Análise Dragon Age: The Veilguard para a Playstation 5
Eis o momento pelo qual os amantes de RPGs, e em particular dos jogos da Bioware esperaram ao longo dos últimos anos. Dragon Age: The Veilguard já foi lançado.
Dragon Age... o revivalismo dos RPG
A Bioware é sobejamente conhecida no meio dos videojogos como uma equipa de desenvolvimento que produz RPG de qualidade superior, como comprovam isso mesmo as sagas Mass Effect e Dragon Age. E é precisamente sobre esta última que vos venho escrever.
Dragon Age acabou de receber o mais recente episódio: The Veilguard, envolto em grandes expetativas e nós já o experimentamos.
A primeira coisa que me vem à cabeça escrever é que Dragon Age: The Veilguard é um RPG "á antiga". Um daqueles jogos que pessoalmente me delicia e que me "tiram" tantas horas de sono quantas as horas de diversão que me "oferece".
Tenho de, contudo fazer um aparte, no sentido de confessar que aprecio RPGs menos fantasiosos (trata-se de um mero gosto pessoal) mas, não consigo dizer não a um bom RPG e The Veilguard vem comprovar que a Bioware continua a saber o que melhor faz e, mais que isso, consegue aprender com os seus próprios erros e melhorar o que ainda pode ser melhorado.
Mas... começando pelo inicio
Dragon Age: The Veilguard passa-se algures no tempo, após os eventos de The Inquisition e traz consigo um novo e terrível perigo para Thedas e seus habitantes.
Tudo nos é revelado através duma sequência inicial de jogo na qual o nosso personagem de nome Rook, juntamente com o seu amigo Varric vagueiam por Minrathousm quando um evento misterioso ocorre e mergulha a cidade no caos e destruição.
Antes ainda disso, e convém vincar bem, existiu um processo de criação do nosso personagem que, se pode dizer ser francamente robusto e multifacetado.
Escolhemos a Classe de Rook, a espécie e uma tremenda quantidade de características fisionómicas.
Voltando à história do jogo, o mundo de Thedas encontra-se de repente envolvido num negrume onde demónios surgem de todos os lados e (mais tarde vimos a descobrir) que Solas, o mago élfico também conhecido como Dread Wolf, é o causador de tudo isso.
No decorrer duma invocação mágica, Solas acaba por inadvertidamente libertar dois Deuses Élficos bastante poderosos que pretendem transformar Thedas no seu quintall trazendo morte e destruição, às mãos de hordas de demónios por eles libertados.
Rook e um conjunto de 7 companheiros (alguns vamos recrutando em diferentes zonas entretanto desbloqueadas) são os únicos que poderão enfrentar Elgar'nan e Ghilan'nain. E para tal contam também com a "ajuda" de Solas que entretanto se encontra aprisionado numa outra Dimensão, à qual Rook tem acesso através da meditação. Aliás, esta é uma propriedade interessante do jogo pois, consoante a história que vamos "escrevendo" com as nossas decisões, Solas tanto pode ser um apoio inestimável como.... não.
Rook e os seus amigos iniciam assim uma sucessão de mais de 80 horas de aventura e ação, para a "limpeza" de Thedas. E não apenas dos demônios libertados por Elgar'nan e Ghilan'nain. Existem muitas conspirações e politiquices a decorrer no território que envolvem várias fações e que podem (e devem) ser exploradas.
Com a sua base no The Lighthouse (Farol em português), Rook prepara as suas incursões por Thedas consoante a necessidade e, tal como num RPG desta magnitude deve ter, até mesmo essas decisões podem trazer repercussões importantes para o jogo. Não querendo me alongar muito, os nossos vários aliados são provenientes de diferentes zonas do continente o que faz com que as suas motivações, além da erradicação do Mal, passam também pelos seus familiares e amigos e Rook é só um, ou seja, por vezes terá de ajudar um deles em detrimento de outro.
O que traz... inevitáveis reações. Essas interações que, tanto podem ser simples e inofensivas, até outras de cariz mais moral ou ético, são uma peça importante na experiência The Veilguard.
Essa é uma componente bastante importante de The Veilguard e que vimos também em Mass Effect: as relações entre personagens. Efetivamente, o relacionamento entre o nosso personagem e os restantes aliados vai-se materializando (para o bem ou para o mal) com as tomadas de decisão ou conversas entre ambos e isso provoca claramente, conexões visíveis entre os personagens.
E sim... se é isso que estão já a pensar... também há espaço para o romance.
