As bases de dados são, aparentemente, conteúdos invisíveis. Por estarem guardadas em nuvens e computadores, não é do conhecimento geral a infraestrutura que implicam, nem o impacto que resulta do seu armazenamento e gestão. Depois de anos consecutivos de recolhas desmedidas de dados, a ‘Dark Data’ está a provocar uma pegada de carbono preocupante.
Os especialistas avisam que é essencial fazer algo no sentido de resolver este problema.
Atualmente, com a evolução tecnológica e a informatização dos processos, a recolha de dados é um dos termos na ordem dos dias, gerando debates e discussões, que envolvem principalmente a privacidade dos utilizadores. Afinal, há cada vez mais empresas a recolher, processar e armazenar dados digitais. Muitas vezes, esses dados são utilizados uma única vez, sem nunca serem reutilizados.
A par disso, nuvens, como o Google Photos, a iCloud, ou outras, armazenam dados de milhões de utilizadores, desde fotos muito semelhantes, folhas de cálculo desatualizadas que nunca mais serão usadas pelas empresas, incontáveis e-mails que de nada vão servir, a médio-longo prazo, até dados de início de sessão ou de pesquisa.
Embora a maioria dos ativistas que apelam a que sejam concretizadas mudanças no sentido de moderar as alterações climáticas estejam concentrados na indústria automóvel, aeronáutica e energética, o processamento de dados digitais já é comparável a estes setores, mesmo estando ainda a crescer. Aliás, apesar de a atenção política não estar voltada para a pegada de carbono digital das empresas e das organizações, em 2020, a digitalização já foi responsável por 4% das emissões globais de gases com efeito de estufa.
Se este ano se espera que o mundo gere 97 zettabytes (ou seja, 97 biliões de gigabytes) de dados, em 2025, prevê-se que este valor quase duplique, chegando aos 181 zettabytes. Estes números representam um gasto energético que, para muitos, é inexistente.
Dados sem utilidade, mas que ocupam espaço e gastam energia
Assim como as bases que possuem dados que são utilizados frequentemente, a ‘Dark Data’ também requer energia, na medida em que, mesmo não sendo utilizada, ocupa espaço nos servidores. Estes são, tipicamente, computadores, que forram grandes armazéns e que implicam um gasto enorme de eletricidade.
Essa energia tem um custo significativo, financeiro e ambiental, pelo que nem todas as organizações e empresas são transparentes relativamente a ele. Numa vontade que se conhece como recente, muitas organizações têm, contudo, tentado reduzir a sua pegada de carbono.
De acordo com o Science Alert, o foco tem sido a redução das fontes tradicionais de produção de carbono, através de mecanismos como a compensação de carbono por terceiros.
Descarbonização digital é a solução para o crescimento desmedido da ‘Dark Data’
Os especialistas Tom Jackson, professor de Information and Knowledge Management, na Loughborough University, e Ian R. Hodgkinson, professor de Strategy, na Loughborough University, partilharam o conceito de descarbonização digital, que tem como objetivo ajudar a reduzir a pegada carbónica associada à digitalização.
A descarbonização digital não é a utilização de smartphones, computadores, e outras tecnologias digitais, por forma a reduzir a pegada de carbono de uma organização. Por sua vez, é a redução da pegada de carbono dos próprios dados digitais.
Para ilustrar a gravidade do problema associado à ‘Dark Data’, o Science Alert explicou que os centros de dados (2,5%) têm uma pegada de carbono maior do que a indústria da aviação (2,1%). De ressalvar que, apesar de a digitalização não ser uma questão ambiental, existem impactos ambientais que dependem da forma como gerimos os processos nas atividades diárias.
Através de uma ferramenta desenvolvida por si, os dois professores utilizaram cálculos para explicar o custo carbónico dos dados para uma organização. Os resultados dizem que um negócio típico orientado por dados, como seguros, retalho, ou banca, com 100 empregados, pode gerar 2.983 gigabytes de ‘Dark Data’ por dia. Se o negócio guardasse esses dados durante um ano, representariam uma pegada de carbono semelhante a voar seis vezes de Londres para Nova Iorque. Ao adaptar estas projeções para a atualidade, entendemos que as empresas produzem 1.300.000.000 gigabytes de ‘Dark Data’ por dia, ou seja, 3.023.255 voos de Londres para Nova Iorque.
Os especialistas estão preocupados com o rápido crescimento da ‘Dark Data’, levantando questões sobre a eficiência dos atuais processos digitais. Então, num estudo publicado no Journal of Business Strategy, os dois professores identificaram formas de ajudar as organizações a reutilizar dados digitais, destacando os caminhos que estas devem seguir na recolha, processamento e armazenamento de novos dados.
Apesar de o tema ser abordado em grande escala, envolvendo empresas e organizações, as pessoas podem, por si só, reduzir a pegada carbónica gerada pelos seus dados. Por exemplo, apagando fotografias ou vídeos semelhantes ou de que já não precisam.
Caso possua uma empresa, ou pretenda ver em que ponto está aquela para a qual trabalha, segundo os cálculos dos professores da Loughborough University, pode aceder à ferramenta que eles criaram aqui.
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