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O que são armas nucleares táticas? Poderá a Rússia utilizá-las na Ucrânia?

Com o início da invasão da Ucrânia, os países da Aliança Atlântica, a União Europeia e outros estados que condenaram este ataque, disseram estarem dispostos a ajudar a combater a Rússia nesta guerra. Contudo, Putin repetidamente usou a ameaça da força nuclear para dissuadir o Ocidente de se imiscuir na guerra em solo ucraniano. Mais recentemente o porta-voz do Kremlin recusou-se a excluir o uso de armas nucleares, dizendo que poderiam ser usadas se o país enfrentasse uma “ameaça existencial”.

Passou-se então a falar da possível utilização de armas nucleares táticas. Mas afinal o que são estas armas?

 


Armas nucleares táticas

As armas nucleares nunca mais foram utilizadas numa guerra desde 1945, depois de os EUA terem lançado duas bombas sobre Hiroshima e Nagasaki. O ataque devastou as cidades japonesas e matou instantaneamente dezenas de milhares de pessoas. O mundo ficou aterrorizado com a destruição.

O horror dos bombardeamentos chocou o planeta até à era da dissuasão nuclear, onde as potências globais correram para desenvolver tais armas, sabendo sempre que a sua utilização seria catastrófica para a humanidade. Contudo, desde então as potências concordaram em não as empunhar umas contra as outras.

Atualmente, a Rússia possui o maior arsenal nuclear do mundo com cerca de 6.257 ogivas nucleares, enquanto os Estados Unidos admitem ter 5.550, de acordo com uma ficha informativa de janeiro da Associação de Controlo de Armas.

Destas, as chamadas armas “táticas ou estratégicas” – aquelas com maior rendimento – são utilizadas em submarinos, bombardeiros e mísseis balísticos intercontinentais.

As armas nucleares estratégicas são os grandes destruidores da cidade. Estas são armas inacreditavelmente destrutivas. Se entrássemos numa guerra nuclear com armas estratégicas, isso seria essencialmente o fim da civilização em ambos os países.

Disse Tannenwald, autor de um livro sobre dissuasão nuclear.

 

Armas nucleares táticas mais pequenas

Apesar de referirem haver armas deste tipo “mais pequenas”, não é motivo para descansar. Isto porque cerca de 2.000 das ogivas nucleares da Rússia são de curto alcance, as chamadas armas nucleares “táticas” mantidas em instalações de armazenamento em todo o país.

Trata-se de armas nucleares muito mais pequenas, concebidas para serem utilizadas no campo de batalha contra formações de tropas, tanques, ou instalações militares e bunkers.

Estas podem ser lançadas nos mesmos mísseis de curto alcance que a Rússia está actualmente a utilizar para bombardear a Ucrânia, como o seu míssil balístico Iskander-M, que tem um alcance de cerca de 500 km.

A Rússia terá movido os sistemas de mísseis Iskander de pelo menos duas brigadas do Distrito Militar Oriental para o oeste. De acordo com uma investigação.

As armas táticas foram desenvolvidas durante a Guerra Fria com o objetivo de “reforçar” a dissuasão nuclear.

No entanto, o risco hoje em dia é que “elas parecem ser mais utilizáveis e, por conseguinte, torna mais provável que os líderes as possam alcançar numa crise”.

 

Mas quão destrutivas podem ser?

Um investigador do Instituto das Nações Unidas para a Investigação do Desarmamento (UNIDIR), Pavel Podvig, especialista em forças nucleares russas, diz que há muito poucos cenários no campo de batalha em que o imenso poder produzido pelas armas nucleares possa realmente ter um objetivo tático – por exemplo, destruir estruturas subterrâneas endurecidas ou bunkers.

Argumenta que o principal objetivo das armas nucleares táticas continua a ser estratégico: aterrorizar o inimigo e ganhar a vantagem num conflito.

A sua principal missão não é atacar alvos militares. A principal missão destas armas é demonstrar a sua vontade e prontidão para atacar e matar muita, muita gente civil.

Disse Pavel Podvig.

Os lançadores de mísseis Iskander do exército russo e os veículos de apoio.

Bombas nucleares de rendimento variável

A maioria das armas nucleares atualmente são de rendimento variável, ou “dial-a-yield“, o que significa que a sua quantidade de energia explosiva pode ser marcada para cima ou para baixo, dependendo da situação e dos objetivos militares.

Por exemplo, a última versão da bomba nuclear B61 desenvolvida pelos EUA pode libertar 0,3, 1,5, 10, ou 50 quilotoneladas de energia explosiva. Em comparação, a bomba de Hiroshima embalou uma força de cerca de 15 quilotoneladas.

Estamos a falar de armas ainda incrivelmente destrutivas. E são armas nucleares, pelo que produziriam uma nuvem de cogumelos, uma bola de fogo. Iriam incendiar tudo o que estivesse à vista. Libertariam enormes quantidades de radiação.

Portanto, ninguém deveria pensar que estas são, de alguma forma, armas mais utilizáveis.

Referiu Tannenwald.

Segundo Tannenwald, se a Rússia utilizasse armas nucleares, provavelmente seriam lançadas através do sistema de mísseis Iskander que já está a utilizar com armas convencionais na Ucrânia.

São lançadores móveis, o que significa que estão em camiões e circulam por aí.

Se esse momento chegasse, iríamos presenciar um aumento nos níveis de alerta do comando de armas nucleares na Rússia.

 

E será que Putin vai usar armas nucleares?

Esta é uma pergunta que a sua resposta pode valer o futuro do planeta. Atualmente, pelas indicações que tem dado, pelos movimentos seguidos atentamente pela inteligência dos países que estão de olho na Rússia, Putin ainda não deu estes passos – ainda!

Não terá ainda os lançadores de mísseis Iskander a conduzir com as suas ogivas nucleares instaladas, e não há aviões sentados na pista com bombas nucleares carregadas. Pelo menos os especialistas dizem que não, ainda não estamos nesse passo.

Além disso, muitos dos especialistas esperam que o tabu da utilização de armas nucleares não seja quebrado tão cedo. No entanto, há um receio que Putin, frustrado com o impasse na Ucrânia, possa interpretar o que constitui uma “ameaça existencial” para a Rússia de uma forma muito pessoal.

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