Artigo de Opinião: A utilização educativa da tecnologia
Abordagem da robótica educativa e da impressão 3D
A Diretora Geral da UNESCO, Irina Bokova, afirmava que a engenharia e a tecnologia tinham transformado o mundo em que vivemos, sobretudo nos últimos 150 anos. Esta mudança vertiginosa, muito mais acentuada nos últimos 20 anos, faz que a mistifiquemos como se fosse magia e que depositemos nela expectativas de um mundo melhor, esperanças que dificilmente a tecnologia poderá cumprir se a não colocarmos no lugar que lhe corresponde: a tecnologia apenas ajudará as pessoas se as ajudar a ser pessoas. Ou seja, se fomentar a sua criatividade, a sua capacidade de construir, de criar, de inventar, de inovar.
Ultimamente fala-se de educação 2.0 e de escolas TIC, onde os quadros de giz cederam o passo a projectoresprojetores e quadros digitais e os tablets substituíram os cadernos, como se fossem revolucionar a relação com as crianças (e futuros adultos) com o conhecimento e a tecnologia. Mas será que isto supõe uma mudança tão radical? Os alunos aprendem algo desta tecnologia ou utilizam-na unicamente como uma ferramenta passiva?
A abordagem da robótica educativa e da impressão 3D que, pouco a pouco, vai chegando às salas de aulas, é completamente oposta. Estas duas tecnologias aplicadas à educação partilham a mesma filosofia DIY (faça você mesmo), que, pouco a pouco, se vai transformando num novo termo, DIWO ("Do it with others", faça com outros). O movimento maker (com outros, em comunidade) tem por objectivo que as crianças possam converter o que imaginam em algo real, dotando-as da capacidade de fabricar e criar coisas elas próprias. Por exemplo, se uma criança pensar num objecto, criando-o com um programa de design para depois imprimi-lo em 3D, terá convertido um produto da sua imaginação em algo real e, além disso, terá aprendido como fazê-lo. A impressora 3D é o exemplo de uma tecnologia que levanta a criança do sofá para colocá-la “mãos à obra” no sentido mais literal da expressão.
Mas esse objecto impresso ajuda-as, além disso, a compreender de forma prática outras áreas do conhecimento como, por exemplo, se imprimir cadeias de química em Ciências ou mapas topográficos em Geografia. A impressão 3D complementa a educação do mundo das ideias, faz do conhecimento abstracto algo prático e, além disso, dá às crianças liberdade de criação. E esta é que é a verdadeira educação.
Analisando esta questão, tudo é muito mais simples do que aquilo que parece ao princípio. Por exemplo, os robots que tanto mistificamos são apenas hardware, software e design. São concebíveis e programáveis tendo os conhecimentos necessários, mesmo por crianças. De facto, com ajuda de um adulto ou de outros companheiros, são totalmente capazes de criar o seu próprio robot partindo do zero (neste sentido, acredito na importância da robótica real, não de brinquedo, mas adaptada à idade dos alunos).
Para programá-lo, existem linguagens de programação por blocos (nós próprios desenvolvemos uma, a bitbloq) que permitem às crianças fazê-lo de forma simples e acessível. E se o professor quiser ir mais longe, pode imbricar estas duas tecnologias eruptivas e fazer que os seus alunos concebam e imprimam as suas próprias carcaças para os seus robots.
E o que ocorre com o papel do professor?
Ora, passou de ser quem tem o conhecimento e se limita a transmiti-lo aos alunos, a ser o guia que os orienta para que esse conhecimento seja realmente proveitoso e transforme a realidade. Antes os estudantes só podiam aprender ouvindo as aulas dos professores, agora que a informação é livre e que se encontra disponível para todos na Internet, o professor tornou-se mais orientador e guia, alguém que percorreu o caminho antes e pode nos dar uma ajuda na qual confiamos.
Com tudo isto, convido a reflectir sobre a utilização educativa da tecnologia. A sua utilização passiva não supõe uma revolução nem vai converter as crianças de hoje em artesãos do amanhã. Diria mais, a tecnologia desconhecida promete um futuro melhor mas nunca será capaz de cumprir as suas promessas. Por isso, as crianças devem aprender a criar e fabricar elas próprias, percebendo o que pode e não pode fazer a tecnologia e colocando-a no lugar que lhe corresponde: o do instrumento que torna a pessoa mais humana.
Alberto Valero - Departamento Inovação e Robótica na BQ
Alberto Valero é formado em Engenharia Industrial, pela Universidade Politécnica de Madrid. Especializou-se em Automática, Eletrónica e Informática tendo colaborado como estudante durante mais de 3 anos com o grupo de Robótica desta universidade. Fez um Doutoramento na Universidade de Roma La Sapienza, no programa de Robótica e Inteligência Artificial, centrando a sua tese nos robots móveis. Estudou ainda dois anos em filosofia.
