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Ensaio Polestar 2: Um 100% elétrico que não passa despercebido

O mercado dos carros elétricos está recheado com muitas propostas que querem cimentar esta tecnologia como o futuro automóvel. A Polestar acredita nesse futuro e, como tal, desenvolveu um carro 100% elétrico, o Polestar 2. Pese o facto de conhecermos já o Polestar 3, este só sairá para 2023. Assim, a estrela da empresa, é o modelo 2, que não deixa ninguém indiferente.

Depois de fazermos mais de 700 km com o elétrico da marca propriedade da Volvo, subsidiária da Geely e sediada em Gotemburgo, na Suécia, mostramos as nossas impressões, certezas e algumas dúvidas.


Polestar 2… grande e máquina!

Em meados de outubro fomos conhecer o Polestar 3, apresentado em Copenhaga. Nessa altura, foi-nos feito o desafio para testarmos o Polestar 2. Como tal, durante mais de uma semana agarramos no elétrico para o levar a conhecer lugares e aproveitar circuitos mistos, entre auto-estrada e circuitos urbanos.

Conduzimos então um Polestar 2 Long Range Dual Motor com Pack Performance, a versão mais potente deste carro.

 

Primeiras impressões

Apresar dos gostos serem relativos, foi unânime, este é um dos elétricos mais bonitos disponíveis atualmente no mercado. O seu corpo é imponente, rodas que desafiam a imaginação e um conjunto de luzes que destacam as linhas desportivas do AWD 100% elétrico.

Uma das primeiras impressões que tivemos é que o carro é mais vistoso ao vivo do que nas fotos. A imagem do carro em fotos não favorece a realidade do design e do conjunto que podemos apreciar ao vivo. O que por vezes é ao contrário… muitas vezes até!

Sim, é de facto vistoso, por onde passamos com ele ninguém ficou indiferente. Ele fez as pessoas olharem, interrogar-se que marca seria… É marcante. Parado, as pessoas foram espreitar, tocaram no carro, e, com alguma confiança, fizeram perguntas. Portanto, no que toca ao design… não é mais um!

Características técnicas

Este veículo tem uma única motorização disponível e utiliza dois motores elétricos, um em cada eixo, tendo por isso tração às quatro rodas. Cada motor tem 204 cv, perfazendo um total de 408 cv e 660 Nm de binário máximo.

A bateria tem uma capacidade de 78 kWh e funciona a 400 Volt. Segundo a Polestar, para carregar a bateria dos 0% aos 80% são precisos 40 minutos, num carregador de 150 kW, que é o máximo que o sistema admite.

Quanto à autonomia, a marca anuncia 470 km para ciclo misto e 560 km para ciclo citadino. As prestações anunciadas são 205 km/h de velocidade máxima e aceleração 0-100 km/h em 4,7 segundos (com o Pack Performance faz 4,4 segundos).

O Performance Pack inclui amortecedores reguláveis, jantes de 20 polegadas com sistema de travões Brembo.

Especificações completas

  • Motor: Dual electric motors 300 kW (402 cv) / com  Pack Performance 350 kW (469 cv)
  • Plataforma: Volvo CMA
  • Carroçaria: Sedan Liftback
  • Segmento: D – Grande
  • Tração: Tração integral
  • Autonomia: 551 km (WLTP)*
  • Aceleração 0–100 km/h: 4.7 segundos
  • Velocidade máxima: 205 km/h
  • Dimensões e peso:
    • Comprimento: 4607 milímetros
    • Largura: 1859 milímetros
    • Altura: 1479 milímetros
    • Distância entre eixos: 2735 milímetros
    • Peso: 2188 kg
    • Volume de Carga: 405 litros
    • Volume Máximo de Carga: 1095 litros
    • Engate de Reboque Possível: Sim
    • Peso de reboque travado: 1500 kg
  • Bateria:
    • Capacidade nominal: 78 kWh
    • Tipo de Bateria: Iões de lítio
    • Número de Células: 324 (27 módulos)
    • Voltagem nominal: 400 V
    • Capacidade utilizável: 75 kWh
  • Carregamento:
    • Porta de carga: Tipo 2
    • Localização da porta: Lado Esquerdo – Traseiro
    • Potência de Carga: 11 kW CA
    • Tempo de Carga (0 -> 390 km): 8h15m
    • Velocidade de carga: 49 km/h
    • Porta de carregamento rápido: CCS
    • Potência de carga rápida (máx.): 149 kW DC
    • Tempo de carga rápida (39 -> 312 km): 31 minutos
    • Velocidade de carregamento rápido: 520 km/h
  • Suspensão: MacPherson/Independente
  • Binário: 660 Nm
  • Preço: 62.900 euros

Exterior: Seguir a estrela do Norte

Polestar ou, de forma traduzida, estrela polar, é uma marca que quer vincar a sua assinatura no mercado dos elétricos. Com o selo de confiança Volvo, a marca pretende seguir o seu próprio rumo em termos de design havendo, claro, uma cooperação com a tradição de segurança implementada há muitos anos pela Volvo.

