Análise F1 2021 (Xbox One)
Tal como a generalidade dos desportos, também a Fórmula 1 foi irremediavelmente afetada pela pandemia Covid de uma forma mais ou menos incisiva.
No entanto, as coisas aos poucos vão tendendo a atingir a normalidade... possível. E dessa forma, a Fórmula 1 encontra-se numa fase mais "normal" da época.
Para um videojogo que tem um lançamento regular e que acompanha as sucessivas épocas, tratou-se também de um desafio. Desafio aceite e concluído, pois a Codemasters já lançou F1 2021 e nós já experimentámos.
Tal como em todos os restantes aspetos da nossa vida, o Covid trouxe tremendas alterações na forma como vivemos, interagimos e agimos no dia a dia. No entanto, a adaptação a novos hábitos e rotinas aliada à vacinação em massa, encontra-se a criar uma certa sensação de regresso à normalidade. Mas ainda vai demorar um pouco mais a atingir um ponto próximo do que tínhamos no inicio de 2020.
E também os videojogos foram, de certa forma, atingidos com tudo o que se tem passado. Adiamentos, cancelamentos, lançamentos incompletos... muitos foram os diferentes desfechos de vários desenvolvimentos.
E, no que toca a jogos com lançamento anual, como é o caso da série F1, tudo isto acabou por se tratar dum desafio ainda maior. Toda a incerteza relacionada com os avanços e recuos da pandemia e respetivas medidas de contingência, criaram um desafio adicional que a Codemasters teve de ultrapassar no decorrer do desenvolvimento de F1 2021.
E conseguiu pois, F1 2021 já está entre nós e o Pplware já o experimentou.
Modo Carreira acompanhado ou a sós
Bem, mas vamos ao que interessa. Uma das mais-valias da edição do ano passado, foi o modo MyTeam. Foi na altura, uma lufada de ar fresco, em particular porque o jogo estava a encaminhar-se para um certo marasmo no que respeita a diferentes modos de jogo.
MyTeam é um modo Carreira multifacetado, que permite ao jogador começar a sua carreira da Fórmula 1. O jogador pode optar por ser o responsável máximo duma squadria (que pode criar de raiz), ou ser apenas o piloto e dessa forma acompanhamos a sua evolução desde a Fórmula 2 até à Fórmula 1.
Este ano, MyTeam regressa e apesar da receita manter grande parte da estrutura do ano anterior, apresenta alguns condimentos adicionais.
A novidade mais visível, é a possibilidade de se poder jogar MyTeam com outro jogador (nosso colega ou adversário). Com efeito, após o regresso do splitscreen do ano passado, a inclusão de um segundo condutor no modo MyTeam é uma excelente novidade.
O facto deste segundo jogador tanto poder ser da nossa equipa como não, torna as coisas bastante interessantes, pois tem o condão de tornar este modo numa interessante experiência que pode ser cooperativa ou competitiva. Ao escolhermos a opção Contracts no início, pode mesmo acontecer que, na primeira temporada os dois jogadores estejam na mesma squadria mas na segunda época, o segundo jogador possa ser contratado por outra equipa.
Por outro lado, foi adicionada uma opção Expert que, mantendo as Assists tradicionais, permite uma maior especificidade dos componentes da simulação. Afeta vários aspetos, tais como na quantidade de pontos de research ganhos com as nossas performances, ou no a quantidade e realismo dos danos sofridos com os embates.
Para os jogadores mais experientes, esta opção será a mais adequada, pois F1 2021 encontra-se no geral bastante simplificado para permitir facilmente a entrada de novos jogadores e esta definição Expert permite ... diferenciar os diferente graus de exigência de novatos e experientes.
Um dos pormenores que é mais visível no decorrer de uma temporada, é que existe uma maior incidência dos eventos a meio das diferentes semanas do calendário. Com efeito, a quantidade de eventos ou ocasiões de interesse que ocorrem semanalmente é maior e com uma maior diversidade. Isto faz com que o jogo também ganhe um pouco de emotividade extra entre corridas e que não seja um simples avançar no calendário.
