Provavelmente, tem visto e ouvido falar muito desta nova aplicação exclusiva para iOS, a Clubhouse. Afinal, está disponível desde o ano passado, mas tem ganhado uma atenção absurda nos últimos dias.
A aplicação tornou-se num dos únicos locais online onde a população chinesa estava livre de qualquer barreira para debater assuntos. Contudo, inevitavelmente, a Clubhouse foi bloqueada pelo governo chinês.
O que é a Clubhouse?
Como se pode ler no Público, a Clubhouse é uma “aplicação e rede social gratuita, baseada na voz, onde as pessoas discutem tópicos pré-definidos ou o que quer que lhes passe pela cabeça em ‘salas’”. Ou seja, dispõe de uma espécie de podcasts interativos nos quais quem está a ouvir pode, eventualmente, participar, gerando uma conversa entre várias partes.
No entanto, além de estar apenas disponível para iOS, só pode ter acesso à Clubhouse quem for convidado por alguém que já seja utilizador. Conforme percebemos, a aplicação tem, para já, um tanto de exclusividade associada a si.
Talvez por isso ou apenas pelo conceito em que se prende, as pesquisas pela Clubhouse cresceram mais de 500% na última semana. Mais, criada em abril de 2020, entrou neste novo ano com cerca de 600 mil utilizadores. No entanto, agora, conta com mais de 6 milhões de pessoas e vale mais de mil milhões de dólares.
China já proibiu aplicação que promove o diálogo
Conforme é sabido, os habitantes da China estão normalmente separados do resto do mundo online pela Great Firewall. Aliás, o governo chinês tem intensificado os esforços para acentuar cada vez mais o controlo de tudo aquilo que os cidadãos veem e dizem na internet.
Todavia, durante algum tempo, a Clubhouse proporcionou a escassa oportunidade de diálogo sobre temas controversos. Isto, claro, livre dos controlos digitais apertados do país.
Dos vários tópicos discutidos, uma conversa debruçou-se sobre os relatos relacionados com campos de concentração para muçulmanos na província chinesa de Xinjiang. Desde dúvidas relativamente à efetiva existência destes, até à partilha de testemunhos.
Recentemente, muitos utilizadores da Clubhouse na China relataram ter recebido mensagens de erro quando tentaram aceder à plataforma. Aliás, alguns até revelaram que só conseguiam entrara através de uma VPN.
Ainda assim, apesar da necessidade de convite e de estar apenas disponível para iOS, nos últimos dias, várias salas de conversação foram preenchidas até à capacidade de 5 mil utilizadores. Conforme foi revelado, alguns eram mesmo da China e outros identificaram-se como chineses a viver no estrangeiro.
Então, as pesquisas pela Clubhouse na rede social chinesa Weibo foram bloqueadas.
Era apenas uma questão de tempo.
Disse Alex Su, editora numa startup tecnológica, em Pequim.
O mundo digital na China
Aparentemente, todos os tópicos da lista negra da China foram discutidos na aplicação. Dos assuntos censurados consta, por exemplo, a discussão de quais os líderes responsáveis pela repressão após o massacre da Tiananmen Square, em 1989, partilha de experiências com a polícia chinesa e com oficiais de segurança, e o nome de Li Wenliang, o médico que foi repreendido por avisar sobre o coronavírus, em Wuhan.
Entretanto, a popularidade da Clubhouse levou a questões relacionados com a sua permanência na China. Isto, porque a maioria das aplicações com grande destaque no mundo todo, como Twitter, Facebook e Instagram, são cada vez mais alvo da censura chinesa. Mesmo as próprias plataformas nacionais, WeChat e Weibo, são alvo de alta regulamentação.