Como tal, este modelo 2 assenta numa plataforma com créditos no mercado, a Volvo CMA (Compact Modular Architecture) que é usada no Volvo XC40. E sim, de facto há alguns, poucos, traços que identificamos como Volvo. Por exemplo, olhando de frente para o carro, destaca-se logo as óticas dianteiras com o desenho inspirado no martelo de Thor e há inúmeros componentes no habitáculo que também são herdados da sua congénere.

Mas… há algo no Polestar 2 que nos cativa, desafia e seduz. Possivelmente por ser diferente, mais ousado que um Volvo e, mais bonito!

As linhas desportivas quebram o ar pesado que um carro de mais de 4 metros de comprimento e quase 2 de largura poderia trazer. A iluminação branca que sobressai das linhas retas tornam as sombras suaves, o que deixa um design verdadeiramente cativante.

A iluminação traseira, no nosso ponto de vista, mais tradicional, menos futurista, mas mesmo assim com traços interessantes, permitem uma coreografia de luzes de alerta e de informação dinâmica. Tudo isto é simples de ver, até no trancar e destrancar do carro… quando apenas aproximamos a mão do puxador.

Sim, é alto, mas não é um SUV, apesar de ser “grande“. Estamos a falar de um carro do segmento D, a 4.ª categoria dos segmentos europeus para automóveis de passageiros, são carros descritos como “carros grandes”.

Na lateral das portas existe uma indicação que nos diz que é um 100% elétrico, o tamanho da bateria e a potência do motor. Apesar de ser um autocolante, mostra aos mais atentos que há diferenças entre as 3 versões disponíveis.

Conectividade e propriedades

  • e-SIM integrado com ligação constante à internet
  • Atualizações OTA (over-the-air) para sempre
  • Polestar Digital Key (chave digital Polestar)

O interior: ainda não é um 100% elétrico

Sim, o interior mostra-nos que a plataforma usada não foi concebida para montar um 100% elétrico. Contudo, é espaçoso atrás, para os passageiros poderem fazer uma viagem confortável e à frente é qb. Pecando um pouco pelo efeito casulo, tendo a consola central um papel um pouco invasor.

Também é verdade que este design interior já se cola mais ao que conhecemos da Volvo. Mas atenção, não tem nada de negativo. A bordo nota-se o rigor nórdico e um ambiente mais minimalista. Certos toques de design conferem uma imagem mais jovem, dinâmica e tecnológica, com materiais diferentes e detalhes que o XC40 não tem, tais com a Estrela do Norte, ou Estrela Polar (Polestar), mesmo por cima da nossa cabeça, refletida na zona frontal do teto panorâmico em vidro.

De resto, há materiais de boa qualidade, ainda que sempre num tom mais escuro, com a especificação Charcoal no volante e noutros apontamentos do carro.

Os cintos de segurança de edição especial, que fazem parte do Pack Performance têm a mesma cor dourada exclusiva que as pinças dos travões, os amortecedores e as tampas das válvulas dos pneus.

Lá mais atrás, ainda está presente uma generosa bagageira com 405 litros de capacidade. Na parte da frente, por baixo do capô, há outra (fronk), mas com uma volumetria que é mais indicada para guardar os cabos de carregamento.

Conforto e comodidade

  • Sensor de chuva
  • Porta da bagageira elétrica com abertura com o pé e fecho suave
  • Bancos dianteiros semi-elétricos, ajuste manual do encosto e apoio lombar elétrico com 4 regulações
  • Rebatimento 60/40 das costas dos bancos traseiros com abertura central para objetos longos
  • Ficha de 12 V na bagageira
  • Bagageira dianteira (41 litros)
  • Assistente de estacionamento com sensores dianteiros e traseiros
  • Câmara de marcha-atrás

Equipamento: Elegante e minimalista

Com aposta na plataforma Android, o Polestar 2 apresenta um painel de instrumentos totalmente digital e um monitor central colocado na vertical. Basicamente é um tablet Android, com algumas limitações de oferta, mas que permite ao condutor um controlo dos mais variados aspetos do carro, como as câmaras, o GPS ou mesmo o sistema de filtros do ar interior e exterior (que nos mostra a qualidade do ar que respiramos).

