácil com o traseiro na cadeirinha.
Ora bem subentendendo que como diz o ditado
Tanto é ladrão o que rouba como o que fica a ver … , ou participação em negócio … ou ainda como aqueles gestores que não cumprem lei … coitadinhos.
Imagino o sofrimento quando aparecem aquelas noticias em nada abonatórias das redes sociais …
Devem sofrer como os banqueiros … com o dinheiro no bolso … mas quantos mudaram de trabalho ?
Pois então teriam uma boa oportunidade … 😉
Ora bem subentendendo que como diz o ditado
Tanto é ladrão o que rouba como o que fica a ver … , ou participação em negócio … ou ainda como aqueles gestores que não cumprem lei … coitadinhos.
Imagino o sofrimento quando aparecem aquelas noticias em nada abonatórias das redes sociais …
Devem sofrer como os banqueiros … com o dinheiro no bolso … mas quantos mudaram de trabalho ?
Pois então teriam uma boa oportunidade … 😉