Numa mensagem pré-gravada aos participantes da Conferência Mundial de Inteligência Artificial em Xangai, o diretor-executivo da Tesla, Elon Musk, vangloriou-se de que a empresa descobriu praticamente a autocondução. Afirmou que a empresa está “muito perto” de ter um veículo totalmente autónomo, sem condutor. Contudo, as suas palavras geraram várias reações que disseram que a empresa está longe de ter sistemas que proporcionem condução autónoma nível 5.
Musk, como sempre, foi vago nas palavras, deixou algumas nuances, mas não disse se irá incrementar nos seus carros tecnologia inovadora para o mais alto patamar de automação.
De acordo com a Bloomberg, Musk afirmou que a empresa resolveu muitos dos desafios fundamentais associados à construção de um veículo de nível 5 com autocondução:
Estou confiante que teremos a funcionalidade básica da condução autónoma L5 este ano. Não há desafios fundamentais.
Claro que estas declarações podem ser apenas Elon a ser Elon. Isto porque os atuais veículos Tesla estão longe de serem capazes de conduzir eles próprios sem a participação do condutor.
Os pacotes Autopilot e Full-Self Driving (Autopiloto e capacidade de condução autónoma completa) são de nível 2 na classificação de automatização. Conforme está descrito, são tecnologias parcialmente automatizadas de apoio ao condutor. Por outras palavras, os condutores devem estar sempre presentes, ter as suas mãos no volante, e permanecer conhecedores do seu ambiente.
Musk quererá dizer mais do que o que disse?
Esta última declaração de Musk é muito vaga, talvez intencional. Não há qualquer menção de quanto os carros Tesla evoluirão até serem considerados de nível 5. Além disso, nada é dito se esta funcionalidade será implementada em todos os carros através de uma atualização via OTA, estratégia habitual da empresa.
Também é verdade que ter os fundamentos “descobertos” (como mostra o vídeo abaixo) é muito diferente de dizer que um veículo pode ser destacado para o funcionamento em segurança.
No entanto, suponhamos por um segundo que o Tesla tem um veículo de nível 5 totalmente automatizado. O próximo obstáculo seria ultrapassar os regulamentos e obter luz verde para colocar o carro em produção, o que não será fácil – se é que será de todo.
A abordagem da Tesla à suposta tecnologia de autocondução está a ser cada vez mais examinada e escrutinada!
O sistema de piloto automático parcialmente autónomo da empresa tem estado no centro de uma série de investigações após uma série de acidentes em que a tecnologia estava a ser utilizada. Num caso de grande visibilidade, o condutor foi lembrado de voltar a colocar as mãos no volante inúmeras vezes antes de o carro acabar por se envolver numa colisão fatal.
Na maioria das vezes, estas colisões ocorreram porque os condutores estavam a utilizar indevidamente a tecnologia, porque pensam que ela é mais capaz do que realmente é.
Piloto automático da Tesla pode induzir as pessoas em erro
Engenheiros de outras indústrias, como a aeroespacial, têm sido críticos em relação à falta de LiDAR nos Tesla, e citam regularmente os numerosos acidentes relacionados com o piloto automático como prova de que a sua tecnologia está abaixo do que deveria estar. O seu sistema baseado em câmaras luta regularmente para diferenciar objetos que atravessam o caminho do veículo, e quando o sol está no horizonte.
Os reguladores da publicidade e da concorrência em todo o mundo têm contestado o seu nome, Autopilot, dizendo que é perigosamente enganador. Os académicos também criticaram esta prática de venda excessiva de tecnologias autónomas, chamando à prática “Autonowashing;” como Greenwashing autónomo (uma espécie de branquear a verdade).
Uma coisa é certa, os carros Tesla não podem, no seu estado atual, conduzir sem auxílio do condutor humano. Na Internet não faltam vídeos de acidentes que demonstram como os Tesla, deixados à sua sorte, são perigosos. Mesmo a Tesla está permanentemente a chamar à atenção que a sua tecnologia é de auxílio do condutor.
Assim, a curto prazo, acusam alguns, a declaração de Musk é descuidada e serve apenas para confundir ainda mais os clientes. Esta frase pode ser irresponsável, levando os clientes a pensar que os seus veículos são mais capazes do que realmente são. Há casos em que os condutores abusaram da tecnologia com consequências fatais.
Embora Musk possa gabar-se de que Tesla descobriu a condução autónoma, ainda não vimos qualquer prova de que se deva confiar que o tenha feito. No entanto, sabemos do que é capaz… e meia palavra pode querer dizer muito!