Os oceanos estão a aquecer demasiado depressa e isso é problemático
Os cientistas têm alertado para uma série de fenómenos relacionados com o aquecimento global e a elevada temperatura dos oceanos é um deles. Um novo estudo, que analisou registos de dados de satélite desde 1985, concluiu que a água está a aquecer demasiado depressa.
A investigação da Universidade de Reading, no Reino Unido, revela que as superfícies dos oceanos estão a aquecer mais de quatro vezes mais depressa do que no final da década de 1980.
Ao longo do tempo, foram sugeridas várias teorias para explicar o excesso de calor, além do El Niño e das taxas conhecidas de aumento de CO2. De entre elas:
- Um aumento do vapor de água que retém o calor devido à erupção da Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, em 2022;
- Uma diminuição dos gases que arrefecem a superfície devido a alterações na regulamentação do transporte marítimo, em 2020;
- Um pico de atividade no atual ciclo solar que envia mais calor na nossa direção.
Contudo, mesmo combinados, estes fatores não poderiam explicar totalmente as temperaturas observadas.
Assim sendo, a equipa da Universidade de Reading utilizou registos de dados de satélite desde 1985, com o objetivo de calcular a alteração da taxa de aquecimento da superfície do mar.
Sea surface temperatures were the highest on record (again) for the month of December across the northern half of the Atlantic Ocean.
Data available from NOAA ERSSTv5: www.ncei.noaa.gov/products/ext... 🌊
— Zack Labe (@zacklabe.com) January 27, 2025 at 12:48 PM
As conclusões do artigo, publicado no Environmental Research Letters, indicam que a taxa de aquecimento subjacente era de cerca de 0,06 °C nos anos 80, mas é, agora, de 0,27 °C por década. Segundo a equipa, não se trata de um aumento linear, mas de um aumento acelerado.
Embora parte do excesso de calor tenha sido, efetivamente, provocado pelo recente El Niño, os investigadores calculam que cerca de 44% se deveu ao facto de os oceanos terem absorvido calor muito mais rapidamente do que o previsto na última década.
Se os oceanos fossem uma banheira de água, então, na década de 1980, a torneira quente corria lentamente, aquecendo a água apenas uma fração de grau em cada década. Mas agora a torneira quente está a correr muito mais depressa e o aquecimento acelerou.
Exemplificou Christopher Merchant, meteorologista e autor do estudo, num comunicado.
Conforme alertado pela equipa, se esta tendência se mantiver, só nos próximos 20 anos ultrapassaremos o aumento da temperatura da superfície do mar registado nos últimos 40 anos.
Os decisores políticos e a sociedade em geral devem estar cientes de que a taxa de aquecimento global nas últimas décadas é um mau guia para a mudança mais rápida que é provável nas próximas décadas, sublinhando a urgência de reduções profundas na queima de combustíveis fósseis.
Avisaram os investigadores.
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Globalmente acredito que sim, na praia da Figueirinha em Setúbal, claramente não.