Análise The Callisto Protocol (Playstation 5)
Os estúdios Striking Distance Studios lançaram recentemente o seu jogo de estreia, The Callisto Protocol.
Tal como aqui vimos, trata-se de um jogo pressionante e repleto de momentos de grande tensão, que decorre numa prisão espacial localizada em Callisto, uma lua de Júpiter, de onde o nosso personagem terá de fugir.
O Pplware já experimentou os perigos e sustos The Callisto Protocol. Venham ver o que achámos...
A todos os apaixonados por jogos de terror, suspense e ambientes mais tensos, chegarão rapidamente à memória alguns títulos mais emblemáticos do género. Jogos como Dead Space, Silent Hill ou Resident Evil são jogos que, de certa forma, se colocaram em lugares de destaque no género, e são tidos por muitos títulos posteriores como fonte de inspiração.
E é precisamente isso que os estúdios norte-americanos Striking Distance Studios fizeram recentemente, com o lançamento de The Callisto Protocol, um jogo que segue as pisadas de alguns desses jogos e que apresenta algumas ideias novas bastante interessantes.
The Callisto Protocol decorre num futuro distante, numa época em que a Humanidade já partiu para a conquista do Cosmos. De tal forma, que em Callisto, uma das luas de Júpiter, existe uma estação espacial de alta segurança, a Black Iron Prison.
Numa sequência inicial onde nos são reveladas algumas das mecânicas principais do jogo, é-nos apresentado o ator principal, Jacob Lee. Trata-se de um piloto de vaivéns espaciais que se encontra nas imediações de Callisto e que, após ver a sua nave sabotada por uma força misteriosa, se despenha nessa lua de Júpiter.
Por razões que desconhecemos na altura, Jacob é preso na Black Iron Prison e pouco depois de ser apresentado à sua cela, algo ocorre na prisão.
Algo aconteceu algures nas instalações cientificas da prisão e agora o complexo encontra-se a ser invadido por uma horda de mutantes infetados e grotescos, sedentos de morte e sangue.
Jacob consegue fugir da cela e, com a ajuda de um amigo (duvidoso), começa a sua aventura para tentar escapar da Black Iron Prison. Enquanto se embrenha cada vez mais nas entranhas da prisão, Jacob vai descobrindo muito mais sobre o que realmente se passava naquelas instalações prisionais. Algo de sinistro que a maior parte dos próprios guardas desconhece, tal como vamos descobrindo ao explorar as instalações.
No entanto, desengane-se quem possa pensar que essa exploração é totalmente livre. De uma forma algo controversa, os Striking Distance Studios decidiram implementar um caminho pré-definido para Jacob percorrer. Compreende-se essa opção mas não deixa de ficar a sensação de que poderia haver um pouco mais de liberdade de movimentos, investigar ou analisar umas instalações tão grandes como as da Black Iron Prison.
Existem algumas zonas, é claro, onde essa ligeira sensação surge, especialmente, quando nos encontramos em corredores com várias portas desbloqueadas mas, na maior parte dos casos, essas portas encontram-se fechadas e o caminho a percorrer é demasiado linear. Existem poucos espaços realmente abertos à exploração.
No entanto, é também essa limitação que consegue criar os melhores momentos de claustrofobia e de tensão. Imaginem-se a percorrer um corredor estreito e repleto de vapores que nos impossibilitam uma visão clara e de repente ouve-se um som mesmo ao nosso lado.... após o susto descobrimos que foi apenas um cano a rebentar. Mas... e da próxima vez? Será novamente apenas um cano?
Neste capitulo, o jogo encontra-se repleto de ambientes e locais bastante propícios e que criam essa incerteza e necessidade de atenção ao jogador. Zonas de tratamento de águas inundadas com água escura, sistemas de ventilação apertados, corredores repletos de detritos... o jogador vai passar por zonas bastante bem desenhadas e detalhadas também, convém referir, com um potencial enorme no contexto do jogo.
Contudo, nem todo esse potencial foi totalmente usado para criar uma experiencia mais aterrorizante, como por exemplo os sistemas de ventilação que poderiam ter sido aproveitados de uma forma mais ativa, para momentos de ação tensos.
No entanto, quando The Callisto Protocol consegue entregar essas ocasiões de arrepiar, então o efeito é francamente positivo. Um dos pormenores que mais contribui para isso é o posicionamento da câmara. A perspectiva da câmara é na terceira pessoa encontrando-se bastante perto dos ombros de Jacob, o que ajuda todos esses momentos a adquirir um impacto maior.
Contudo, esse posicionamento da câmara acaba por ser também um aspeto menos positivo no jogo, nomeadamente no decorrer dos combates. Enquanto combatemos apenas um inimigo, é relativamente simples não o perder de vista. No entanto, quando existem múltiplos inimigos, a posição da câmara retira angulo de visão aos jogadores. Dado que os nossos movimentos em combate (como veremos mais adiante) necessitam de ser sincronizados com os ataques inimigos, o facto de não os vermos bem, acaba por ser fatal em muitas ocasiões.
O combate de The Callisto Protocol é simplista mas funcional. Jacob não se revela nenhum herói dotado de super poderes ou que domine todas as artes do combate. Nem tem à disposição um vasto arsenal de armas. É, isso sim, um tipo no local errado, na hora errada e dessa forma revela-se apenas como um sobrevivente, num meio duma estação prisional moribunda.
