É uma luta contra-relógio para tentar combater a COVID-19. Os números oficiais mostram que esta pandemia já matou perto de 130 mil pessoas, só em Portugal matou já 599 e não há meio de a travar. Contudo, o trabalho de investigação está a ser feito e há progressos. O sucesso de fabricar uma vacina passa, sobretudo, por perceber o vírus SARS-CoV-2. Nesse sentido, os investigadores descobriram seis novos tipos de coronavírus a partir de morcegos em Mianmar.
Nesta região, a população está em contacto direto com estes animais, pelo que poderia ser um foco potencial para novas doenças.
Coronavírus: Estudar zoonose para conhecer o inimigo
Um dos problemas da ciência é perceber como funcionam estes novos coronavírus, como evoluem e, sobretudo, como se transmitem aos seres humanos. Na verdade, esta é a questão vital a resolver, a fim de evitar futuras pandemias como a atual.
Os investigadores do Programa de Saúde Global do Smithsonian estão a trabalhar de forma célere, como nunca o fizeram, com o objetivo de descobrir mais sobre o “misterioso” coronavírus. Os últimos avanços foram conseguidos após a descoberta de seis novas espécies em morcegos de Myanmar, na antiga Birmânia, a sul da China.
Nesta área, a coexistência entre estes animais e os seres humanos é muito comum, o que faz com que seja um excelente local para estudar zoonoses, infeções animais-humanas.
Dos vírus encontrados, três alfacoronavírus e três betacoronavírus são completamente novos, para além de terem encontrado outro alfacoronavírus presente noutras zonas do Sudeste Asiático, mas nunca antes em Myanmar. Assim, os investigadores estimam que devem existir milhares de espécies, das quais apenas 40 são conhecidas.
O que se sabe hoje sobre os coranavírus?
Os coronavírus são um grupo de vírus de genoma de RNA. Atualmente, a ciência conhece cerca de 40 coronavírus. Coronavírus é o nome dado aos vírus da subfamília Orthocoronavirinae, da ordem Nidovirals. Estes vírus são uma das duas subfamílias de Coronaviridae. Tal como podemos ver na descrição desta lista, as ortocoronavirinas dividem-se em quatro outros grupos: alfacoronavírus, betacoronavírus, deltacoronavírus e gama-coronavírus.
Destes, os primeiros afetam, sobretudo, o gado, os segundos os humanos, os terceiros as aves e os quartos também os humanos. O SRA-CoV-2, que provoca o COVID-19, é um betacoronavírus, um grupo também associado aos morcegos, onde residem como hospedeiros.
Porque não adoecem os morcegos?
Pela diversidade de vírus associados a morcegos, muitas investigações concentram esforços, para compreender como estes animais podem carregar tantos vírus sem necessariamente desenvolver as doenças provocadas por esses microrganismos. Na Universidade da Califórnia, depois de compararem a resposta antiviral de primatas e morcegos, descobriram que as células de morcegos são mais resistentes a vírus por apresentarem uma resposta antiviral antes mesmo de serem infetadas, enquanto as células de macacos foram rapidamente destruídas.
Os Beta-CoVs que causaram epidemias em humanos geralmente induzem febre e sintomas respiratórios. Eles incluem:
- SARS-CoV, doença SARS.
- MERS-CoV, Síndrome respiratória do Médio Oriente (MERS).
- SARS-CoV-2, doença COVID-19.
Numa investigação mais recente, o cão é considerado como uma possível origem do coronavírus específico que provocou a atual pandemia. Esta hipótese, ainda em debate, explicaria que o vírus teria vindo de morcegos, como muitos outros betacoronavírus, e teria sofrido mutações no intestino de um canino, provavelmente um cão vadio, do qual teria saltado para os humanos.
Qual é a dificuldade em saber exatamente a origem do vírus?
Os cientistas têm procurado essa resposta, mas encontram alguns desafios. Entre eles está a necessidade de compreender como evolui o vírus, que mutações sofre e como se propaga. Posteriormente, estes dados poderão ser importantes para combater e até antecipar novas infeções. Assim, para descobrir um novo vírus, são recolhidas amostras e os restos genéticos são analisados. A cadeia do vírus é quebrada durante o processo.
Utilizando técnicas avançadas de sequenciação, a cadeia é reconstruída através da supercomputação. Máquinas poderosas calculam as probabilidades da sequência e da sua estrutura. Posteriormente, estes dados calculados são comparados com bases de dados de vírus conhecidos. Desta forma, além de serem descobertos novos vírus, também são encontrados dados genéticos suculentos.
Estes dados genéticos encontrados são importantes para ajudar a comunidade cientifica a compreender muitos pormenores moleculares do vírus. Este é o passo básico para compreender os seus mecanismos de ação. Por conseguinte, a investigação sobre novos vírus não só nos dá informações sobre a sua ecologia, mas também sobre os mecanismos que utilizam para transmitir, evoluir e resistir.
Toda esta informação é hoje crucial. Trabalha-se com cálculos matemáticos que ajudam os investigadores e epidemiologistas a perceber a realidade, pesquisar no passado e prever o futuro.