As máquinas de tatuar funcionam de uma forma que é praticamente desconhecida do público em geral. Aliás, este dispositivo funciona tão bem, em contacto com a pele humana, que poderá revolucionar as vacinas num futuro próximo. Quem o afirma é o engenheiro químico Idera Lawal, da Texas Tech University, que apresentou o projeto e é muito interessante.
Conforme poderão ver, o vídeo mostra a equipa por trás desta tecnologia a demonstrar o processo durante a reunião de março da American Physical Society.
As vacinas tiveram recentemente um papel preponderante no combate à COVID-19, mas ao longo da história têm-se revelado essenciais para dizimar doenças ou ajudar a combatê-la. Apesar desta guerra recente ainda não estar ganha, com a vacina conseguiu-se controlar a pandemia, pelo menos dentro de valores suportáveis pelos sistemas hospitalares. Em Portugal, mais de 90% das pessoas foram vacinadas, o que contribuiu para acalmar significativamente os internamentos com a doença grave e, por consequência a morte.
Contudo, apesar das pessoas estarem já habituadas e confiarem na agulha e seringa hipodérmica, padrão para administrar vacinas, em breve poderão começar a pensar em “tatuar” os utentes.
Pelo menos é o que sugerem os criadores de um vídeo que demonstra como uma máquina de tatuagem aplica tinta sob a pele e que pode revolucionar o processo de vacinação.
Tatuagem vs. injeção
Para injetar algo com uma agulha hipodérmica, nós usamos uma seringa, perfuramos a pele, apertamos o embolo e empurramos o líquido através da agulha e para dentro do corpo.
Já no caso de uma máquina de tatuar, o processo é diferente, e poderá ser muito mais eficaz e menos intrusiva.
Segundo a apresentação, a máquina penetra e remove uma ou mais agulhas de forma incrivelmente rápida – até 50 vezes por segundo. Mas estas agulhas não injetam a tinta. Em vez disso, um tatuador mergulha as agulhas na tinta e, quando as agulhas perfuram a pele, estas criam pequenos orifícios.
Depois, ao retrair, a tinta é puxada para dentro dos orifícios por sucção.
Poderá ser um processo menos doloroso
O engenheiro químico Idera Lawal, da Texas Tech University, apresentou o vídeo da sua equipa e mostrou também estudos relacionados com o mecanismo e a quantidade de líquido que a máquina consegue injetar.
Assim, conforme é explicado, o mecanismo usado nas máquinas de tatuar pode facilitar aos médicos a administração de vacinas de ADN.
Estas vacinas introduzem um pouco de código genético que informa ao corpo como produzir uma proteína a partir de um determinado vírus ou bactéria. Esta proteína estimula o sistema imunitário a criar anticorpos para o patógeno.
Tatuar vacinas de ADN promoveu uma resposta imune mais robusta do que injeções padrão em estudos com animais.
É assim que as vacinas de mRNA para a COVID-19 também funcionam e, tal como estas vacinas, as vacinas de ADN podem ser feitas de forma rápida e relativamente barata. A diferença é que as vacinas de mRNA usam RNA mensageiro para fornecer as suas instruções genéticas e as injeções de ADN usam ADN.
O ADN é mais estável e robusto que o RNA, de modo que as vacinas de ADN podem ser armazenadas e transportadas em temperaturas mais altas, o que as torna mais fáceis de distribuir. Mas as vacinas de ADN também são geralmente menos potentes do que as vacinas de mRNA porque o seu código genético precisa ir mais fundo na célula para funcionar.
Há outros estudos para facilitar o processo de vacinação
Esta área médica parece merecer uma grande atenção. Há investigadores a explorar diferentes métodos de entrega de vacinas de ADN na esperança de aumentar a sua potência. Existem projetos onde foi adicionada estimulação elétrica ao processo para abrir células e usaram adesivos de microagulhas para aplicar as injeções na pele em vez de serem aplicadas nos músculos.
Além disso, também vacinaram ratos e primatas não humanos em estudos recorrendo a uma máquina de tatuagem. Esta abordagem foi mais eficaz na promoção de uma resposta imune do que a injeção intramuscular padrão.
Em resumo, as vacinas de ADN ainda são incrivelmente novas, aliás, só uma foi ainda aprovada para uso em humanos e foi fornecida através de um fluxo de fluido de alta pressão. Mas o seu potencial é incrível.
Como tal, a investigação da Texas Tech sobre a dinâmica fluida da tatuagem pode ajudar a orientar os cientistas que procuram explorar o método exclusivo de aplicar as vacinas no futuro.
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