Na Black Iron Prison, escasseiam armas e ferramentas (creio que seria de esperar mais armas) e Jacob tem de sobreviver com o que tem à mão. E, desde cedo no jogo, adquire um bastão de um dos guardas da prisão, assim com uma arma com munições bastante limitadas.
O bastão, usado para ataques corpo-a-corpo é poderoso (e pode ser melhorado) mas a potência do seu uso, surge à custa da stamina de Jacob, o que significa que existe uma certa fragilidade entre ataques.
Outra ferramenta que encontramos cedo no jogo e que se virá a revelar extremamente útil no decorrer da ação, é a luva GRP (Gravity Restraint Projector). Trata-se de uma luva tecnológica que permite levitar e arremessar objetos e inimigos pelo ar. Numa comparação simples, é algo semelhante ao uso da Força, em Star Wars.
Tanto pode ser usada para arremessar inimigos contra elementos do cenário (existem várias partes de cenários que podem ser usadas com imaginação), como pode ser usado para os atirar contra outros inimigos, dando-nos assim tempo para recarregar armas, recuperar energia ou fugir.
No entanto, não funciona em todos os inimigos, o que quer dizer que o jogador terá de usar todas as armas e mecanismos à sua disposição. O que implica também, fugir e tentar passar despercebido.
É ainda usada para desbloquear obstáculos que surgem no nosso caminho e em alguns desafios relativamente interessantes.
Não posso deixar de referir que o jogo incentiva o uso da luva GRP, especialmente em locais onde existam objetos acutilantes, ventoinhas, ou mesmo abismos para onde lançar os inimigos. Além de bastante gratificante, é também uma forma de se poupar as raras munições.
Algo que parece demasiado rudimentar em The Callisto Protocol é o sistema defensivo no decorrer dos combates. Basicamente, quando um mutante ataca, temos de movimentar o analógico esquerdo numa direção para que Jacob se desvie e depois na outra quando ocorrer um segundo ataque. Creio que é algo demasiado minimalista num combate que se pretenderia um pouco mais frenético.
No que respeita aos nossos ataques, o jogo apresenta alguns momentos verdadeiramente viscerais, onde os desmembramentos dos mutantes (ou mesmo o nosso), são o prato do dia. Existem algumas sequências bastante interessantes, e mesmo as nossas mortes são também fantásticas de se assistir.
Voltando às armas, tanto a luva como a arma e como o bastão podem ser melhorados (em vários aspetos) ao longo do jogo, através duma das funcionalidades que os Striking Distance Studios implementaram em The Callisto Protocol e que encaixa perfeitamente no ambiente do jogo: impressoras 3D.
Espalhadas pelo complexo, existem várias impressoras 3D nas quais, por créditos que vamos encontrando no loot, podemos criar melhorias para as armas, bastão, ou para a GRP (sob a forma de chips). É um sistema de upgrade eficaz mas o uso da impressora 3D é uma ideia bastante bem pensada.
The Callisto Protocol disponibiliza ao jogador, um sistema de inventário bastante rudimentar e, convém dizer, reduzido. Somos um sobrevivente desejoso de fugir das instalações e portanto, temos de andar leves (apesar do ritmo do jogo ser bastante lento).
O facto do inventário ser bastante limitado, desencoraja de certa forma, à exploração dos níveis mas, encoraja por outro lado, a uma sensata escolha do que levamos conosco. Por exemplo, será melhor andar com mais injetores de saúde, ou baterias para a luva?
E um aparte para referir que a longevidade das luvas GRP é um pouco limitada pois funciona a baterias e o tempo de carregamento entre usos por vezes, é penosamente lento.
Por outro lado, pode ser considerado algo discutível a escolha da opção de injeção de saúde para recuperar energia. No entanto, revela-se é funcional qb.
Não poderia deixar de referir a excelência do capitulo sonoro de The Callisto Protocol. Com efeito, os efeitos sonoros do jogo encontram-se extremamente competentes. Num jogo deste género, nem só com recurso à imagem se consegue criar tensão e fazer a adrenalina ferver. A equipa dos Sriking Distance Studios conseguiu criar um ambiente sonoro que cria uma eterna sensação de desconhecido e ameaça. A Black Iron Prison encontra-se repleta de sons que nos lembram a qualquer momento que não estamos sozinhos.
Por exemplo, enquanto avançamos por um sistema de ventilação, é normal ouvirmos sons de algo a rastejar noutra ventilação paralela. Esse tipo de som, causa um inevitável frenesim de emoções quando uma curva ou uma saída surge.
O DualSense também faz o seu trabalho com competência, em particular quando somos atacados ou quando nos encontramos em ambientes mais enclausurados. Adicionalmente, e uma vez que na maior parte do tempo comunicamos com o nosso "amigo (in)suspeito" por comunicadores, o DualSense é que se encontra responsável por dar som às suas palavras, o que recria de certa forma a comunicação de modo convincente.
Em tons de resumo final, não se pode considerar que The Callisto Protocol seja um jogo que reinvente a roda ou seja revolucionário. Aliás, sofre de alguns problemas técnicos e de concepção que o impedem de atingir uma dimensão superior. O que é pena, pois tem todo o potencial para alcançar um nível ainda mais elevado de absorvência e excitação.
No entanto, acaba por ser um jogo bastante competente naquilo a que se propõe e pode perfeitamente vir a representar um ponto de partida para algo que possa vir mais à frente. Para quem goste dos jogos deste tipo, tem aqui uma boa alternativa para explorar, sem dúvida.
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