A Revolução Portuguesa do 25 de Abril de 1974
As revoluções, como o 25 de Abril, rompem com o status (de forma mais ou menos violenta) e permitem novas oportunidades para um novo equilíbrio. As revoluções são, desta forma, naturais, inevitáveis e necessárias.
A Humanidade, na sua enorme e genética ignorância, ainda não achou forma de manter um equilíbrio permanente.
O 25 de Abril, como qualquer revolução, foi um momento. Um momento em que se reúnem e vêm ao de cima as melhores facetas dessa Humanidade: o altruísmo, a generosidade, a coragem, a justiça, eu sei lá!… Depois, logo depois, começou o trabalho sujo das facetas menos recomendáveis dessa mesma Humanidade.
Há trinta e oito anos, em vésperas do 25 de Abril, Portugal era um país anacrónico. Último império colonial do mundo ocidental, travava uma guerra em três frentes africanas solidamente apoiadas pelo Terceiro Mundo e fazia face a sucessivas condenações nas Nações Unidas e à incomodidade dos seus tradicionais aliados.
Para os jovens de hoje será talvez difícil imaginar o que era viver neste Portugal de há vinte anos, onde era rara a família que não tinha alguém a combater em África, o serviço militar durava quatro anos, a expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pelos aparelhos censório e policial, os partidos e movimentos políticos se encontravam proibidos, as prisões políticas cheias, os líderes oposicionistas exilados, os sindicatos fortemente controlados, a greve interdita, o despedimento facilitado, a vida cultural apertadamente vigiada.
A anestesia a que o povo português esteve sujeito décadas a fio, mau-grado os esforços denodados das elites oposicionistas, a par das injustiças sociais agravadas e do persistente atraso económico e cultural, num contexto que contribuía para a identificação entre o regime ditatorial e o próprio modelo de desenvolvimento capitalista, são em grande parte responsáveis pela euforia revolucionária que se viveu a seguir ao 25 de Abril, durante a qual Portugal tentou viver as décadas da história europeia de que se vira privado pelo regime ditatorial.
Adaptação do texto de António Reis
22 de Fevereiro
Publicação do livro Portugal e o Futuro do General António de Spínola, em que este defende que a solução para a guerra colonial deverá ser política e não militar.
5 de Março
Nova reunião da Comissão Coordenadora do MFA. É lido e decidido pôr a circular no seio do Movimento dos Capitães o primeiro documento do Movimento contra o regime e a Guerra Colonial: intitulava-se "Os Militares, as Forças Armadas e a Nação" e foi elaborado por Melo Antunes.
14 de Março
O Governo demite os Generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Chefe e Vice-Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, alegando falta de comparência na cerimónia de solidariedade com o regime, levada a cabo pelos três ramos das Forças Armadas. Essa cerimónia de solidariedade será ironicamente batizada nos meios ligados à oposição ao regime como "Brigada do Reumático" nome pelo qual ainda hoje é muitas vezes referenciada. A demissão dos dois generais virá a ser determinante na aceleração das operações militares contra o regime.
16 de Março
Tentativa de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares.
24 de Março
Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar.
23 de Abril
Otelo Saraiva de Carvalho entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as ações a desencadear na noite de 24 para 25 e um exemplar do jornal a Época, como identificação, destinada às unidades participantes.
24 de Abril
O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa Limite dessa noite, na Rádio Renascença.
24 de Abril - 22:00 horas
Otelo Saraiva de Carvalho e outros cinco oficiais ligados ao MFA já estão no Regimento de Engenharia 1 na Pontinha onde, desde a véspera, fora clandestinamente preparado o Posto de Comando do Movimento. Será ele a comandar as operações militares contra o regime.
24 de Abril - 22:55 horas
A transmissão da canção " E depois do Adeus ", interpretada por Paulo de Carvalho, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, marca o início das operações militares contra o regime.
25 de Abril - 00:20 horas
A transmissão da canção " Grândola Vila Morena" de José Afonso, no programa Limite da Rádio Renascença, é a senha escolhida pelo MFA, como sinal confirmativo de que as operações militares estão em marcha e são irreversíveis.
25 de Abril - Das 00:30 às 16:00 horas
Ocupação de pontos estratégicos considerados fundamentais (RTP, Emissora Nacional, Rádio Clube Português, Aeroporto de Lisboa, Quartel General, Estado Maior do Exército, Ministério do Exército, Banco de Portugal e Marconi).
Primeiro Comunicado do MFA difundido pelo Rádio Clube Português
Forças da Escola Prática de Cavalaria de Santarém estacionam no Terreiro do Paço.
As forças paramilitares leais ao regime começam a render-se: a Legião Portuguesa é a primeira.
Desde a primeira hora o povo vem para a rua para expressar a sua alegria.
Início do cerco ao Quartel do Carmo, chefiado por Salgueiro Maia, entre milhares de pessoas que apoiavam os militares revoltosos. Dentro do Quartel estão refugiados Marcelo Caetano e mais dois ministros do seu Gabinete.
25 de Abril - 16:30 horas
Expirado o prazo inicial para a rendição anunciada por megafone pelo Capitão Salgueiro Maia, e após algumas diligências feitas por mediadores civis, Marcelo Caetano faz saber que está disposto a render-se e pede a comparência no Quartel do Carmo de um oficial do MFA de patente não inferior a Coronel.