O Polestar 2 vem equipado com um sistema de som desenvolvido pela Harman Kardon e que usa a própria estrutura do carro para definir os graves. O som é bom e durante o tempo que conduzimos o elétrico, a música foi algumas vezes companhia. Nem sempre porque gostamos do silêncio que o habitáculo nos proporciona.

O Polestar 2 merecia ter ligação ao CarPlay da Apple via wireless, excluindo assim o cabo. Dora isso, o carro tem o mínimo indispensável, mas merecia, na nossa opinião, um pouco mais de software dedicado e não com o look&feel Google, que é um pouco genérico demais.

Claro, a elegância está sempre lá, mesmo que seja parca em funcionalidades, o que existe é talhado para funcionar bem, até os botões físicos que ativam e desativam o desembaciamento do para-brisas.

Climatização

  • Controlo eletrónico da climatização de 2 zonas
  • CleanZone com pré-ventilação, multifiltro
  • Climatização de parque com pré-condicionamento programado
  • Bancos dianteiros aquecidos
  • Volante aquecido

 

Consumos: exige uma condução atenta e consciente

Se olharmos para os valores partilhados pela marca,  esta versão Long Range Dual Motor com Pack Performance, consegue uma autonomia entre os 455 e 487 km (WLTP). Contudo, nos 700 kms que fizemos num percurso misto, e é importante referir que estava em teste, até a velocidade máxima do veículo, conseguimos um consumo a rondar os 23 kWh para cada 100 quilómetros. Aliás, mais para cima do que para baixo dos 23 Kwh.

É de salientar que usamos quase sempre o sistema One Pedal Drive, o que nos traz uma taxa de regeneração grande, em todas as viagens. Outra particularidade que temos de associar a este consumo é termos testado várias vezes os incríveis 4,4 segundos dos 0 aos 100 km/h que este Pack Performance consegue.

E sim, aos 209 km/h ele corta, não dá mais e é mesmo muito rápido lá chegar. Mas, convenhamos, é velocidade a mais, apesar de dentro do carro sentirmos segurança e firmeza no volante a essa velocidade.

No fundo, conduzir este carro traz-nos sensações bipolares. Ora temos um prazer enorme em conduzir mais lentamente, aproveitar o conforto, o silêncio e a robustez do veículo, por outro lado, carregar a fundo no pedal encosta-nos o corpo ao banco e dá-nos sensações de estar a conduzir um bólide desportivo.

Infoentretenimento

  • Sistema de infotainment baseado no Android Automotive OS
  • Google integrado (Google Assistant, Google Maps, Google Play)
  • 4 x fichas USB-C: 2 na frente, 2 na traseira
  • Sistema audio de alto desempenho com 8 altifalantes, 250 W
  • Rádio digital DAB+
  • Apple CarPlay

Então o que sentimos no Polestar 2?

O Polestar 2 é um carro elétrico muito bonito, não passa despercebido e é seguro, muito seguro. A elegância das linhas, apesar de minimalistas nalguns pontos, servem de “guia”, como se fosse uma indicação de estrela polar para a marca apostar no importante e deixar de lado o excedente, que caracteriza ainda os carros com motor térmico.

A sensação de condução é muito marcante, apesar de ser um carro ainda com margem de progressão no que toca à performance. Ainda consome bastante, mas o peso de mais de 2 toneladas pode ser uma das principais razões. Acreditem, primeiro estranha-se, pois é grande, é massivo e exigente no meio urbano. Mas depois entranha-se pela sua qualidade, pelas linhas de um design muito bem conseguido.

Quando referimos o não passar despercebido é claramente resultado das proporções muito bem conseguidas, com uma linha de cintura elevada e um perfil impactante devidamente preenchido pelas belíssimas jantes, neste caso, de 20 polegadas. O toque dourado das pinças dos travões Brembo desviam o olhar para este pormenor. Até as tampas das válvulas dos pneus fazem “pandã” no toque de ouro exterior que combina com o toque dourado dos cintos de segurança no interior.

Não podemos esquecer que o conforto e segurança passam pelo combinar de um centro de massa muito bem equilibrado, discos ventilados e pinças em alumínio de quatro pistões que oferecem maior rigidez e rapidez de resposta a qualquer temperatura, e os avançados amortecedores Öhlins DFV integrados no Pack Performance, que oferecem uma aderência e tração que se sente profundamente no estilo de condução de cada condutor.

Se este é o modelo “2”, bom, quando sair o 3 com uma plataforma feita à medida de um elétrico, então a concorrência vai ter mesmo de ficar atenta. Para já, este carro ainda terá dificuldades em competir com os Tesla, sobretudo no desempenho e no software disponível para assistir o condutor.

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