No passado dia 16, mas há 50 anos, o mais poderoso foguetão da história, Saturno 5, levava ao espaço três astronautas e fazia história com a missão Apollo 11. Posteriormente, dias depois, Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins davam os primeiros passos rumo a um dos maiores capítulos da história da humanidade, a chegada à Lua. De tudo o que se viu e escreveu, há dados que ainda hoje estão por explicar. Por exemplo, por que razão a Lua cheira mal?
Macia, saborosa e malcheirosa. De acordo com alguns astronautas, estes são os adjetivos usados para descrever a Lua e a poeira lunar.
De acordo com o que a história gravou e guardou, sobre a Lua sabe-se ainda muito pouco. Mas há factos interessantes, para lá dos catalogados como científicos. Nesse sentido, sensações e outros dados recolhidos pelos astronautas, de carácter mais mundano, foram contados na primeira pessoa.
Astronautas falam sobre sensação de estar na Lua
Segundo Gene Cernan, astronauta da missão Apollo 17, o pisar a Lua dá a sensação de ser “macia como a neve, embora estranhamente abrasiva”.
Qual será o sabor da Lua?
John Young, astronauta da Apollo 16, quando questionado, deixou uma singular resposta: “Nada mau”.
Qual é o cheiro da Lua?
Nesta questão, parece haver concordância. A Lua cheira mal, tem um cheiro que vários astronautas apontaram como parecido ao cheiro de pólvora queimada.
Mas qual a razão deste cheiro na Lua?
Bom, tais adjetivos parecem desconstruir a imagem romântica e nostálgica que muita gente tem sobre o único satélite natural da Terra. Contudo, há vários argumentos que podem justificar tais respostas.
Obviamente, sobre estas várias questões, paira a pergunta de como estas sensações foram captadas, já que os fatos de exterior têm a função de serem total e fortemente herméticos.
Cada um dos astronautas que pisou na Lua — usando roupas especiais que impedem contacto direto com a ténue atmosfera lunar — teve a oportunidade de sentir o cheiro do satélite depois da caminhada espacial. Logo após as expedições no exterior da nave, regressaram e retiraram o capacete. Repararam que a sua superfície estava impregnada com o fedor daquela poeira que, segundo os relatos das Crónicas da Apollo da Nasa, era “incrivelmente pegajosa”, a ponto de aderir às botas, luvas e qualquer superfície exposta a ela.
Poeira… que tipo de poeira se trata?
A poeira lunar – chamada “regolito”, nome científico – parecia flutuar sobre a superfície do satélite, aderindo a qualquer objeto. O regolito lunar é composto por basalto, feldspato e outros minerais procedentes do espaço exterior. Estima-se a idade do regolito lunar entre 3.800 e 4.000 milhões de anos.
Segundo alguns cientistas, esta poeira lunar é “áspera” e “um pouco diabólica”, uma vez que se infiltra em buracos improváveis ao seguir as linhas de campo elétrico. É por isso que era tão pegajosa para os astronautas. Por essa razão, mesmo com muita paciência a escovar os trajes espaciais, ao entrar na cabine após a caminhada restava sempre algo (e, às vezes, muita quantidade) daquela poeira estranha que alguns diziam ter cheiro de pólvora.
Além disso, ao tirar as luvas e capacetes, os 12 astronautas das seis missões Apollo (1969-1972) tiveram a oportunidade de senti-la, cheirá-la e até prová-la.
O piloto da Apollo 11, Buzz Aldrin, afirmou que a poeira que sujava o seu fato espacial tinha uma fragrância “como carvão queimado ou as cinzas de uma chaminé, sobretudo quando deitávamos um pouco de água sobre ela”. Na verdade, não é de estranhar este paralelo odorífico. O regolito que cobre a superfície deve-se à erosão cósmica.
É um cheiro muito forte. Tem gosto e cheiro de pólvora.
Contou pelo rádio Charlie Duke, piloto da Apollo 16, em abril de 1972.