25 de Abril - 17:45 horas
Spínola, mandatado pelo MFA entra no Quartel do Carmo para negociar a rendição do Governo.
O Quartel do Carmo hasteia a bandeira branca.
25 de Abril - 19:30 horas
Rendição de Marcelo Caetano. A chaimite BULA entra no Quartel para retirar o ex-presidente do Conselho e os ministros que o acompanhavam, levando-os, à guarda do MFA para o Posto de Comando do Movimento no Quartel da Pontinha.
25 de Abril - 20:00 horas
Disparos de elementos da PIDE/DGS sobre manifestantes que começavam a afluir à sede daquela polícia na Rua António Maria Cardoso, fazem quatro mortos e 45 feridos.
26 de Abril
A PIDE/DGS rende-se após conversa telefónica entre o General Spínola e Silva Pais diretor daquela corporação.
Apresentação da Junta de Salvação Nacional ao país, perante as câmaras da RTP.
Por ordem do MFA, Marcelo Caetano, Américo Tomás, César Moreira Baptista e outros elementos afetos ao antigo regime, são enviados para a Madeira.
O General Spínola é designado Presidente da República.
Libertação dos presos políticos de Caxias e Peniche.
Sugestão de leitura:
Este artigo tem mais de um ano
Muito bom post.
Parabéns !!!
Obrigado pelo post! 🙂
Pena agora festejar-mos uma coisa que se está a extinguir.
Cumprimentos,
Marco Xavier
Excelente texto.
Pena que os “putos” de hoje não saibam sequer o que se passou, quiçá por nunca terem passado por isso.
Parabéns aos Portugueses por esta data tão importante, fazer uma revolução nunca é fácil.
Foram eles que a fizeram? Muito me diz.
Excelente artigo!
Pena que cada vez mais pareça que seja necessário haver outro 25 de Abril 🙁
Vitor parabéns pelo post, que cada vez é mais necessário para aos que nascidos já em Liberdade, seja dada informação que tantas vezes lhes é escondida deliberadamente.
Com os meus 24 anos naturalmente vivi tudo de uma forma intensa e foram dos melhores tempos da minha vida
Mais do que um novo 25 de Abril, é necessário que este nunca seja esquecido e acima de tudo relembrado a quem o quer “apagar”
Que Abril se cumpra todos os dias !
Parabéns pelo post!
É bom que as pessoas nunca se esqueçam do significado destes dias.
Cumprimentos
Sou a favor de uma nova revolução,pois os valores do povo portugues estao a ser retirados.Alguem tem de vigiar os direitos democraticos,alguem tem de revalorizar a : Liberdade,Igualdade e Fraternidade, ou entao a revoluçao.
Infelizmente o 25 de Abril 74 foi uma revolução burguesa. Transitamos de uma ditadura pura (directa) para uma ditadura disfarçada (indirecta) continua-mos a viver num regime fascista que nos dá a ilusão de liberdade de escolha nesta falsa democracia. É urgente acordar o fantasma do 25 de Abril de novo! Abstenção é Revolução! É urgente implementar uma democracia directa e participativa.
Nem mais! Disse tudo! Andam a iludirmos há anos! Liberdade, foi apenas para os opositores do regime, que por sua vez, já eram gente ou ligada à politica ou mesmo familiares de antigos políticos, o resto o povo anónimo anda sempre na mesma, sem esperança nem futuro. Foi um movimento de insatisfação dos quadros das forças armadas relativo a exigências de regalias temendo perde-las para os milicianos, que teve a sorte em ter adesão popular. De resto, nada cumpriu, nunca houve tão pouco liberdade, digam lá as mentiras que disserem! Temos andados enredados em mentiras há 42 anos, na vã ilusão que a tal democracia e liberdade é também para nós pessoas comuns, que apenas querem viver a sua vida em paz! Senão vejamos quem são os que aparecem nestas alturas, são sempre os mesmo, cinzentões, bolorentos e bem posto na vida sem nunca terem feito nada para merecer tal! Se anteriormente tínhamos um regime retrogrado controlador, hoje continuamos na mesma, o que se evoluiu foi sim nos desmandos dos políticos, e nas evolução natural que o Mundo teve desde então. As oportunidades são menores, jovens sem emprego, mesmo que tenham 10 licenciaturas, oportunidades é só para os meninos de sempre, vejam os apelidos! Pessoas com mais de 35/40 consideradas velhas e sem hipótese de melhoras sua vida, pagamos dividas que, não são nossas feitas pelos políticos da “democracia”, vemos usar os meios do Estado em proveito próprio, nepotismo, corrupção e oportunismo e, muitos forçados a viver de subsídios – esmolas – não tendo dignidade para viver conforme nos deram os tais padrões europeus que sempre nos falaram e nunca ainda me dizem que vivemos em liberdade! Ouvi os discursos da A.R., e nada do que ouvi parece vir de um país chamado Portugal, mas vindo directamente dos contos da Alice no país das maravilhas! Só ouvi lunáticos e gente sem rumo, sem capacidade de racionalizar o mundo e país em que vive. Se mal temos dinheiro para comer e viver condignamente festejar o quê? A boa vida dos outros?~De quem vive à nossa custa? Não comigo, festejo o Dia de Portugal, mal por mal é esse o dias dos portugueses.
Pena foi perdermos alguns territórios que eram nossos por direito como Cabo Verde e S.Tomé e alguns nossos por vontade dos povos nativos como Timor Leste , mas enfim , a ditadura tinha de acabar…