Conheça o Biobetão, material que fecha as próprias rachaduras
Quando o nosso corpo tem uma ferida, ele processa as medidas necessárias para regenerar a pele e os tecidos afectados. É um corpo vivo que se regenera.
Agora imagine que tem uma parede em casa que, depois de rachar, o material que compõe a parede também a pode regenerar e tapar só por si a fenda aberta. Soa-lhe a ficção cientifica? Olhe que não, é apenas o Biobetão.
O mundo da tecnologia evolui em várias direcções. Vemos uma evolução constante nos dispositivos comuns do dia-a-dia, vemos grandes saltos tecnológicos nas técnicas e ferramentas médicas e também vamos cada vez mais ver evoluções no que toca à construção das habitações e materiais que as compõe.
As técnicas de construção e materiais permitidos estão regulamentados conforme os países e regiões.
Sismo mata centenas de pessoas em Itália
Uma questão muito sensível nesta área relaciona-se com a actividade sísmica e como os edifícios se comportam durante e depois de um episódio destes.
São quase sempre dramáticos os danos, como vimos recentemente em Itália, na região de Amatrice, depois do sismo de magnitude 6,2 que matou várias centenas e deixou mais umas quantas centenas de feridos.
E em Portugal?
Todos os dias há actividade sísmica em Portugal. Segundo o Instituto Português do mar e atmosfera, em Portugal há mais de mil sismos por ano.
Portugal tem melhorado substancialmente a engenharia sísmica e o estudo dos edifícios e das estruturas sob um impacto sísmico.
Isso permite projectar, construir e manter edifícios com boa resistência a terremotos em conformidade com códigos de edifício.
Biobetão será uma solução de futuro?
Segundo o cientista holandês Henk Jonkers, o biobetão já não é um projecto futurista actualmente com o que já foi feito nesta área. O biobetão é uma realidade muito concreta.
Investigadores da Universidade Técnica de Delft, na Holanda, estão a desenvolver um tipo de betão que contém na sua constituição bactérias capazes de conferir ao material propriedades de auto-reparação.
O nosso betão vai revolucionar a forma como construímos, pois inspiramo-nos na natureza.
Referiu Jonkers, por ocasião de receber o prémio de melhor europeu inventor em 2015 .
Esta nova tecnologia poderá, em teoria, aumentar exponencialmente o tempo de vida das estruturas de betão e reduzir substancialmente os custos de manutenção.
Duras como pedras
O biobetão foi preparado com uma mistura de cimento tradicional e foram adicionadas colónias de bactérias Bacillus pseudofirmus, produtoras de calcite (carbonato de cálcio). Estas, no seu estado natural, podem habitar ambientes tão hostis quando crateras de vulcões activos.
O surpreendente é que essas bactérias formam esporos e podem sobreviver por mais de 200 anos nos edifícios.
Quando aparecem fissuras nos edifícios construídos de biobetão, as bactérias que aí habitam ficam expostas aos elementos físicos, principalmente água.
A humidade que penetra nas fissuras "acorda" os microorganismos, que começam a consumir lactato de cálcio e, como produto final da digestão, produzem calcário. O calcário repara as rachaduras no biobetão em apenas três semanas.
Podem reparar centímetros ou quilómetros
Segundo o investigador responsável por este inovador produto, não há limite para a extensão da fenda com o biobetão pode ser reparada quer tenha centímetros ou até quilómetros. Já no que toca à largura da mesma, esta para ser reparada não pode ter mais que 8 milímetros.
Ainda assim, o biobetão pode economizar milhões de euros na manutenção de estruturas como paredes de edifícios, pontes ou barragens.
Milhões gastos em manutenções
Segundo a HealCon, organização que pretende promover o uso do novo material, só na Europa são gastos anualmente 6.8 mil milhões de dólares na reparação de edifícios enfraquecidos.
Apesar de ser mais caro que o betão tradicional, o benefício económico é perceptível, pois economiza em custos de manutenção
Referiu o cientista ao jornal britânico The Guardian
Já há edifícios com este material?
Segundo Henk Jonkers, este material foi já utilizado na construção de canais de irrigação no Equador, país altamente sísmico.
O material também seria uma esperança para prédios antigos e cheios de fissuras, susceptíveis a colapsar mesmo sismos de baixa magnitude.
A inovação vs o mercado
Apresar de estarmos perante uma visão revolucionária e tentadora no que toca à regeneração dos edifícios, o biobetão ainda necessita de superar o teste mais duro de todos: do mercado.
