Análise Little Nightmares 2 (Playstation 4)
Quando foi lançado originalmente em 2017, Little Nightmares destacou-se por ser um jogo diferente dos restantes. Um jogo que se caracterizava pelo ambiente sombrio e ameaçador em que decorria, e onde se destacava a extrema fragilidade do personagem controlado pelo jogador.
Agora, passados 4 anos, eis que chega Little Nightmares 2, desenvolvido também pela Tarsier Studios.
Já experimentámos o jogo. Venham ver...
Em 2017, os estúdios Tarsier surpreenderam com o lançamento de Little Nightmares. Tratava-se de uma aventura que acompanhava a história de Six, uma pequena e surpreendentemente frágil menina que se encontrava num mundo aberrante e ameaçador.
A sua fragilidade era constantemente colocada em evidência, não só pelo seu tamanho, mas também pela existência de seres ameaçadores naquele local que a perseguiam.
Agora, 4 anos após Six ter surgido nas nossas vidas, surge Little Nightmares 2, e o pesadelo continua.
Tal como no primeiro jogo, Little Nightmares 2 começa de uma forma sinistra e com mais dúvidas que certezas. Tudo começa com o (novo) personagem, de nome Mono, a acordar numa clareira de um bosque, sem saber onde está. Além de uma televisão estragada (imagem constante ao longo do jogo), Mono apenas tem o suave ondular da relva a fazer-lhe companhia e desta forma partimos para a aventura e desafios que nos esperam.
Mono, que equipa um casaco comprido e tem na cabeça um irritante saco de papel desde cedo encontra uma companhia bem conhecida: Six.
Esta será, tal como podem ler nas seguintes linhas, uma das principais chaves-mestra da aventura.
A união faz a força
Apesar de tanto Mono como Six serem duas crianças extremamente frágeis, isso não quer dizer que estejam completamente desprovidos de armas contra os perigos e obstáculos que se lhes deparam.
Acima de tudo, têm de contar com a sua união e com forte trabalho de equipa. Isso, pois Six não é uma companhia passiva. Muito pelo contrário, Six faz parte integrante da aventura e na resolução de alguns desafios.
Ambos têm de trabalhar em conjunto, através de várias mecânicas inteligentemente desenhadas pela Tarsier Studios e neste momento, convém deixar uma palavra especial para a IA de Six que consegue interpretar de forma muito coerente, as necessidades de Mono em cada situação.
Mono e a Cidade
Após o início nos bosques sinistros onde começa o jogo, Mono e Six atravessam outros terrenos, diversificados mas com um sentimento em comum: a fragilidade dos nossos heróis.
Seja nos pântanos repletos de nevoeiro, numa sala de aulas onde a grotesca professora tem um pescoço que estica, ou num parque infantil abandonado, Little Nigthmares 2 relembra-nos constantemente que somos pequenos... muito pequenos.
Em fórmula que vence, não se mexe muito e a Tarsier conseguiu novamente a criação deste universo perverso, urgente e apertado onde o jogador se vai sentir muitas vezes, pequeno e esmagado por tudo o que o rodeia. É uma sensação que já vem do jogo anterior.
A forma como o jogo é-nos apresentado com zoom in ou out consoante a ação, a música ou ausência dela em situações mais tensas, as luzes trémulas a iluminar as sombras... tudo isto ajuda a criar um ambiente tenso e que leva a que todo o jogo transpire uma sensação de perigo iminente.
Correr, escalar e esconder
A jogabilidade de Little Nightmares 2 é muito semelhante à do jogo original. Nem fazia sentido revolucionar o que funcionou tão bem da primeira vez. As mecânicas de entreajuda entre Mono e Six são as principais novidades do jogo, claro.
Com esta nova realidade a Tarsier ganhou uma forma de desenvolver novos desafios para o jogador. E digamos que a tarefa foi bem superada. A maior parte dos desafios propostos pela equipa da Tarsier apresentam-se bastante interessantes, sendo desafiantes e inteligentes na forma como se revelam.
Tudo isto faz com que a sensação de ultrapassar cada um, seja francamente recompensadora.
Tratam-se de mecânicas simples, mas extremamente eficazes no contexto do jogo. Por exemplo, em dada altura, o jogador terá de usar o peso de Mono para usar alavancas. Outro exemplo, será a necessidade de nos agarrarmos a cordas penduradas e ao baloiçar podemos ultrapassar abismos.
Como já perceberam, Little Nightmares 2 usa muito a física dos objetos e dos próprios protagonistas (Mono e Six). E tudo isto, de uma forma inteligente, credível e que se revela crucial para o decorrer do próprio jogo. Por exemplo, o lançar uma lata pode fazer cair um quadro que pode esconder uma passagem secreta.
Little Nightmares 2 consegue alguns momentos altos, pregando-nos alguns sustos valentes. O jogo usa de uma forma extremamente inteligente a pequenez de Mono e a sua fragilidade perante as monstruosidades que habitam este mundo colocando-nos em permanente estado de alerta. Mas, mesmo assim, há várias secções em que o jogador é apanhado desprevenido e os sustos acontecem.
E mesmo quando se trata de uma ameaça mais visível, como quando estamos a ser perseguidos, é notório o trabalho dos programadores em criar um desafio exigente e que nos puxa pela respiração. Existe uma verdadeira sensação de tensão no jogo e isso é bom... muito bom.
Tal como no primeiro jogo, a furtividade será a nossa principal arma. No entanto, também será necessário saber fugir de certas zonas. Essas fugas dependem muito da precisão e timing de movimentos e saltos para serem bem sucedidas.
Os seres que habitam este mundo são personagens estranhamente grotescos que, limitados pela sua natureza em termos de inteligência, são adversários difíceis de ultrapassar.
Um pouco em contrapeso com toda a fragilidade de Mono, existe algum combate em Little Nightmares 2. Isto acontece quando encontramos machados ou martelos e que podem ser usadas como arma. É um combate simples e sem possibilidade a resposta. Ou acertamos, ou morremos.
Mundo assustadoramente exuberante
Little Nightmares 2 apresenta um grafismo uns gráficos fantásticos. Pormenores como a relva ondulante dos primeiros cenários, passando pela lama suja e imunda nos pântanos, as salas repletas de pormenores nos prédios decadentes da cidade são mais-valias claras para o jogo.
A atenção ao detalhe e qualidade visual do que se vê está fantástica.
A escala a que o jogo está desenhado, mais os efeitos de luz e sombras acabam por criar um efeito assombroso de pequenez. Mono e Six são duas crianças pequenas e o jogo lembra-nos constantemente, e de uma forma esmagadora.
O som também um papel importante no jogo, pois ao mínimo ruído e... é tal a importância que nas secções onde temos de passar furtivamente, é fácil darmos por nós a suster a respiração também.
Como curiosidade, a Tarsier incluiu no jogo, alguns colecionáveis para encontrar que correspondem a novos chapéus para substituir o caixote que temos na cabeça.
Palavra final para... o final: inquietante.
Veredicto:
Em fórmula vencedora, não se mexe. Apenas se acrescenta um pouco mais e foi precisamente isso que a Tarsier fez em Little Nightmares 2.
A inclusão de um sistema de cooperação entre o nosso personagem principal (Mono) e Six, traz uma lufada de ar fresco a uma jogabilidade em conhecida do jogo anterior.
Quem gostou de Little Nightmares, irá certamente deliciar-se com Little Nightmares 2.
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