Análise Hidden Agenda (Playstation 4)
Esta é uma crónica sobre como uma série de crimes hediondos se pode tornar num divertido party game destinado quer a verdadeiros gamers, quer a jogadores mais casuais. Hidden Agenda surpreende-nos, não só pela trama não muito habitual em jogos de consola, mas também pela forma como é jogado. A solo ou com amigos, o jogo faz uso do novíssimo sistema Playstation Playlink, que leva a interactividade a um nível completamente diferente.
Explorando este novo sistema, tentámos desvendar uma série de crimes que podem causar a execução de um inocente … ou não. Venham daí e deixem-se embrenhar na história de Hidden Agenda.
Quem conhece o exclusivo PS4 Until Dawn vai certamente reconhecer o estilo e a mecânica de Hidden Agenda, a mais recente aposta da Supermassive Games para a PS4. Mas este não é um título qualquer. Hidden Agenda foi desenvolvido com o intuito de ser a flagship do novíssimo sistema de jogo da Playstation: o Playlink. Neste sistema, os jogadores interagem com a consola através dos seus smartphones – que têm de estar todos ligados à mesma rede que a consola. Trata-se de um sistema destinado principalmente a jogos em grupo, requerendo uma elevada interacção entre os diversos jogadores. É o sistema ideal para uma noite de diversão com amigos.
Hidden Agenda pode ser jogado a solo mas, claro está, não tem metade da piada: a ideia do jogo é a de ser jogado por até 4 jogadores em simultâneo. Conta também com um modo competitivo, em que um dos jogadores envolvidos tem uma “hidden agenda” atribuída no início do jogo e que tem de fazer cumprir sem se denunciar.
A história é simples: “The Trapper”, um perigoso serial killer, cometeu uma série de homicídios e deixou os cadáveres armadilhados. Quando os agentes da polícia chegam ao local são apanhados na emboscada. O prólogo inicial mostra-nos a detenção deste perigoso criminoso que - condenado à pena capital - aguarda pela execução no corredor da morte. Mas os crimes voltam a ocorrer, nas mesmas circunstâncias e com o mesmo modus operandi. Cabe-nos ajudar a detective Becky Marney e a procuradora pública Felicity Graves a esclarecer o mistério. Quem é o homem que foi preso, acusado e condenado de todos estes crimes? É ele o verdadeiro assassino? Se não, qual a sua relação com o verdadeiro “The Trapper”?
Hidden Agenda assenta essencialmente nas opções que nos são apresentadas e que influenciam, não só o desenrolar da história, como o seu final. Este aspecto do jogo em particular é ainda mais interessante quando aplicado ao conceito do Playlink. Quando jogamos com mais jogadores, tem de haver consenso quanto à opção a tomar: só assim poderemos prosseguir e ver como a nossa decisão alterou o rumo da história.
E este é, sem dúvida, o ponto forte do jogo. Infelizmente, e ao contrário de Until Dawn, o tempo de jogo é tão curto que acaba por nem dar tempo suficiente para se aproveitar bem o enredo. O potencial está claramente lá, mas a concretização deixa algo a desejar.
A construção dos personagens não foi bem conseguida, não revelando grande nível de profundidade. O enredo acaba por ser algo cliché, demasiado semelhante a um qualquer filme policial de canal de cabo emitido numa tarde de domingo. Também a edição de cenas é questionável: enquanto algumas transições entre os diálogos são fluídas e suaves, outras deixam a sensação de que existiu um corte inadequado.
Mas não só de escolhas e decisões vive Hidden Agenda: existirão situações em que teremos de procurar pistas pelo cenário. Embora este modelo possa parecer interessante à primeira vista, acaba por padecer de alguns problemas. Em primeiro lugar, e apesar de normalmente existir mais do que um par de olhos a perscrutar o cenário, não é muito fácil usar o ecrã do smartphone para sinalizar uma pista. Em segundo lugar, há um tempo limite para as localizar e este é, na minha opinião, o aspecto mais negativo. A tarefa é bastante dificultada e esta opção acaba por parecer um pouco desnecessária: afinal, não nos encontramos numa situação de urgência ou de perigo eminente. Percebe-se que tenha sido uma tentativa de aumentar a tensão do jogo, mas o tempo limite poderia – e deveria – ser um pouco maior.
No geral, se Hidden Agenda não fosse um jogo para o Playstation Playlink – o que implicaria outro tipo de jogabilidade e até a possibilidade de ter um enredo mais bem conseguido – poderia chegar ao nível de Until Dawn. Assim, Hidden Agenda, acaba por se ver limitado e, mesmo não deixando de ser um bom jogo, deixa a sensação de que poderia ser muito melhor.
Veredicto:
Concebido pelos mesmos criadores de Until Dawn, a fasquia está elevada ainda mesmo antes de experimentarmos o jogo. A mecânica continua a mesma, com o jogo a assentar em decisões que mudam o curso da história. Infelizmente, essa história parece resultar de um processo criativo apressado, com um enredo demasiado previsível e personagens pouco trabalhados. O ideal é jogarmos com mais pessoas, embora, em certas situações, possa tornar-se um pouco confuso. Algumas lacunas encontradas levam-nos à conclusão de que talvez não seja completamente adequado ao conceito do Playstation Playlink. Ainda assim, Hidden Agenda cumpre os mínimos e não deixa de ser uma boa hipótese a considerar em reuniões com amigos. É divertido e é esse o propósito base de um jogo.
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