Adicionalmente a árvore dos avanços R&D foi remodelada. No entanto, apesar de parecer mais arrumada na apresentação (deixa de haver a árvore com as várias ramificações, para haver um esquema linear mais limpo) acaba por retirar uma visão global dos desenvolvimentos em dado momento.
Mas, seja como for, os desenvolvimentos R&D têm agora um maior impacto no decorrer das semanas.
E neste capítulo do R&D, os treinos de cada Grande Prémio, ganham uma maior importância. Consoante os objetivos atingidos no decorrer dos nossos treinos livres podemos ganhar boosts de desenvolvimentos das diferentes áreas de R&D. É algo que faz sentido e que torna os treinos com uma sensação de maior propósito.
Os Patrocínios retornam este ano, como seria suposto, mas sem grandes novidades. Cada sponsor apresenta os seus critérios de aprovação à nossa performance, e introduz objetivos obrigatórios e secundários que nos dão mais ou menos dinheiro consoante as nossas prestações. Nada de novo, portanto.
Por fim, uma palavra para as opções de personalização da nossa equipa, piloto e carro que, não sendo tão abundantes e variadas como noutros jogos de carros, acabam por satisfazer quem se der ao trabalho de usar os vários editores.
Braking Point
Outra grande novidade de F1 2021, foi a introdução de Braking Point naquela que parece ser uma aproximação da série F1 a outras franquias da Electronic Arts, como FIFA, por exemplo.
Braking Point, é um modo de história que tem um enredo próprio (leves recordações a The Journey de FIFA) e que coloca o jogador na pele de um piloto novato, nestas andanças da Fórmula 1, Aiden Jackson.
Não querendo ser demasiado spoiler, Braking Point acompanha a evolução de Jackson desde a Fórmula 2 até à Fórmula 1 e com o decorrer da história assistimos a um pouco de drama e intriga na forma como este piloto novato é recebido no mundo de elite da Fórmula 1.
É uma história interessante qb que nos permite acompanhar a ascensão e declínio deste novo piloto, enquanto avança no campeonato e vai criando amizades e rivalidades (vamos ver uma cara conhecida), com respetivos desapontamentos e alegrias...
Parece que Braking Point seja o pontapé de saída para algo mais... será? Talvez algo como The Journey que se lançou ao longo de 3 versões de FIFA.
Voltando à história de Braking Point, nota-se que ainda existe algum trabalho a fazer, pois, o fio condutor da história acaba por esmagar qualquer situação que fuja do que está previsto. Por exemplo, a obtenção de resultados extraordinários, acaba por não ter a devida relevância no decorrer da história.
Se alcançarmos o objetivo exigido, independentemente de o conseguirmos superar, é suficiente para avançar, ficando a sensação de que o esforço não é devidamente recompensado e que a história é demasiadamente linear.
Quanto aos vários objetivos que nos são propostos acabam por ser na sua maioria, acessíveis. Convém não esquecer que o sistema de ajudas também pode ser usado para os tornar mais acessíveis.
Alguns desses objetivos podem passar por não sermos ultrapassados por nenhum outro piloto, ou termos de ultrapassar um certo numero de carros e garantir uma determinada posição final, conseguir terminar uma corrida com a caixa de velocidades destroçada. São tudo objetivos que derivam do enredo de Braking Point e que encaixam bem na história, sendo uma forma interessante de apresentar uma novela sobre Fórmula 1.
Sendo uma história, Braking Point vive de muitas cutscenes e sequências cinemáticas que, na sua maioria, se encontram boas. No entanto, e apesar de na Xbox One já começar a exigir maior capacidade de processamento. Aliás, esse é um ponto comum a todo o jogo, a Xbox One ainda corre bem o jogo, mas com a Xbox Series X, torna-se evidente que será muito melhor.
Asfalto sem grandes mudanças
Quanto ao asfalto, o local onde a magia realmente acontece, este ano parece que, além de alguns ajustes a Codemasters não mexeu muito.
Parece que neste aspeto a Codemasters optou pela fórmula de que "se funciona bem, não se mexe muito para não estragar" e, com efeito, os pequenos ajustes que se sentem são mínimos.
Por exemplo, na aerodinâmica dos veículos, sente-se uma maior aderência às pistas e reparei também que a sensação de velocidade no cockpit parece ser um pouco mais intensa.