O custo do novo produto poderia elevar demasiadamente o valor de grandes projectos de infraestrutura. Segundo o The Guardian, enquanto o metro cúbico de betão tradicional custa pouco menos de 80 dólares, o novo material passaria para cerca de 100 dólares mais custos de implementação, que resultaria num acréscimo de quase 40%.
Para ser bem sucedido, este valor teria de ser ajustado, esta fenda na proposta futurista terá primeiro de ser fechada para o biobetão ser uma realidade já amanhã.
Este artigo tem mais de um ano
Simplesmente…fantástico!
+1
Muito fixe! Alterem só o termo rachaduras para fissuras para. Aí estar abrasileirado
Não, errado. Rachadura, rachadelas, rachas, fissuras e outros termos são usados em Portugal, alguns numas zonas do país e outras noutras zonas.
Verifica isso.
Uma racha é uma racha. Hehe
Obrigado pelo artigo
A ideia é excelente mas a menos que haja legislação e vistorias apertadas ninguém usará isso porque os construtores querem é sempre materiais baratos para construírem os seus prédios…
Desculpa lá mas não é bem assim.todos os materiais e processos construtivos ,fazem parte de um caderno de encargos.Para se poderem alterar materiais ou esses processos de execução ,terá que ter a aprovação do dono de obra ,ou seus representantes ,por exemplo empresas de fiscalização e com o controlo de qualidade em vigor dificilmente acontece a libertinagem que tu referes.
Se no caderno de encargos está explicito que vais aplicar ou empregar aquele material e daquela marca,podes ter a certeza que o vão aplicar.
Daí eu ter referido a dita legislação e vistorias. Não te esqueças que mesmo com cadernos de encargos há muita malandrice por parte de quem compra e vende os materiais para ganhar dinheiros por fora. Então nas obras do Estado…
Não sei a que obras do estado, ou tipo de obras do estado te referes,pois eu participei em algumas ,duas das maiores c.c.belém e Novaponte e posso-te dizer que na primeira o grande problema foi a derrapagem no orçamento ,mas tudo foi feito em comformidade,na segunda ,tudo foi seguido á risca.
Também colaborei nalgumas com a extintaJAE ,nos viadutos da A2 com a BRISA,e também não me lembro de nada do que estás a referir ,ter acontecido.
Se calhar ,estás-te a referir a obras camarárias é um pouco diferente e quanto a essas ,já não me posso pronunciar.
Esses e outros custos de implementação é que fazem o produto cerca de 40% mais caro.
40%… ainda não é um valor aceitável, pelo menos para já.
Exactamente ainda para mais com os equipamentos necessários e formação (talvez) e aplicação do referido material…
Essa tu “podes ter a certeza que o vão aplicar.”, não é bem assim como pensas, infelizmente, ou se anda mesmo em cima do acontecimento, ou então…
E será o calcário resistente o suficiente para suportar os pesos dos edifícios? Parece-me uma tecnologia tapa buracos para evitar infiltrações.. Iria chegar uma altura que o betão já era só calcário… Acho que são necessários mais estudos até ser largamente utilizado.
O calcário compõem grande percentagem do cimento que se usa actualmente.
O cimento é apenas o ligante da areia e brita, e o que suporta o peso dos edifícios é o ferro dentro dos alicerces, ..
A calçada típica portuguesa é feita de pedra calcária. As muralhas de Lisboa foram feitas com pedra calcária. Imensos monumentos centenários são feitos com materiais calcários. A Serra D’Aire e Candeeiros é essencialmente calcário. O calcário não é apenas um pó chato para o Calgon tratar: é uma rocha e tanto!
o calcario é fragil como o cimento….a unica coisa que isto faz é evitar a propagação das fissuras e tapa algumas que aparecem, não faz milares…
“..o metro cúbico de betão tradicional custa pouco menos de 80 dólares, o novo material passaria para cerca de 100 dólares – um acréscimo de quase 40%.” ….40%??? que contas são estas?
Bom, isso estava no texto, mas pelos vistos não estava simples de perceber. Além dos custos do produto, como é referido no texto, pois este é mais caro, há o próprio mercado em si que tradicionalmente usa outro betão, outras formas de o trabalhar, outras técnicas de implementar a construção.
Ao aderir a este produto, além do preço mais elevado, há os custos de implementação, como é óbvio. Isso em conjunto, como é fácil perceber, dá o referido aumento de 40% sobre os produtos actuais e usuais.
Não tendo inicialmente passado clara a mensagem (ao que parece houve quem não percebesse), introduzi uma ligeira alteração na frase. Penso que está agora mais perceptível.
A sua citação está incompleta. Parou na parte chave da frase.
“…o novo material passaria para cerca de 100 dólares mais custos de implementação, que resultaria num acréscimo de quase 40%.””