Pó… não pólvora
E se cheirava a pólvora e tinha gosto de pólvora… será que não era pólvora?
Mesmo que parecesse algo estranho, a pergunta não tardou. Contudo, a NASA, à altura, não demorou em desmentir.
Poeira lunar e pólvora não são a mesma coisa. De forma alguma se assemelha à pólvora.
Explicou a agência espacial nas Crónicas da missão Apollo.
Gary Lofgren, do Laboratório de Amostras Lunares do Johnson Space Center da Nasa, nos EUA, disse que “não foram encontradas em solo lunar” moléculas que compõem a pólvora. Posteriormente, o professor de astronomia Thomas Gold também negou em 2004 que a poeira lunar fosse explosiva.
Segundo a Nasa, a poeira lunar é composta principalmente de dióxido de silício – e é gerada a partir do impacto de meteoritos que atingem a Lua. No impacto, estes fracionam-se em partículas minúsculas. Assim, foram detetadas as presenças de ferro, cálcio e magnésio, além de minerais como olivina e piroxena.
O que pode então explicar o cheiro a pólvora?
Esse ainda é um mistério a ser resolvido, mas há algumas teorias que tentam explicar o motivo. Nesse sentido, Donald Pettit, engenheiro químico e astronauta que passou longas temporadas na Estação Espacial Internacional também deu uma explicação.
Imagine um deserto na Terra. Tem cheiro a quê? A nada, até chover. O ar é preenchido subitamente com odores doces, pastosos. A água que evapora do solo leva ao seu nariz as moléculas que ficaram presas no solo seco durante meses. A Lua é como um deserto de 4 mil milhões de anos. É incrivelmente seca. Assim, quando a poeira lunar entra em contacto com o ar húmido no módulo lunar, recebe-se o ‘efeito da chuva no deserto’ – e alguns cheiros.”
Explicou Pettit.
Já Lofgren atribui o fenómeno ao facto de que a poeira lunar, combinada com iões emitidos pelo Sol que chegam ao satélite, misturar-se dentro da cabine “produzindo sabe-se lá que odores”.
De acordo com o cientista, outra possibilidade é que a poeira lunar “queime” dentro da atmosfera de oxigénio do módulo espacial através de um processo de oxidação, semelhante à combustão, mas muito lentamente — por isso, não produz chamas.
O cheiro na Terra desaparece
No entanto, há uma intrigante questão que ainda não foi explicada. A poeira lunar perde o cheiro quando chega à Terra. Há várias amostras de poeira e rochas lunares recolhidas pelos astronautas. Em abono da verdade, nenhum destas amostras cheira a pólvora.
A NASA sugere que, uma vez que chegou ao nosso planeta, essa substância perdeu força e foi “contaminada” pelo ar e pela água, eliminando de certa forma os efeitos de “qualquer reação química odorífera” durante a viagem de retorno dos astronautas à Terra.
A solução para o mistério será analisar essa poeira na própria Lua.
Mas, como desde 1972 não houve novas missões tripuladas à Lua, não há novos relatos de astronautas sobre o gosto e o cheiro do único satélite natural da Terra.
Curiosidades
As várias missões Apollo deixaram na Lua 181 toneladas de lixo (há quem considere vestígios arqueológicos). Só Neil Armstrong e Buzz Aldrin, os primeiros homens a passearem na Lua, deixaram por lá 106 objetos. A explicação nada tem a ver com falta de cuidado ambientalista. Quanto mais pesados fossem os objetos terrestres deixados para trás, mais rochas e amostras de solo lunar as missões Apollo podiam trazer de volta.
Para casa, trouxeram 380 quilos de pedaços da Lua. Por lá ficaram mais de 90 sacos de urina e fezes, embalagens de refeições vazias e até 12 pares de botas, calçados por cada um dos 12 homens que visitaram a Lua. O buggy conduzido na Lua pelas tripulações da Apollo 15, 16 e 17 ficou por lá, mas dificilmente estará em condições para voltar a ser conduzido.