Apesar de o Humano, Homo Sapiens, ser a espécie mais avançada do ponto de vista cognitivo e social, há vários fatores impercetíveis que têm muita influência na nossa forma de estar e ser.
Muitos desses fatores e estímulos exploram os hiatos dos nossos sentidos. Ora, nesse âmbito, Xin Liu – engenheira e artista associada ao MIT Media Lab – desenvolveu uma máscara que, através da sua própria respiração, consegue manipular comportamentos, modos, disposição e emoções de quem a usa.
As discussões do determinismo vs livre-arbítrio serão eternas. Contudo, é factual afirmar que hoje em dia vivemos numa espécie de “algoritmocracia”: para além das condicionantes impostas pela própria sociedade e respetivas convenções, as plataformas que usamos manipulam as nossas perceções e, consequentemente, a maneira como nos sentimos e como olhamos o mundo.
Feed de notícias e publicações reguladas por algoritmos e Inteligência Virtual, que resulta num populismo dos conteúdos e redução da variedade dos mesmos, como se de uma bolha se tratasse…
As redes sociais são mais um caso de estudo neste domínio, com a sede insaciável de “likes” e interação com as nossas publicações, diretamente ligada à famosa dopamina.
Todos estes exemplos para demonstrar que nós, seres humanos, apesar de toda a Evolução Biológica registada e de um poder de adaptação ímpar, estamos suscetíveis a estas situações de marioneta. Por norma, associadas a manipulações dos sentidos, hormonas e do subconsciente.
Masque
A máscara criada por Xin Liu, denominada “Masque” e baseada nas máscaras de carnaval italianas, concebida com a colaboração do designer Hongxin Zhang, consegue, segundo as estatísticas da tese, alterar o comportamento e, consequentemente, algumas emoções de quem a usa.
Não obstante, a máscara tem um princípio básico muito interessante. Junto à narina, a máscara tem um sensor de respiração que permite analisar dados referentes à temperatura de respiração, frequência da respiração e assim determinar o batimento cardíaco do utilizador.
Essas informações são passadas para os headphones que funcionam por condução auditiva através do crânio – é este tipo de condução que é responsável por a nossa voz ser tão diferente quando a ouvimos numa gravação – e as vibrações executadas serão posteriormente absorvidas pela cóclea.
Ora, a informação passada pelo sensor junto à narina é transmitida para os headphones colocados nas maçãs do rosto, passando primeiro por um sintetizador, e é assim efetuado feedback do som produzido durante a nossa respiração. É a manipulação deste feedback da respiração o responsável pelos poderes e efeitos que esta máscara é capaz de desencadear.
A manipulação da frequência do feedback enviado pelos headphones terá repercussões no psicológico do utilizador. Nos seus estudos, Xin Liu constatou que os participantes que recebiam feedback mais intenso e acelerado tinham níveis de ansiedade superiores ou se sentiam mais excitados, dependendo das circunstâncias e condições de teste.
Num dos grupos de estudo, foi efetuado um exame de admissão usando a Masque. Os indivíduos que, ao longo do exame, tinham recebido feedback mais intenso e com mais frequência, registaram mais ansiedade e comportamentos mais nervosos relativamente aos outros participantes.
Para além disso, doze homens heterossexuais foram colocados à prova da Masque em que, durante trinta segundos, visualizaram fotografias de catorze mulheres. Mais uma vez, os indivíduos com feedback mais intenso e frequente mostraram-se mais atraídos pelas mulheres.
Um facto curioso que Xin Liu concluiu é que estas mudanças eram meramente comportamentais e psicológicas, não se registando mudanças ao nível fisiológicos dos indivíduos. Ou seja, apesar de o seu subconsciente ter reagido ao feedback de diferentes ritmos e intensidades respiratórias, o seu ritmo respiratório e a própria circulação cardíaca não registaram transtorno.
People’s physiological activity did not actually change but they perceived it. They heard a heavier breathing sound and cognitively thought they were more excited or more aroused than they actually were. Then they started to behave differently.
Será motivo para alarme?
Xin Liu garantiu ao Digital Trends que a Masque não será comercializada e no Asbtract da sua tese de mestrado refere que o objetivo das técnicas apresentadas não pretendem remeter para manipulação de sentimentos e emoções mas sim para o seu restabelecimento.
Contudo, Xin Liu referiu que seria interessante ver produtos como a Masque serem aplicados para propiciar momentos de meditação e também numa superior imersão em realidade virtual, filmes e videojogos.
It’s fascinating to think about how the sense of self is constructed. Our image of who we are is in flux, it’s always changing, which is good and bad at the same time. The good thing is that means we’re more flexible and we’re growing constantly and adapting to the world. The problematic part is we’re able to be manipulated. We really need to learn how to be more sensitive, to feel our body signals and make decisions consciously rather than live with the flow. We’re actually very easily manipulated.
O mais pertinente nestes resultados será pois a observação de alterações comportamentais sem impacto nos parâmetros fisiológicos do organismo.
Caso prentenda aprofundar mais este assunto, poderá consultar a tese de mestrado de Xin Liu.