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Como conseguiu Musk e SpaceX a ida ao Espaço mais barata que os russos?

Neste domingo, a NASA e os seus parceiros fizeram história, mas não foi só por terem chegado com os astronautas à Estação Espacial. Por trás há um argumento muito mais poderoso: o preço pago pelo bilhete da ida ao Espaço. A ideia de abrir estas missões aos privados, deu à NASA e aos Estados Unidos uma enorme liberdade, já que não estão mais dependentes da Rússia e da sua cápsula Soyuz.

De facto, o momento que se viveu no 31 de maio foi importante, o Espaço está um pouco mais privado e já não depende só de investimento público.


Sucesso da missão Demo-2 abriu um novo ciclo das viagens espaciais

Sim, ficamos impressionados com o feito conseguido por Elon Musk, pela SpaceX e pela NASA. Agora, ir ao Espaço é mais barato graças a empresas privadas.

A NASA estima que, graças a esta aliança, economizou cerca de 30.000 milhões de dólares no desenvolvimento e construção da sua nova nave espacial. Estes dados foram analisados pela Quartz e ficou clara a mudança de foco económico naquela corrida espacial que agora estamos a ver ressurgir.

Conforme foi aferido no passado, o Space Shuttle que a NASA desenvolveu para todos os tipos de missões espaciais – não apenas tripuladas – acabou por impor riscos claros: os trágicos acidentes de 1986 e 2003 fizeram com que 14 astronautas perdessem as suas vidas e foram decisivos para acabar com a remoção dessa nave em 2011.

 

Sem nave espacial, a NASA dependia da Rússia e isso saí-lhe caro

Portanto, sem um veículo que pudesse servir as necessidades das operações, a NASA acabou por depender da cápsula russa da Soyuz para chegar à Estação Espacial Internacional. Este é um lugar para as grandes ambições da agência, além de que já haviam sido investidos 100 mil milhões de dólares na ISS.

Contudo, a Rússia tornou-se num parceiro incómodo, mas indispensável para estas missões espaciais. A Soyuz dava sempre preferência aos cosmonautas russos, e o preço das viagens espaciais aumentou notavelmente nos últimos anos. Conforme é referido, em 2010 a agência russa cobrava 20 milhões e atualmente estava a cobrar 80 milhões de dólares.

Estas condições terão incentivado mais a NASA a aumentar a pressão no desenvolvimento do programa “Commercial Crew” (estava em banho-maria desde 2006) . Assim, esta tornou-se numa porta importantíssima para que as empresas privadas tivessem a oportunidade de desenvolver soluções para o problema.

A SpaceX, fundada pelo empresário Elon Musk em 2002, aproveitou a oportunidade. O foguete Falcon 9 e a nave Dragon foram frutos desse esforço.

 

SpaceX: uma andorinha no meio dos velhos falcões

O negócio do Espaço sempre foi muito rentável para as muitas empresas sócias e parceiras da NASA. Nesse sentido, a chegada de empresas privadas a esta corrida espacial não foi isenta de obstáculos, longe disso.

Conforme é sabido, a NASA tem parceiros de há muitos anos. Entre eles está a poderosa Lockheed Martin e a sua nave Orion ou a Boeing com o seu foguete SLS (Space Launch System). Embora tenham soluções, estão atrasados ​​vários anos e excedem o custo orçamentado.

Recentemente, foram apresentadas as propostas de cada um dos players para o programa Artemis, que levará de novo o homem à Lua. Aí viu-se quem está nesta corrida.

Claro que estes atrasos foram imputados também ao Congresso dos EUA. Este organismo acabou por atribuir menos dinheiro do que o previsto. Conforme poderemos ver no quadro abaixo, é mostrado o custo do desenvolvimento de várias naves espaciais tripuladas usadas pela NASA.

Os custos são muito diferentes, no entanto, não há como fugir às evidências: a nave Crew Dragon da SpaceX é a mais barata de todas.

 

Calcular o preço que cada assento dentro da nave espacial

O próximo gráfico é interessante para vermos o preço diluído à unidade “ser humano colocado no Espaço”. É certo que este gráfico mostra como, apesar do custo destes projetos privados – que são especialmente dedicados aos altos salários dos engenheiros envolvidos nesta tarefa – a Crew Dragon da SpaceX tem um preço especialmente acessível para o desenvolvimento, assim como o Boeing Starliner.