Os ditos 100 dólares com os custos de implementação resultam no tal acréscimo de 40%.
Faço minhas as palavras do Sr. Machado
Simplesmente…fantástico!
Teoricamente são 25%
Isso só no preço do produto em si. Falta a implementação e adaptação das ferramentas… entre outros custos. Inicialmente poderá não ter ficado bem explicita a informação, contudo julgo estar agora.
O betão sofre de uma falha bastante grave, o aparecimento de microfissuras nas primeiras
semanas quando submetido a esforços. A reparação biológica consiste numa reparação
sustentável, ou seja, na aplicação de bactérias produtoras de minerais. Estas bactérias, do
género bacillus, devem ser capazes de produzir os minerais necessários, carbonato de
cálcio, para ligar ou selar as fissuras a partir do momento em que estas começam a surgir no
betão. Com a integração das bactérias obtemos um agente de cura interno no betão e que
vai possibilitar a diminuição da permeabilidade de forma autónoma evitando assim a
inspeção manual e a reparação, além disso permitir aumentar a durabilidade da estrutura e
poupar o meio ambiente.
Este foi o tema de dissertação do meu mestrado e só tenho pena de não ter feito parte experimental “por falta de verba”, segundo foi dito pelo meu orientador.
Em relação aos 40% de acréscimo no preço de betão, se pensarmos nas obras de arte, barragens, pontes, viadutos, tuneis, e pensarmos na vida útil delas, cerca de 100 anos, se podermos que durem mais tempo sem construir uma nova porque a actual terminou a vida útil ou necessita de grandes intervenções, talvez não seja assim um preço tão elevado.
Tudo verdade, mas as vantagens não são assim tantas se considerarmos que a actividade microbial já imita (confesso que, talvez, mais eficientemente) o próprio comportamento do betão ao longo do tempo. O betão produz continuamente produtos de hidratação ao longo do tempo –> Mesmo depois de 10 e 20 anos continua a ganhar resistência. O próprio hidróxido de cálcio do betão, em estado constante de carbonatação, irá precipitar o carbonato de cálcio deixando-o menos permeável.
Adicionalmente, o que esta notícia também não diz é que a introdução desta tecnologia trás algum decréscimo na resistência mecânica pela substituição de outros componentes mais resistentes.
Fala-se de novas tecnologias (e com razão, porque deverá haver uma contínua inovação) e, no entanto, a própria indústria nem se apercebe (apenas em parte) o quanto é que um aumento da quantidade do cimento melhorará o desempenho mecânico e de durabilidade sem trazer custos tão excessivos quanto os propostos pelos microorganismos no betão. Em vez do convencional C20/25 ou C30/37, já deveria ser corrente a aplicação do C50/60 e acima.
Tecnologia Cylon? =X
Eu cá gosto muito de rachas, tenham elas 8mm ou mais!
Seria possível colocar o link (url) completo no post, para ler no original. É que acho isto tudo muito estranho e nenhum Professor Doutro da àrea de Betão e Engenharia Cívil (que conheço) tem conhecimento deste “milagroso” sistema
Em Portugal, não foi investigado (quase) nada acerca do assunto. O que existe, existe sob o nome de “Self-healing concrete”. Pode encontrar algumas publicações do assunto no link abaixo que vai directamente para o Web of Knowledge:
http://apps.webofknowledge.com/summary.do?product=WOS&parentProduct=WOS&search_mode=GeneralSearch&qid=1&SID=S2qHIkv3rJ5RXQf7fsL&page=1&action=changePageSize&pageSize=50
O conceito de “self-healing” pode ser atingido de diversas formas e a actividade microbial expressa neste artigo é apenas uma delas. As outras incluem a introdução de materiais com actividade pozolânica e também compósitos poliméricos expansivos aquando da presença de uma maior quantidade de água.
Relativamente à palavra “milagroso”, diria que é ir um bocado longe demais. Para além de excessivamente caro (nalguns dos artigos dentro do link acima, o preço do betão poderia ter o dobro do preço e não apenas mais 40%), temos de ter sempre o principio de Lavoisier em mente. Ou seja, estas bactérias, embora capturem o CO2 atmosférico, vão buscar o cálcio noutras partes do material, seja por descalcificação de outras fases do betão/argamassa ou por uma fonte de cálcio inicial introduzida com quantidade limitada. Ou seja, não irão produzir continuamente material resistente.
Apesar de interessante, no estado actual do conhecimento, não é a melhor escolha para a auto-regeneração do betão.
Onde posso comprar biobetão?
Não existe à venda. É provável que nem venha a existir. Existem muitos problemas (um deles o custo) que ainda têm que ser ultrapassados.