Cientistas intrigados com bactéria que transforma qualquer sangue num tipo universal
Uma equipa de investigadores afirma ter encontrado uma bactéria comum que pode facilmente manipular as enzimas presentes no sangue para o transformar num tipo de dador universal. Esta poderá ser uma descoberta de enorme importância para a humanidade.
Estaremos mais perto de um "sangue universal"
Este processo, se for alargado para utilização clínica, poderá ter consequências médicas e sociais significativas. As reservas de sangue a nível mundial são sempre escassas, em especial nos países de baixos rendimentos - uma situação que se tornará ainda mais grave devido ao rápido envelhecimento da população.
De um modo geral, os grupos sanguíneos são determinados pela presença de antigénios A e B nos glóbulos vermelhos. Os tipos do grupo O não têm nenhum destes antigénios.
Os profissionais de saúde têm de ser extremamente cuidadosos no que diz respeito aos tipos de sangue, uma vez que a transfusão do tipo errado pode levar o sistema imunitário a atacar as novas células sanguíneas, o que pode ser fatal.
Investigadores da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU) e da Universidade de Lund, na Suécia, que investigavam uma solução, descobriram que enzimas específicas produzidas por bactérias intestinais comuns eram capazes de remover os antigénios A e B, abrindo potencialmente o caminho para garantir um fornecimento constante de sangue de dadores universais.
Pela primeira vez, os novos cocktails de enzimas não só removem os antigénios A e B bem descritos, mas também variantes alargadas anteriormente não reconhecidas como problemáticas para a segurança da transfusão.
Afirmou Maher Abou Hachem, investigador da DTU e principal autor de um novo artigo sobre as descobertas publicado na revista Nature Microbiology, em comunicado.
Enzima comum no intestino humano
A ideia de remover o par de enzimas existe há mais de 40 anos. Apesar dos esforços dos cientistas, ninguém tinha encontrado uma forma de produzir sangue de dador universal sem correr o risco de reações imunitárias, o que impediu que a ideia fosse utilizada em clínicas.
Mas agora, Abou Hachem e a sua equipa descobriram que uma enzima comum no intestino humano, chamada Akkermansia muciniphila, é extremamente eficiente na decomposição dos antigénios A e B, uma vez que se assemelham muito ao muco abundante que consome no intestino para se alimentar.
O que é especial na mucosa é que as bactérias, que são capazes de viver neste material, têm frequentemente enzimas feitas à medida para quebrar as estruturas de açúcar da mucosa, que incluem os antigénios ABO do grupo sanguíneo. Esta hipótese revelou-se correta.
Explicou Abou Hachem.
Um tipo de sangue universal fiável e seguro teria vantagens consideráveis.
O sangue universal permitirá uma utilização mais eficiente do sangue dos dadores e evitará também a administração de transfusões ABO incompatíveis por engano, o que pode ter consequências potencialmente fatais para o recetor.
Quando conseguirmos criar sangue de dador ABO-universal, simplificaremos a logística do transporte e administração de produtos sanguíneos seguros, ao mesmo tempo que minimizamos o desperdício de sangue.
Afirmou Martin Olsson, professor de hematologia da Universidade de Lund e principal autor do estudo, no comunicado.
No entanto, ainda é muito cedo para dizer se o novo processo pode efetivamente revolucionar as transfusões de sangue. A equipa espera agora testar o seu novo processo em ensaios clínicos, mas mesmo que se prove o seu sucesso - o que está longe de ser uma garantia - qualquer produção comercial deverá estar ainda a muitos anos de distância.