Por outro lado, a Orion (Orion Multi-Purpose Crew Vehicle (MPCV)) é substancialmente mais cara que as restantes. Mas atenção, esta é uma nave espacial desenvolvida pela NASA para exploração humana do espaço profundo, construída para transportar astronautas à Lua, a Marte e a asteroides. Colocar um humano em órbita não é o mesmo que colocá-lo na Lua.

A imagem produzida pela Quartz mostra como o Boeing Starliner fará com que este bilhete suba de preço, algo que Musk criticou ao tweetar que “isso não parece certo”.

A estimativa de custo veio do Office of Inspector General da NASA (OIG), que afirmou que na Starliner seriam “cerca de 90 milhões de dólares” e cerca de 55 milhões de dólares para a Dragon Crew da SpaceX.

Apesar de haver informação consistente por parte das partes interessadas, na Boeing não concordaram com esta estimativa e deram um argumento interessante: enquanto a Crew Dragon pode transportar sete astronautas, quatro deles da NASA, a Starliner “voa com o equivalente a um quinto passageiro em carga útil para NASA, então o preço por assento deve considerar o uso de cinco lugares”. Posteriormente, a NASA admitiu que as estimativas do OIG precisavam ter em atenção este aspeto.

 

Qual a razão da proposta da SpaceX ser mais barata que a opção russa?

Este é um mercado muito complexo. Contudo, os especialistas apontam várias razões que permitiram à SpaceX lançar uma proposta mais barata que a oferecida pela Rússia com a Soyuz. Um dos fatores que pendem para a empresa de Elon Musk é o foco nesta área. A dedicação da empresa permitiu aprender e aperfeiçoar cada versão lançada. Cada parte do veículo era estudada por forma a ter em atenção o custo e, acima de tudo, a usabilidade. Um pouco à imagem com o que fazem as empresas de Musk. Mas não é tudo!

O projeto, desde o início, foca-se na reutilização dos veículos que fazem parte de qualquer missão. Esta capacidade de reutilizar os itens é marcante e, inclusive, inovador.

Os foguetes Falcon 9 são o exemplo perfeito desta reutilização, e como a SpaceX demonstrou que os estágios iniciais destes foguetes eram capazes de voltar à Terra para uso posterior em missões subsequentes, ficou claro que o custo destes lançamentos foi reduzido drasticamente.

 

OK, poupa-se em reutilizar foguetes Falcon 9, mas de quanto é a poupança?

Não há propriamente uma tabela que deixe clara essa informação. Contudo, tal como é fácil perceber, um dos maiores custos das missões é levar as cápsulas até ao Espaço. Portanto, esta primeira etapa representa uma boa parte do custo total do foguete Falcon 9 (cerca de 75%) e poder reutilizar significa que a cada nova reutilização o custo de todo o lançamento é amortizado cada vez mais.

O Falcon 9 Block 5, por exemplo, é a quinta versão do veículo de duas etapas que permitiu que a Crew Dragon fosse levada até à ISS. Contudo, esse mesmo foguete foi reutilizado desde a sua primeira missão em maio de 2018. Isto é, para termos uma ideia, este foguete já conta com 29 lançamentos. Segundo os seus criadores, estes foguetes haverão de atingir 100 reutilizações.

Houve outro elemento-chave na procura de soluções com o menor custo possível: a NASA delegou a empresas privadas e deixou-as basicamente “a lutar” para atingir este objetivo.

Conseguir estes contratos com a NASA é um sucesso, e aqui a Boeing e a SpaceX cuidaram bem para que os custos não disparassem, algo que numa abordagem mais tradicional com empresas públicas naõ seria bem assim!

Imagem da Crew Dragon, da SpaceX, pronta a partir para o espaço

 

SpaceX: Turismo espacial está nos objetivos a seguir

Não há dúvida que os preços, começando a baixar, a segurança a aumentar, o alvo é o turismo espacial. A NASA e as empresas parceiras olham já para este negócio com o olhar de um investidor. No entanto, a Rússia, que poderá ter perdido uma grande fonte de encaixe financeiro, poderá ter igualmente um cliente para substituir a NASA.

Apesar disso, parece que a missão Demo-2 já mostrou que é possível comercializar a idas ao Espaço. Aliás, como se tem falado, há já vários interessados. Conforme foi veiculado, Tom Cruise quer gravar um filme na ISS. Claro, nem tudo o que se quer, é possível de realizar, mesmo para o homem das missões impossíveis!

Portanto, neste domingo passado fez-se história porque abriu uma série de novos conceitos, oportunidades de negócio e uma nova forma de olhar para o Espaço.

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