Facebook considerou vender dados de utilizadores a terceiros
O atual ano de 2018 foi um dos piores de sempre para o Facebook, que se viu envolvido no escândalo da Cambridge Analytica por não salvaguardar uma navegação segura aos utilizadores da plataforma.
Depois de ter estado sob fogo e, inclusivamente, Mark Zuckerberg ter sido convocado para uma audiência no Congresso Norte Americano, a empresa volta a ser notícia por ter equacionado vender os dados dos seus utilizadores a terceiros.
Em abril, durante as sessões no Congresso, o co-fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, afirmou categoricamente que a sua empresa não vendia dados de utilizadores a entidades e empresas externas à rede social.
We don’t sell data.
Ora, até hoje não foram, de facto, encontradas evidências que contrariem as palavras do CEO do Facebook, mas o conteúdo recolhido de alguns e-mails internos demonstram que a empresa já o equacionou fazer no passado.
O Wall Street Journal teve acesso a e-mails internos do Facebook resultantes de uma investigação desencadeada pela Six4Three que instaurou um processo legal contra o Facebook por um alegado boicote. A empresa tinha um software que permitia encontrar fotografias de mulheres em biquini na maior rede social do mundo, tendo sido encerrado pelo Facebook e a Six4Three afirma que este boicote foi responsável pela sua falência.
Os e-mails apreendidos pelas autoridades foram então armazenados e, nos que foram acedidos pelo Wall Street Journal, é possível constatar uma clara intenção do Facebook em vender os dados dos utilizadores a terceiros, nomeadamente redes de publicidade.
pushing some advertisers to spend more in return for increased access to user information.
Esta hipotética monetização dos dados dos utilizadores da rede social foi discutida no outono de 2012 por funcionários não identificados do Facebook. Para além disso, tinha sido proposta uma restrição a quem não despendesse pelo menos $250.000 anuais para ter acesso aos dados dos utilizadores e potenciais clientes como a Amazon, Royal Bank of Canada e até mesmo o Tinder.
in one-go to all apps that don’t spend… at least $250k a year to maintain access to the data.
Respondendo às dúvidas levantadas por estes e-mails, um porta-voz do Facebook afirmou que a empresa estava à procura de diversas soluções para manter o seu negócio estável e que, devido a isso, todas as opções eram discutidas internamente.
Mesmo com a possibilidade de estes e-mails serem totalmente inocentes, resultado de uma mera discussão interna, a verdade é que a hipotética implementação deste meio de negócio não abona a favor do Facebook que tantos problemas tem tido nos últimos meses.
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Eu apoio a 100% a venda de dados a terceiros, se não pagas pelo serviço, tens obrigatóriamente de dar algo à empresa para lucrar contigo, neste caso, consentir a transmissão de dados a terceiros.
Até a DECO, aquela empresa que todos erradamente chamam de protector do consumidor [para isso temos instituições do estado (que quase ninguém conhece e usa)] vende os dados a terceiros e ninguém reclama, pelo contrário, a velhada adora-os…
E para fazer dinheiro precisa de vender os dados dos utilizadores???
Estas empresas que nos fornecem serviços em que nós não pagamos para utilizar (directamente), têm de ir buscar o dinheiro investido a algum lado.
E empresas que fornecem serviços de e-mail, redes sociais, até spotify e companhia, ganham e muito a vender dados estatísticos de utilização, por exemplo. Usando o exemplo de spotify ou outro qualquer serviço de música: uma das coisas que eles fornecem a outros, é preferências de músicas ouvidas. Quem nunca leu as letrinhas pequenas não sabe como se gera dinheiro.
Limitam-se a acreditar em tudo o que lêem.
Vale lembrar que pagar também não significa que não vendam os dados e que os utilizem para publicidade, e por aí em diante.
É por tanto um mito que só porque se paga as empresas têm de respeitar a privacidade. Se no contrato que poucos leem disser o contrário então eles vão mesmo vender… e mesmo que não tenham contrato podem vender na mesma, depende de onde operam e se querem ou não saber na UE e das leis que por aqui existem… e se, no limite, 10% do volume de negócios em multa não é um pequeno preço a pagar por uma enorme facturação que não existiria de outra forma.
Talvez valha a pena perceber quem é que está a mexer com o assunto: o Parlamento inglês.
A história:
– A Cambridge Analytica, que entretanto fechou, era uma empresa inglesa
– O Parlamento inglês quis investigar o escândalo mas o Facebook e Zuckerberg recusaram-se a responder
– O Parlamento soube do processo Six4Three vs. Facebook, em segredo de justiça num tribunal americano.
– Basicamente, a Six4Three desenvolveu uma app com uma API que permitia identificar fotos de mulheres em bikini, que autorizassem partilhá-las através da app. A Facebook vedou o acesso à app e a Six4Three faliu – e levou a Facebook a tribunal. Nesse processo, em segredo de justiça, terá ficado documentado que a Facebook usava a mesmíssima API para recolher dados dos utilizadores. E também haverá documentos que comprovam o envolvimento dos responsáveis da Facebook em estratégias para vender dados dos utilizadores.
– O Parlamento inglês aproveitou a passagem do ex-CEO da Six4Three (um americano) por Inglaterra e enviou, ao hotel onde estava, um “Sargeant-at-Arms” (guarda do Parlamento) para recolher documentação sobre o assunto (vai dar filme de espionagem, pela certa).
– Como não havia documentação, o ex-CEO da Six4Three foi levado ao Parlamento e citado/intimado a apresentar a documentação
– Como se trata de outra jurisdição crê-se que o ex-CEO terá que enviar essa documentação. Já informou o tribunal dos USA e os advogados da Facebook. (Digo eu que, se o processo que tem em tribunal nos EUA é para receber uma indemnização do Facebook, se esta quiser pagar não estará muito colaborativa com o Parlamento inglês).
Outras implicações: Zuckerberg afirmou num inquérito do Congresso dos EUA que a Facebook não vendia dados dos utilizadores. Se se provar que vendeu vai ter problemas. E também quanto ao encobrimento, inicial, da intervenção russa no Facebook e nas eleições americanas.
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