No rescaldo das eleições europeias de maio último, a União Europeia avaliou o desempenho das suas políticas e iniciativas detratoras das notícias falsas. Avaliaram, por exemplo, o Facebook, o YouTube e o motor de busca Google. Além disso, no relatório oficial, as conclusões ligam a Rússia às redes sociais e à abstenção.
Ainda assim, o balanço geral é positivo, com vários pontos a merecerem destaque.
Ciente do impacto das redes sociais no dia a dia dos cidadãos europeus, a União Europeia lançou um esforço prévio para mitigar a disseminação de notícias falsas. Fê-lo logo no início de 2019, com o intuito de precaver as eleições europeias de maio. Foi um esforço coordenado entre os vários órgãos supranacionais.
Adesão histórica às Eleições Europeias de 2019
Como resultado, as eleições europeias tiveram a maior adesão dos últimos 20 anos (50,97%). No entanto, em Portugal a adesão às urnas foi de 30,37%, resultado historicamente baixo. O primeiro destes valores, tal como frisa o relatório da Comissão Europeia, “reflete o interesse dos cidadãos pela União Europeia“.
No entanto, tal como a própria o coloca, não há espaço para complacência. Ciente que a desinformação é uma arma cada vez mais poderosa, sobretudo quando associada às redes sociais, temos uma preocupação crescente em mãos. Algo que obriga vários orgãos a estar constantemente atentos e sempre a evoluir.
Assim sendo, o relatório cita fontes russas e atores ligados à Rússia como agentes de subversão. As conclusões surgem cerca de um mês após o ato eleitoral. Aí, antes de mais, temos um recapitular do plano posto em ação para mitigar as notícias falsas propagadas através das redes sociais. Seja o Facebook, YouTube, Google, etc.
Que resultados surtiu o plano da União Europeia?
Além da sua apresentação, o plano cujas fases podem ser apreendidas pela imagem acima, partilhou várias métricas. Houve bastante progresso, ainda que este seja avaliado pela quantidade de canais, de notícias e de contas desativadas pelas redes sociais como o Facebook, a plataforma de vídeos YouTube e a Google.
Por exemplo, o relato cita os mais de 600 grupos de Facebook e páginas que operavam em território europeu e que foram desativadas nas vésperas da eleição. Ao ser detetado que estas divulgavam notícias falsas, ou mais concretamente, desinformação, as mesmas foram removidas da plataforma do Facebook.
Ao mesmo tempo, entre os pontos removidos das redes sociais temos o discurso do ódio, ou os perfis falsos para fomentar atividade partidária. Em síntese, perfis criados para influenciar conteúdo associado a partidos políticos, aumentando a sua exposição com partilhas, comentários e demais interação.
Entre si, as mais de 600 páginas e grupos geraram mais de 763 milhões de visualizações por utilizadores únicos. Adicionalmente, foram descobertas várias iniciativas de larga escala para manipular as intenções de voto em pelo menos nove Estados Membros.
Louvor ao Facebook, críticas ao Twitter, Google e YouTube
O relatório destaca ainda a política de transparência implementada pelo Facebook, sobretudo na moderação do seu motor de anúncios. Por oposição, o Twitter, a Google, bem como o YouTube, estão no lado oposto. Ambas as empresas norte-americanas não tomaram iniciativas de maior para precaver o mau uso dos seus anúncios.
Ainda assim, o relatório lança dúvidas sobre a ação de todas as redes sociais. Questionando a eficácia das medidas tomadas mesmo pelo Facebook, a plataforma que mais colaborou. A União critica a falta de interesse da indústria da publicidade ao não querer mudar o status quo perante o risco de fomento da desinformação.
A União quer que todas as redes sociais e plataformas online implementem mais meios de controlo da informação na forma de fact-checkers. É igualmente pedida uma cooperação em todos os Estados Membros para garantir um combate bem-sucedido à desinformação. Desde a sua deteção à rápida remoção.
Por fim, a União Europeia quer que as redes sociais e agentes online partilhem mais informações com os investigadores. Tudo isto sempre em linha com a proteção da privacidade dos utilizadores e com o intuito de alertar quem verifica os factos para as tendências, novos atores e outros fenómenos online.
As redes sociais e as ligações à Rússia
Um dos pontos gritantes do relatório é a sua menção específica a agentes e fontes ligadas à Rússia com o intuito de incentivar a abstenção. Mais concretamente, uma ação muito discreta, mas “continuada e sustentada” com vista à propagação de desinformação no espaço europeu.
Incapaz de precisar um só agente, ou uma só fonte, nem mesmo uma só área de ação, a União Europeia aponta várias áreas de influência e exploração de pontos controversos. Desde a falência do sistema europeu, à imigração em massa. Aliás, até mesmo a tragédia da Notre Dame foi utilizada pelos agentes supracitados.
“O declínio dos valores ocidentais e cultura cristã na União Europeia“. Uma das expressões mais transversais a todos o relatório, sempre com o intuito de sonegar a vontade dos eleitores no ato de votação. Para tal, a tónica foi colocada na insignificância do Parlamento Europeu, a título de exemplo.
O que fez a Google, o YouTube e o Facebook?
De janeiro a maio, as plataformas online e redes sociais tomaram várias ações. Sempre visando a remoção de conteúdo inautêntico das suas estruturas, bem como a contenção do spam e desinformação à escala global. Assim , a Google removeu mais de 3,39 milhões de canais na sua plataforma de vídeos, o YouTube.
Além disso, removeu outros 8600 canais de YouTube por violações contra o spam, colocação de ligações para o exterior na descrição. Foi também exacerbado o rigor no combate aos vídeos que se faziam passar por outra pessoa, muitas vezes um ator político..
Já, por sua vez, o Facebook suspendeu 2,19 mil milhões de contas falsas na sua plataforma durante este período. Além disso, tomou ações específicas contra 1547 páginas não baseadas na Europa. O mesmo sucedeu com 168 páginas baseadas no espaço europeu. Já o Twitter removeu cerca de 77 milhões de perfis falsos.