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Klarna despede 700 funcionários através de um vídeo e revela os seus dados pessoais online

O mundo da tecnologia, serviços digitais e outros ligados à internet, estão a ser alvo de despedimentos em massa. Vários países estão a sofrer as consequências da guerra na Ucrânia, no embargo ao mercado russo, devido à inflação e à instabilidade económica global. Uma empresa visada por esta crise, a fintech sueca Klarna, despediu recentemente 700 funcionários. O método, cada vez mais usado, foi um vídeo pré-gravado onde o CEO despediu os seus colaboradores.

A empresa, que chegou a Portugal no final do ano passado, era especializada em crédito digital para compras de retalho, do tipo “compre agora e pague depois”.


Os despedimentos da Klarna, ao contrário de outras empresas tecnológicas que também despediram alguns dos seus empregados, como a Netflix, são impressionantes por duas razões.

A primeira é que a empresa sueca juntou-se à tendência de o anunciar através de um vídeo pré-gravado em que todos os afetados são informados em simultâneo. A segunda, porque o CEO da empresa publicou no LinkedIn uma série de informações pessoais de 570 destes empregados, o que poderia ser uma violação do direito à proteção de dados de todos eles.

Publicação dos dados

O facto do CEO revelar esta informação pode ser prejudicial, contudo, essa não foi a interpretação do administrador. Segundo as suas declarações, a intenção do CEO da Klarna ao publicar os dados destes empregados foi, aparentemente, boa. Isto é, ele queria facilitar a contratação dos mesmos por outras empresas.

Para o efeito, divulgou através do seu perfil no LinkedIn uma lista alojada no Google Drive com o nome, cargo, local de residência, link para a conta do empregado na rede social para profissionais, as suas preferências por trabalho remoto ou no local e os seus e-mails pessoais.

Espero que todos compreendam o que é uma mina de ouro este documento. Alguns recrutadores devem ignorar o LinkedIn ou outros canais durante alguns dias e colocar toda a sua energia nesta lista. Tenho a certeza que estas pessoas não estarão disponíveis por muito tempo.

Diz o CEO da Klarna Sebastian Siemiatkowski no seu perfil.

No entanto, as críticas têm-se multiplicado quanto à forma como a Siemiatkowski tentou deslocalizar os seus empregados despedidos, uma prática comum em empresas que têm de despedir trabalhadores, que consideram competentes por razões económicas, mas que geralmente é feita através de canais privados.

De facto, o chefe da Klarna teve de remover rapidamente os e-mails pessoais do documento, embora o resto dos dados ainda esteja disponível.

Um dos primeiros a criticar a publicação destes dados foi o sindicato financeiro sueco Finansforbundet, que pediu uma explicação à empresa. Vários utilizadores do LinkedIn salientaram também que a exposição pública de informações como os endereços eletrónicos pessoais destes antigos empregados é prejudicial para eles.

Uma jogada de marketing?

Se a iniciativa é impressionante e desastrosa, não é menos curioso que a ideia original de publicar esta lista não tenha vindo do departamento de recursos humanos da empresa, mas sim do departamento de marketing. Nos comentários ao post do LinkedIn da Siemiatkowski, o chefe de marketing de Klarna, J. Tyler Wilson, admite ter organizado esta publicação.

Portanto, as boas intenções da publicação desta lista defendida pelo seu Diretor Executivo são postas em causa, uma vez que se a ideia surgiu do marketing, é uma ação para tentar reduzir o impacto negativo dos despedimentos aos olhos do público e melhorar a imagem da empresa, e não uma iniciativa cujo principal objetivo seria ajudar os trabalhadores que estão a ser despedidos.

Claro, mais bizarro ainda é a frieza da mensagem de despedimento. A Klarna juntou-se à crescente lista de empresas que consideram uma perda de tempo comunicar pessoalmente o despedimento ao empregado em questão.

Siemiatkowski decidiu despedir os 700 empregados afetados, que representavam cerca de 10% da sua mão de obra, ao mesmo tempo, através de um vídeo pré-gravado no qual salientou que a empresa tinha de enfrentar estes despedimentos devido ao desenvolvimento da guerra na Ucrânia, ao acentuado aumento da inflação, à alteração dos hábitos de consumo, à volatilidade da bolsa de valores e a uma provável recessão.

A fintech sueca Klarna, que permite fazer compras online parceladas, entrou no mercado português em novembro de 2021. A empresa vinha rotulada como um dos nomes mais conhecidos da tendência “buy now pay later” (BNPL), algo como compre agora e pague mais tarde.

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