Consegue prescindir dos dispositivos móveis por alguns dias?
São cada vez mais os casos de pessoas afectadas por um novo síndrome dos tempos modernos, o stress do "always on" associado à utilização desmedida dos dispositivos móveis.
Se para muitos utilizadores os tablets e os smartphones vieram revolucionar a forma como trabalhavam, com horários mais flexíveis, a verdade é que para tantos outros, estas tecnologias, sempre ligadas à Internet, estão a transformar-se numa verdadeira doença que começa a ser preocupante.
Se está de férias e a primeira coisa que faz de manhã é verificar o e-mail do trabalho, se fica ansioso porque a ligação Wi-Fi do hotel onde está instalado não funciona convenientemente, se fica preocupado quando o seu smartphone tem pouca bateria e não vai poder dar atenção aos seus contactos durante algumas horas, então poderá sofrer de uma nova forma de stress causada pelo vício por dispositivos móveis, é o chamado "always on", ou em português, "sempre ligado".
Para algumas pessoas, os dispositivos móveis, sempre ligados à Internet, vieram trazer uma libertação dos horários de trabalho rígidos. Os smartphones e os tablets vieram permitir horários de trabalho mais flexíveis, maior autonomia dos trabalhadores para organizarem as suas vidas profissionais e por conseguinte uma melhor gestão do tempo para passar com amigos e família.
Contudo, muitos outros ganharam uma enorme dificuldade em saber distinguir o tempo de trabalho com o tempo de lazer, tornando-se verdadeiros escravos destes dispositivos, não se dando ao luxo de se desligarem da tecnologia, de relaxar e de usufruir da companhia dos que os rodeiam.
Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal
Quando se utilizam estas tecnologias como ferramenta principal de trabalho, chega-se a um ponto em que não se consegue distinguir o momento para aproveitar a companhia dos amigos e família e o momento para responder a um e-mail do chefe.
Já há quem recorra a aplicações que monitorizam a utilização do smartphone, como por exemplo a Moment, desenvolvida com o objectivo de promover o equilíbrio na vida de cada utilizador, permitindo ver quanto tempo passa agarrado ao smartphone e a criação de alertas de utilização.
Depois existem algumas entidades empregadoras conscientes que não permitem que os seus trabalhadores não sejam contactados durante as suas férias, por exemplo.
Sempre a pensar no trabalho
Chegar a casa e estar sempre a falar dos problemas do trabalho já não é bom para qualquer pessoa, mas se para casa ainda se leva o smartphone e se se continua a trabalhar e a estar disponível a qualquer hora, é ainda pior. Não pelo trabalho que se vai concretizando, mas pelo bem estar da pessoa.
Uma psicóloga ocupacional do Coventry University's Centre for Research in Psychology, Behaviour and Achievement, Dr. Christine Grant, refere que a cultura do "always on" tem como principal impacto negativo o facto de a mente nunca estar em repouso, que quem assim é, nunca dá tempo ao corpo para se recuperar e, então, vai andar sempre stressado. E quanto mais cansados e stressados andamos, mais erros cometemos.
Depois, o facto de se poder ficar sempre ligado ao trabalho começa a desenvolver inseguranças e ansiedades. E neste campo, são as mulheres as que mais sofrem deste problema, que é crescente com as novas tecnologias. Além de passarem um dia inteiro no escritório, ainda cuidam da casa e da família e antes de deitar ainda dedicam mais umas horas ao trabalho.
"Paralisia" por excesso de informação
Será que as novas tecnologias, o facto de estarmos ligados ao mundo 24 sobre 24 horas através da Internet, de recebermos informação em doses muitas vezes imensuráveis nos torna pessoas mais produtivas?
A PwC num relatório que envolveu 50 000 trabalhadores de todo o mundo, The Future of Work - a journey to 2022, mostrou que não. Pelo contrário, o excesso de informação está a causar uma espécie de paralisia de decisão, argumenta Michael Rendell da PwC.
O que é um dia de trabalho?
Como se define um dia de trabalho e um dia de folga para uma pessoa que está constantemente ligada a ele através do smartphone?
A identificação da linha que divide o trabalho e o lazer trazidas pela tecnologia é essencial, não só por questões de saúde (física e mental), mas também pela segurança dos trabalhadores.
Se o contrato de trabalho refere que é remunerado por 40 horas semanais, o tempo que passa a verificar o e-mail enquanto toma o pequeno almoço, a conversar com clientes ao final do dia deixa, portanto, de ser trabalho remunerado, para passar a ser horas extraordinárias que está a oferecer à sua empresa.
Neste âmbito, deveriam ser as próprias empresas a colocar limites aos seus trabalhadores.
Gestão do tempo
É evidente que as tecnologias que nos permitem andar sempre ligados ao mundo são benéficas. Permitem uma maior agilidade do trabalho e uma maior flexibilidade, que, quando bem geridas, acabam por ser vantajosas tanto para empregadores como para empregados, mas é necessário disciplina.
Se está num bar com os amigos, de férias com a família, ou num "almoço de domingo", não deixe que as tecnologias lhe roubem a atenção. Durante a noite, desligue o som do smartphone e o Wi-Fi. Se esta nova síndrome do "always on" é um problema, é porque cada um de nós não sabe definir os limites.
Fonte: BBC
Sente-se afectado por este problema de estar sempre ligado e sempre disponível para o trabalho?
Este artigo tem mais de um ano
Faz este ano 20 anos que trabalho profissionalmente na área da informática, sou capaz de passar bastante tempo, tipo um mês (Ex.: férias) sem stressar quando não tenho internet/3G, não passo o tempo a olhar para o telemóvel pessoal ou do trabalho (dual sim) ou “morrer” por ver alguém num computador/smartphone. Férias são férias, altura ideal para desligar do dia-a-dia. Mas ajuda muito ter hobbies, e eu adoro caminhar pela natureza e conhecer novos e belos locais.
Estou consciente de que tenho dificuldade em deixar os gadgets de lado, mas acho que isso se deve a fazer muita coisa neles: leio mais ebooks do que livros em papel, oiço música em formato digital, etc.
Contudo, sempre que estou com outras pessoas, recuso mexer em qualquer gadget. O mesmo se aplica se estiver em contacto com a natureza. É muito importante aproveitar a companhia de quem gostamos e também ter momentos de silêncio.
Os gadgets empatam-nos muitas vezes e temos de ser nós a estabelecer limites.
Não me faz diferença nenhuma.
De trabalho, só quando chego lá, mal saio de lá, nem quero falar sobre o trabalho. Já chega 10 horas por dia.
O resto é para a família e tempo pessoal.
Chego a casa, desligo o telémovel. A minha família, se precisar de alguma coisa, sabe o meu número pessoal do telefone de casa.
Tablet ou computador pessoal, só mesmo para destressar do stress diário.
Faço isto já à alguns anos, e não me custa nada, então quando estou de férias, nem o telémovel eu ligo.
Simples, é só fazer uma divisão do que é mais importante na vida e não fazer misturas.
Após possuir telefone de serviço, obrigatòriamente ligado 24 horas por dia, 365 dias por ano, há cerca de 23 anos, já decidi que não possuirei mais telemóvel ou qualquer outro gadget, a partir do dia em que estarei reformado.
Já experimentei durante 15 dias de férias em Punta Cana e adorei não ter que ouvir aquele som irritante de chamada.
Adoro o meu smartfone, mas até um certo ponto, sendo horas de o desligar desligo e só volto a ligar algumas horas depois.