ADN de micróbio ‘imortal’ poderá guardar informações para humanos do futuro
O conceito é delicioso. Investigadores querem usar um micróbio que é praticamente imortal e que pode ser o fiel depositário de informações biológicas dos seres humanos atuais. Informação que um dia, milhões de anos à frente, poderá ser útil a seres humano do futuro ou extraterrestres inteligentes.
Apesar de parecer um pouco de ficção, a ciência refere que faz sentido usar o ADN de um micróbio como cápsula do tempo.
Cápsula do tempo para preservar informações durante milhões de anos
Joe Davis está à procura da última cápsula do tempo. Ele quer preservar um registo da humanidade que possa sobreviver por éons, para ser lido por sucessores do Homo sapiens na Terra ou por extraterrestres sapientes. Assim, pelo que foi tornado público, este investigador parece ter encontrado o Santo Graal de armazenamento eterno.
Segundo Davis, o segredo está no ADN de um micróbio estranho que vive em depósitos de sal grosso. Ele acredita que este arquivo, protegido pelo sal e renovado pelo micróbio, poderia sobreviver durante centenas de milhões de anos.
É uma ideia visionária, devido tanto à arte como à ciência. Davis, um artista afiliado a um laboratório de biologia da Universidade de Harvard, faz a ponte entre os dois mundos. O seu projeto deu um passo em frente na semana passada com um estudo publicado na bioRxiv.
No estudo, Davis e os seus colegas mostram que podem codificar informações no ADN do Halobacterium salinarum (Hsal) - um micróbio tolerante ao sal e difícil de matar. Além disto, este micróbio tem outra formidável habilidade, em média tem 25 cópias de backup de cada um dos seus cromossomas.
Uma célula humana pode armazenar 300 megabytes de dados
Outros investigadores têm explorado o potencial de armazenamento do ADN, que acondiciona o equivalente a cerca de 300 megabytes de dados no núcleo de uma célula humana. Contudo, Davis está a combinar esta capacidade com a resiliência de um organismo extraordinariamente robusto.
Se quisermos manter os dados por muito, muito tempo, a melhor maneira de fazer isso pode ser segurá-los dentro das células e utilizar a maquinaria celular para a auto-reparação do ADN. Eles podem reproduzir-se conveniente e economicamente com pouca ou nenhuma intervenção.
Referiu o investigador.
Jeff Nivala, um engenheiro biológico da Universidade de Washington, Seattle, que estuda halófilos e armazenamento de ADN, concorda.
Para o armazenamento de arquivos ao longo de milhões de anos, esta pode ser uma grande aplicação. Se toda a outra vida for destruída na Terra, e isto for a única coisa que resta, talvez esta informação se possa propagar por si só.
Davis não tem formação formal em biologia, mas possuiu um histórico de transformar a biologia em arte da performance que às vezes o leva de volta à ciência.
Em 1987, para um empreendimento artístico chamado Microvenus, ele codificou uma representação da forma feminina no ADN da bactéria viva Escherichia coli - um feito que é amplamente citado como a primeira demonstração experimental de armazenamento de dados de ADN.
Hsal , o micróbio que resiste a quase tudo... quase tudo!
Assim, atualmente Davis está a trabalhar com um micróbio mais resistente do que a E. coli. O Hsal pode resistir à dessecação, extremos térmicos, vácuo prolongado e radiação intensa. Davis até o expôs ao óxido de etileno, um gás venenoso usado para esterilizar equipamentos de laboratório, sem efeitos percetíveis. Contudo, este micróbio tem o seu kryptonite: a imersão em água doce explode as suas células. Apesar disso, há forma de o transformar num quase imortal. Se este for enterrado em bolsas dentro de cristais de sal.
Existem outros métodos de armazenamento comercial em ADN, técnicas in vitro - encapsulando DNA sintético em vidro ou aço inoxidável. Contudo, os seres vivos poderiam preservar o ADN durante muito mais tempo.
Da teoria à prática
O primeiro passo do novo trabalho foi codificar os dados no ADN do micróbio Hsal. Como tal, Davis colocou no ADN do micróbio informação sobre uma imagem em 3D de uma agulha e de um ovo. Posteriormente, o investigador sintetizou a informação e alojou-a dento do ADN do Hsal.
Assim, este trabalho realizado irá permitir que se aprenda mais e que se tenha uma ideia do potencial dos micróbios como cápsulas de tempo.
Este artigo tem mais de um ano
A ciência ainda tem muito para aprender com a natureza..
uma chuvita e lá se vai o bicho…?!
Parece que sim !