As fabricantes estão, ainda, a ler o mercado relativamente aos carros elétricos. Porém, para as europeias, há um problema unânime: a escassez de infraestrutura de carregamento.
Quando uma fabricante assume o compromisso da mobilidade elétrica, seja a curto, médio ou longo prazo, assume que é impreterível assegurar uma rede de carregamento robusta, que dê resposta ao crescimento da procura.
De facto, um dos grandes impasses aos carros elétricos reside, ainda, na autonomia e na falta de confiança que os potenciais utilizadores destes modelos eletrificados têm relativamente à disponibilidade de pontos de carga – a tal da ansiedade associada a estes veículos.
Assim, conforme compilado pela Automotive News Europe, é unânime entre as fabricantes europeias que têm lançado novos carros elétricos para o mercado que a rede de carregamento tem de se muscular.
Fabricantes querem apostar nos elétricos, mas também querem mais carregadores
Com o lançamento do modelo totalmente elétrico Explorer, fabricado em Colónia, na Alemanha, Martin Sander, diretor do negócio de veículos elétricos da Ford na Europa, revelou que há algo que o “preocupa muito”.
É preciso acelerar drasticamente [os processos de licenciamento e a implementação de infraestruturas de carregamento]. Se isso não acontecer, em 2035 os clientes não terão a possibilidade de conduzir veículos elétricos em toda a Europa, porque simplesmente não será prático.
Na mesma linha de pensamento está Luca de Meo. Na semana passada, numa conversa com o presidente da Eurelectric, uma associação que representa a indústria europeia da eletricidade, o CEO da Renault questionou, retoricamente, se a abordagem atual de carregamento não será um pouco limitada.
Afinal, a Renault começará a vender, ainda este ano, o R5 E-Tech e, embora uma das características seja o carregamento bidirecional – ou seja, o automóvel será capaz de devolver energia à rede, à casa ou aos eletrodomésticos -, este só funcionará com um carregador concebido pela Renault e com determinados fornecedores de eletricidade com os quais a empresa tem acordos.
A interoperabilidade e a procura de uma forma de fazer com que todos os automóveis possam repor a energia no sistema, venha ela de onde vier, é uma discussão que se deve ter.
Para Luca de Meo, a União Europeia (UE) deveria inspirar-se nos esforços que levaram à norma europeia para as telecomunicações dos telemóveis, que resultou na criação do Sistema Global de Comunicações Móveis, ou GSM. Segundo ele, “na Europa, inventámos a norma GSM e esta foi copiada em todo o lado”.
Porém, na perspetiva de Klaus Müller, presidente da Bundesnetzagentur alemã, que supervisiona os mercados de eletricidade e telecomunicações do país, a definição de uma norma comum de carregamento de veículos elétricos na UE não é uma tarefa para os 27 reguladores do bloco, mas antes “para as fabricantes de automóveis e os seus organismos autónomos”.
O problema da rede de carregamento assombra a indústria dos carros elétricos e, claramente, não passa despercebido às fabricantes que querem apostar neste mercado. Resta-nos, daqui em diante, perceber em que resultará este subtil “ioiô de responsabilidades”.