Durante 2,5 anos foi professor visitante na Universidade Carlos III de Madrid, ensinando Robótica, Programação e Automatização Industrial. Em conjunto com Juan González Gómez fundou um grupo de estudantes dedicado ao desenho, fabrico e montagem de robots impressos (com impressoras 3D). Centraram a sua investigação no desenvolvimento de programas educativos destinados a ensinar os fundamentos da robótica, tanto a nível de desenho como de programação, o uso das impressoras 3D na educação e a aprendizagem multidisciplinar através da robótica livre e de baixo custo. Integrado neste projeto educativo e de investigação nasceu a comunidade de Impressão 3D Clone Wars (http://www.reprap.org/wiki/Proyecto_Clone_Wars), já amplamente divulgada por toda a Espanha.
Este artigo tem mais de um ano
Parece tudo muito bonito.
A escola acima de tudo serve para educar e ensinar aspectos essenciais da sociedade e parte do conhecimento básico para se ter sucesso na vida. Acredito que as tecnologias são benéficas para a evolução sustentável da humanidade até certo ponto. Será mais ecológico a utilização de cadernos, ou a utilização de um dispositivo electrónico que permita escrever? Tera o estado capacidade financeira de dotar escolas com impressoras 3D? não será mais simples e criativo ensinar nas disciplinas já existentes como E.Visual a fazer origami, ou Olearia, entre outros?
Sou portador de baixa visão e, há alguns anos atrás, fiz uma formação numa instituição para deficientes visuais. Um dos aspectos que me chamou a atenção foi a dificuldade e pouca sendibilidade dos formadores para a necessidade de explicarem certos conceitos abstratos recorendo à sua concretização/materialização, sobretudo, no respeitante às pessoas cegas de nascença.
Provavelmente, a possibilidade de utilização das impressoras 3D na educação/formação de poessoas portadoras de deficiência visual constituirá uma ferramenta bastante valiosa para educandos/formandos e professores/formadores.
Abraço,
Melo
barato pff que a malta gosta
como professor ligado às tic na escola, quer na disciplina, quer em projectos, quer como gestor dos sistemas que asseguram o funcionamento de uma escola hoje em dia devo dizer que subscrevo esta visão. mas sublinho que o mero despejar de equipamentos nas escolas com projectos grandiosos mas uniformizadores é contraproducente. veja-se o falhanço óbvio do magalhães, ou a inutilidade dos quadros interactivos. há cada vez mais grupos de professores que apostam em projectos bem concebidos, assentes em visões estratégicas de médio prazo que sabem equilibrar as necessidades pedagógicas com inovação tecnológica nas escolas. há projectos na programação, robótica, open hardware e 3d que ultrapassam a mera utilização de ferramentas office no apoio à pesquisa e tratamento de informação.
preparar as crianças para os desafios que as esperam implica mais do que treinar conhecimentos rotineiros. no domínio da tecnologia importa e muito mostrar-lhes que são ferramentas versáteis e que a sua criatividade é o limite, e não as limitações impostas por uma visão do digital cada vez mais virada para o consumo. querem que os vossos filhos sejam meros consumidores, ou indivíduos activos e criativos, capazes de reagir aos desafios inconcebíveis que o futuro lhes trará?
introduzir, estimular, ensinar a criar. mas, repito, subjacente têm de estar visões estratégicas adaptadas às necessidades de cada escola e não romantismos megalómanos de despeje-se computadores e um milagre acontecerá. pessoalmente estou neste momento a caminhar para ter uma impressora 3d na minha sala de aula, mas por detrás disto está uma ideia que mistura várias disciplinas e aposta em projectos concretos e não o ter a impressora só por ter.
esta estratégia da bq é interessante porque soube olhar para o panorama de vanguarda das tic na educação e… unificou num pacote único. têm programação, robótica e 3d printing. tudo coisas que ou já se fazem (scratch, kodu, lego mindstorms, robot farrusco) ou são possíveis. só lhes falta o design (mas isso é típico da malta de informática, sempre tão atarefada com hardware e linhas de código que se esquece do desenho, tão importante para afinar as ideias).
Nem mais! Apoio a 100%
Só uma coisa.
A Directora Geral da UNESCO, Irina Bokova, abordou e muito bem, o aspecto em geral da tecnologia, repito em geral, com o que terá de bom e o que terá de mau. Eu sou um adepto das novas tecnologias, mas reconheço que a maior parte delas, não veio facilitar a vida ao Ser Humano, que é o seu objectivo primordial. Antes pelo contrário, (entendam desta afirmação o que quiseram). O que penso não será para meia dúzia de palavras.
Posto isto. O que é que, a impressão em 3D, uma formiga no formigueiro, é dada como adquirida e até parece ser por si só, a única e exclusiva tecnologia propriamente dita, mais nada existe, para além?
Duas ou três linhas a falar dos malefícios e benefícios da tecnologia em geral, e depois um romance acerca da impressão em 3D. !!!