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Mais recente satélite meteorológico da Rússia pode ter sido “destruído” por lixo espacial

O ambiente natural do espaço é difícil quer para os humanos, quer para as máquinas. Radiação, temperaturas elevadas e geladas, velocidades em órbita da Terra a 20 vezes a velocidade do som e outros fatores proporcionam um sem números de cenários propensos a falhas catastróficas. Contudo, cada vez se fala mais no lixo espacial, situação resultante da ação humana. Esta poderá ser a causa da “destruição” do mais recente satélite meteorológico da Rússia.

O Meteor-M 2-2 continua em órbita, mas completamente em autogestão, prevendo-se a sua total inutilização.


Detritos espaciais são como balas a alta velocidade

Um recente acidente espacial poderá levar ao desaparecimento prematuro de um satélite meteorológico russo. As causas devem-se, provavelmente, ao impacto com detritos espaciais.

Apenas alguns meses após o lançamento, o Meteor-M 2-2 sofreu uma súbita anomalia orbital. Conforme pode ser lido (link para a tradução em português), a análise dos dados deixa bem claro o que aconteceu: o satélite foi atingido por algo, que o deixou fora de operação, apesar dos esforços dos controladores terrestres (que conseguiram, aparentemente, estabilizar a nave). No entanto, as probabilidades são de que o Meteor-M 2-2 acabará por sucumbir às suas feridas.

 

Projeto de Observador meteorológico que começou torno e torto continua

A série de satélites Meteor-M faz parte de uma constelação de quatro satélites que seriam equipados com os mais recentes instrumentos de imagem e de deteção. Estes equipamentos seriam lançados em órbitas polares sincronizadas com o sol. Posteriormente, a combinação de dados recolhidos iria permitir aos cientistas russos uma cobertura completa do vasto país a cada dois dias. Haveria ênfase especial na monitorização das condições nas regiões árticas.

Os planos originais exigiam uma série de satélites chamados Meteor-3M a serem lançados entre 1998 e 2000, mas, por razões desconhecidas, os satélites nunca foram construídos. O plano transformou-se na série Meteor-M, que pretendia entrar ao serviço até 2010.

Assim, o primeiro satélite, Meteor-M1, foi lançado em 2009, mas passou anos em modo de “operação experimental” antes de ser listado como em serviço completo. No entanto, apenas dois anos de operação nominal, os instrumentos começaram a falhar. Perdeu-se um radar de banda X concebido para monitorizar o gelo marinho e um gerador de imagens de infravermelhos.

Em 2014, o sistema de controlo de atitude do satélite também falhou, tornando a nave espacial inteira inútil.

Para resolver algumas das deficiências dos instrumentos, foi concebida uma série melhorada de satélites, a série Meteor-M2. Assim sendo, o primeiro desta série, o Meteor-M 2-1, chegou à plataforma de lançamento do Cosmódromo Vostochny em novembro de 2017. Contudo… este não chegou muito mais longe.

Um erro na programação do sistema de navegação levou o estágio superior a disparar os seus motores quando estava apontado para o lado errado. Com este erro, toda a carga útil do satélite caiu no Atlântico Norte.

 

Novo satélite, novas esperanças

Posteriormente, em julho de 2019, o lançamento do Meteoro-M 2-2 foi um sucesso, mostrando que a operação parecia estar a correr muito melhor.  A nave espacial de 2.900 kg, juntamente com outras 33 pequenas cargas úteis de satélite, entrou em órbita a bordo de um Soyuz-2-1b.

Os erros de programação que condenaram a sua antecessora haviam sido corrigidos e o Meteor-M 2-2 entrou na sua órbita atribuída e começou a devolver os dados. Parecia que o satélite estava a caminho de uma longa e útil carreira como observador meteorológico.

No entanto, as operações do Meteor-M 2-2 não durariam muito tempo e, como muitas vezes acontece, um operador de rádio amador foi um dos primeiros a reparar.

Dmitry Pashkov (R4UAB), um fã da monitorização por satélite, vinha a captar imagens de satélites meteorológicos há anos. Contudo, quando tentou encontrar o Meteor-M 2-2 a 18 de dezembro deste ano, tudo o que ele conseguiu foi “ar morto”. Parecia que o satélite tinha desaparecido.

Posteriormente, logo após ter anunciado as suas descobertas, não demorou muito para que outros observadores de satélite juntassem uma história. A agência espacial da Rússia, a Roscosmos, confirmou as suspeitas.

 

Lixo espacial pode ter estado na causa da avaria do satélite

Segundo os dados, parece que o Meteor-M 2-2 foi atingido por um micrometeorito ou algum pedaço de detrito feito pelo homem. O satélite do tamanho de um SUV foi atingido e começou a girar violentamente descontrolado. Logo após ter sido atingido, o sistema de controlo do satélite ficou de imediato em modo seguro, para proteger os seus instrumentos e dar aos controladores terrestres tempo para recuperar o controlo.

Eventualmente estes controladores parecem ter estabilizado o satélite. Contudo, a análise subsequente dos dados orbitais revelou que o satélite também perdeu dois quilómetros de altitude orbital imediatamente após o impacto.

Meteor-M 2-2 rapidamente perdeu altitude após o evento. Fonte: Dr. Marco Langbroek

 

Será o fim do satélite?

Uma perturbação tão violenta de um satélite tão grande como o Meteor-M 2-2 implicaria uma colisão grande e com muita energia. No entanto, tal choque provavelmente partiria o satélite em vários pedaços, e não há evidências de que algo assim tenha acontecido. Isso significa que o “projétil” era pequeno, o que parece estar em desacordo com o efeito que provocou à nave espacial.

Isso deixa os operadores a considerar se o impacto penetrou numa parte pressurizada do casco do satélite. Tal situação poderia explicar a mudança drástica de atitude e altitude.

Infelizmente, também pode significar o fim da missão do Meteor-M 2-2. Muitos dos instrumentos a bordo do satélite requerem temperaturas constantes para funcionar, e a eletrónica que controla a nave pode agora estar exposta ao vácuo do espaço. O Roscosmos recuperou o controlo da nave espacial e amorteceu o seu rodopiar, e há mesmo relatos de que um sinal de banda X do satélite foi detetado.

Apesar disso, com o casco despressurizado, a nave espacial está provavelmente condenada a seguir os tristes passos dos seus predecessores. Apesar destes azares, a Rússia tem para 2020 e 2021 novos lançamentos dos satélites Meteor-M 2-3 e Meteor-M 2-4.

 

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