Google inicia julgamento que poderá mudar para sempre a sua composição e da Alphabet
Uma batalha que durará pelo menos 10 semanas começa hoje num tribunal de Washington. Nas mãos do juiz Amit Mehta está a decisão sobre se a Google é considerada um monopólio no setor da pesquisa online.
Este é o primeiro processo antitrust contra uma grande empresa tecnológica nos Estados Unidos em mais de 20 anos. Ao contrário da União Europeia, que mantém processos abertos contra as Big Tech, a política regulamentar nos Estados Unidos sempre foi mais "tranquila".
Mas, em outubro de 2020, o Departamento de Justiça decidiu levar a Google a tribunal, num caso chamado U.S. et al. v. Google. A empresa foi acusada de abusar da sua posição dominante para bloquear rivais e tornar-se um "guardião da Internet".
As últimas referências são a AT&T, em 1974, e a Microsoft, em 1998, por abuso de posição com o Windows e o Explorer. Este processo levou à dissolução da Microsoft, embora a empresa tenha recorrido e tenha chegado a um acordo. Algo semelhante poderá acontecer com a Google, embora a margem de decisão do juiz seja muito ampla.
Para além de uma multa de um milhão de dólares
O Tribunal de Justiça Europeu confirmou a multa histórica de 4.125 mil milhões de euros aplicada à Google. Mas, desta vez, há mais em jogo. A ação judicial do Departamento de Justiça pede a imposição de "medidas estruturais necessárias para remediar qualquer dano".
Dependerá do juiz federal, mas a Google poderá ser obrigada a modificar os seus departamentos ou mesmo a dividir a empresa em várias empresas. Desta vez, o processo está a decorrer nos Estados Unidos, o país da Google.
Nas próximas semanas, numerosas testemunhas deverão depor, muito provavelmente Sundar Pichai, diretor executivo da Google e da Alphabet, mas também Eddy Cue, diretor da Apple, empresa com a qual a Google estabeleceu acordos.
Será a Google a única forma viável de pesquisar na Internet?
Esta é a pergunta subjacente a que tentaremos responder. Temos de ver até que ponto a Google se tornou um monopólio ou simplesmente a empresa mais bem sucedida. Há muitos fatores a considerar.
O Departamento de Justiça acusa a Google e explica que esta abusou da sua quota de mercado de 90% nos Estados Unidos. "A tal ponto que a Google se tornou um verbo", lê-se na ação judicial.
Outra acusação é o facto de a Google ter pago regularmente a outras empresas para manterem a utilização do Google como motor de pesquisa predefinido, limitando assim o alcance dos seus concorrentes. É o caso da Apple, a quem a Alphabet pagaria entre 8 e 12 mil milhões de dólares por ano, segundo o próprio Departamento de Justiça. Um acordo que poderá ter os dias contados se a Apple decidir finalmente optar pelo seu próprio motor de pesquisa.
A Google paga milhares de milhões de dólares todos os anos a distribuidores, incluindo fabricantes de dispositivos populares como a Apple, LG, Motorola e Samsung... para garantir o estatuto de predefinição do seu motor de pesquisa.
Refere a queixa.
Alguns dos argumentos que a Google apresentará em tribunal
Kent Walker, presidente da Google para os assuntos mundiais, divulgou uma declaração em que apresenta alguns dos argumentos que a empresa irá apresentar em tribunal:
A nossa promoção e distribuição da Pesquisa Google não prejudicou a concorrência nem reduziu a escolha dos consumidores. Pelo contrário, atualmente existem mais formas do que nunca de encontrar informação.
Basta pensar em como se pode procurar informações na Internet atualmente: é possível procurar recomendações no TikTok, Reddit ou Instagram, encontrar música e podcasts no Spotify, fazer uma pergunta no ChatGPT ou fazer compras na Amazon. De facto, mais de 60% dos americanos iniciam pesquisas de produtos na Amazon.
Outra justificação é o facto de o Bing e o Yahoo! também pagarem à Apple para aparecerem no Safari. A Google explica que os seus acordos não são exclusivos e que concorre com outros browsers para aparecer. Além disso, explica que não são necessários mais do que dois cliques para alterar o motor de pesquisa predefinido.
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Este artigo tem mais de um ano
– A tal ponto que a Google se tornou um verbo – é verdade, o verbo “googlar” (googla aí por, googlei 🙂
– Para manter a utilização do Google como motor de pesquisa predefinido a Alphabet paga à Apple entre 8 e 12 mil milhões de dólares por ano – é o que tem sido publicado.
– Para o mesmo efeito, a Google paga milhares de milhões de dólares todos os anos a distribuidores, incluindo fabricantes de dispositivos populares como a LG, Motorola e Samsung – aqui tenho dúvidas, a ideia que tenho é que os fabricantes Android manterem o Google Search como pré-definido é a condição para terem acesso ao Android GMS (com serviços Google). É o preço do Android.
Obviamente que o que aqui está em causa não é o peso do Google Search nas pesquisas – é a máquina montada pela para converter as pesquisas em dinheiro.
Monopólio há, qual possa ser a solução não vejo.
“Monopólio há, qual possa ser a solução não vejo.” É tal e qual como eu penso. Já agora, o seu comentário é excepcional tal como são praticamente todos os que escreve. E além disso escreve com um primor que não há igual. Dá-me muito gosto ler todos os seus comentários.
Deviam fazer o mesmo em Portugal, com a Via Verde e o roubo das portagens. Única empresa a explorar as portagens….
Embora concorde contigo sobre o roubo que é as portagens, no resto não acertaste uma…
Não é tão simples assim. Vide android que é deles e o acordo com a Maçã. Além disso, eles não tem só o google, tem o youtube, maps (+waze) e o gmail. Foi no gmail que começou a coleta maciça de dados que fez o google crescer.
Tem de dividir essas empresas. Liberdade para a coleta de dados!
Amit Mehta ?? Meter isto nas mãos de um indiano ?? Não sei,não…
Atenção !! Não vejam este meu comentário como racista. Só me faltava essa. Só digo isto pelos laços de afinidade que existem entre a população da Índia e a Google(como também a Microsoft). Toda a gente sabe que quer a Google como a Microsoft empregam bastantes indianos,por isso… O meu comentário não vai além disto. Espero que tenham percebido.
E num certo contexto perceber se este juíz será imparcial ou não.
Também não tenho dúvidas do monopólio, que usam e abusam…
Há algumas medidas que poderiam fazer um duro golpe…
1- A google ser obrigada a partilhar alguns dos seus algoritmos secretos (pesquisa & afins) com a concorrência…
2 Partir a Empresa e toda a divisão Android, seria colocada na nova empresa, que não poderia vir com um único produto / serviço da Google pré-definido. A haver pré-definidos teriam de ser todos em Open-source!
Com estas 2 medidas bem implementadas, acabava num instante o Monopólio !
Android (AOSP + GMS) gratuito para todos e sem que a Google possa ganhar um tusto em publicidade com o Android. A Google é alguma empresa de caridade? Fabricante que quer Android GMS tem que aceitar o Google Search como motor de busca pré-definido.
Quanto à partilha dos algoritmos de pesquisa é um segredo bem guardado e a mais-valia do Google Search.