Realmente, a fisica dos carros parece ter recebido alguns toques subtis o que faz com que o tuning feito no decorrer dos treinos livres dos Grandes Prémios, têm um impacto maior na condução (consoante as pistas). Muitas vezes essas décimas de segundo fazem toda a diferença. Especialmente se formos retirando as ajudas gradualmente.
A IA encontra-se competente e à medida que lhe vamos dando mais inteligência e retirando ajudas, vamos sentindo realmente a dificuldade a aumentar. Acontecem ocasionalmente algumas situações menos inteligentes mas, também na realidade acontecem...
Mais atrás referi que o peso dos anos já se começa a fazer sentir em F1 2021 e, algo que nunca chegou a ser devidamente aprimorado, foram as corridas com chuva, parecendo muitas vezes demasiado artificiais. Enquanto que na condução o comportamento dos carros se mantém, continuam-se a notar as quebras na qualidade gráfica.
De uma forma resumida, a jogabilidade de F1 2021 encontra-se semelhante à do ano passado. Apesar dos ajustes aqui ou ali, a sensação e excitação de conduzir um destes bólides é igual à do ano passado, o que quer dizer, é excelente.
E mais... tal como referi acima, trata-se de um jogo amigo dos iniciantes graças à quantidade de ajudas que disponibiliza mas, não descura os veteranos que conseguem também, ter toda a exigência que pretendem ter numa experiência de condução de Fórmula 1.
Modos de Jogo para todos os volantes
Quanto aos modos de o jogo, além do MyTeam e Braking Point que já referi, assistimos ao regresso de todos aqueles que normalmente estaremos à espera de encontrar.
Refiro-me aos modos tradicionais jogos casuais, ranked games, enveredar por eventos semanais ou ligas.
Quanto aos eSports, F1 2021 apresenta uma secção especifica para F1 Esports. Deixa logo no ar a sensação de que F1 2020 irá passar à história e em breve, será F1 2021 a tomar as rédeas das competições online.
De resto tudo na mesma. Cada jogador tem a sua Super Licence, que é o seu cadastro público que revela o seu comportamento em pista, a sua honestidade, os seus recordes, e a sua habilidade. Isso permitirá excluir ou incluir jogadores, com base no seu cadastro nas corridas online.
Uma ausência que se nota nesta edição, é a dos carros clássicos de outros tempos. Além de trazer desafios únicos, também traziam uma jogabilidade mais diversificada e que obrigava os jogadores a adaptarem-se à sua condução.
No decorrer das corridas, especialmente durante o modo carreira, seria interessante que os comentários dos comentadores pudessem dar outros tipos de informações sobre o resto da corrida. Por exemplo, informar sobre acidentes e entre quem, ou como se estão a comportar outros pilotos (sem ser o nosso rival direto, companheiro de equipa ou imediatamente seguinte/anterior). Um diálogo mais diversificado seria bem vindo.
Uma palavra final para o tremendo trabalho que a Codemasters manteve na recriação do ambiente mais exitante que envolve o antes e o depois de um Grande Prémio. A apresentação das pistas, dos pilotos, da grelha de partida.... passando no final para os Highlights das corridas, para a análise da performance... soberbo.
De lamentar que todo esse ambiente fantástico, não passe completamente para quando pegamos no carro, dando a sensação das bancadas estarem algo mortiças com um público mais apático e sem alma.
Veredicto:
Toda a emoção (pelo menos, a possível nos tempos que correm) da Fórmula 1 está de volta com F1 2021. A Codemasters pegou na fórmula vencedora que tem apresentado ao longo dos últimos anos e apimentou-a com algumas ideias novas e outras melhorias, nomeadamente ao nivel do MyTeam e do novo Braking Point.
Com uma condução dos veículos que recebeu ajustes aqui ou ali mas que se manteve fiel ao seu passado recente, F1 2021 continua a ser a simulação de eleição para apreciadores de Fórmula 1.
Quem sempre gostou da série F1, vai continuar a gostar e quem quiser experimentar, vai ter aqui uma das entradas mais acessíveis da série até à data.
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