Curiosidade para o facto de cada companheiro ter, ocasionalmente, missões para serem completadas apenas com ele, ajudando também no fortalecimento ou arrefecimento da nossa relação com ele e de conhecimento melhor das suas raízes e motivações.
E, por referir os nossos aliados, cada qual tem as suas competências e especializações, tendo também uma árvore de desenvolvimento que é desbloqueada com a aquisição de experiência nas quests nas quais nos acompanham.
Por outro lado, e tal como não poderia deixar de ser, Rook tem uma árvore de habilidades para desbloquear bastante grande e, mais que isso, bastante diversificada com um sistema de especialização diferente mas bastante intuitivo. Basicamente temos três Classes ao inicio (Champion, Reaper ou Slayer) e, consoante a Classe escolhida abre-se uma árvore de habilidades que é disposta em forma circular com dezenas de sub-classes, e que evolui de dentro para fora, no sentido de ganharmos skills sistematicamente até dominarmos cada Classe.
É claro que tudo isto tem um impacto crucial na jogabilidade e com influência clara na forma como os combates (diálogos ou interações também) decorrem. Muitas são habilidades passivas e outras nem tanto mas todas têm algures no jogo, o seu momento alto.
Rook apresenta, além dos tradicionais ataques forte e fraco, a possibilidade de se esquivar e defender mas, também tem uma habilidade mais poderosa que é despoletada quando temos energia Ultimate suficiente. Geralmente, é uma habilidade que convém poupar para os bosses ou inimigos mais poderosos pois, esses combates tendem a ser exigentes.
E por falar em combate, trata-se de um mix de saber usar as habilidades de Rook, de saber ocupar posições mais vantajosas no terreno, e usar os nossos companheiros e respetivas habilidades. Isto pois, cada um dos 2 aliados que podemos levar para combate, pode equipar três habilidades especiais e podemos dar-lhes ordens para as usarem a cada momento. É claro que existe um período de cooldown para as suas habilidades (e de Rook), pelo que também terão de ser geridas.
O sistema de dar ordens aos nossos companheiros é simples, bastante pressionar L1 e depois escolher o ataque (ou ataques) pretendidos. Podemos dar instruções apenas a um aliado, ou a todos (incluindo a Rook) o que pode ser muito útil em dadas ocasiões.
Em combate, os nossos amigos podem vir-se a tornar na diferença entre vencer ou morrer e, na maior parte das vezes, apresentam um comportamento bastante aceitável.
O combate é em tempo real, tal como tem sido no decorrer da evolução da série e é extremamente fluído. Apesar de ter ocasiões em que se assemelhe a hack'n slash, The Veilguard tem (ou pode ter) uma componente tática que os jogadores podem (e devem) explorar. As habilidades de cada nosso aliado, juntamente com as nossas habilidades podem ser uma ferramenta extremamente poderosa contra os inimigos mais fortes.
Pessoalmente, apreciei bastante o apoio de Bellara Lutare, uma Veil Jumper e da Neve, uma feiticeira detetive de Tevinter, que se vieram a revelar como ótimas companheiras em combate.
Uma vez que cada companheiro pode equipar 3 ataques distintos, optei por ter sempre alguém comigo que tivesse o poder de cura. Isto pois as poções são poucas e os inimigos, são muitos e existem ocasiões em que é mesmo necessário.
Uma propriedade interessante de The Veilguard são as Detonações. Trata-se de um sistema de ataque que permite encadear o uso de determinada habilidade de um aliado com a habilidade de outro, provocando dessa forma, um ataque mais devastador sobre determinado inimigo.
É claro que, como cada habilidade dos aliados tem um período de cooldown, a Detonação acaba invariavelmente por levar a um breve momento de não se poder usar novamente essas habilidades e dessa forma o seu uso tem de ser bem pensado.
Inimigos não vão faltar, fruto de uma narrativa forte e composta de várias histórias paralelas. Uma narrativa bastante profunda que faz de Thedas um continente vivo e rico, assim com as diversas personagens que aí vamos encontrando. Há muito por onde explorar, até porque o jogo apresenta-se aberto à exploração, assim que desbloqueamos determinada zona.
E... há muito loot para descobrir. A velha fórmula de tesouros e arcas com loot está de volta, traduzindo-se num vicio incessante de procurar todas e descobrir novas armas, equipamentos e muito mais.
E em cada uma existem muitos pontos de interesse, mercadores e NPCs que têm as suas histórias, experiências e... missões secundárias. E, novamente, as escolhas determinarão como algumas dessas histórias se irão desenrolar fazendo com que apesar de haver uma narrativa comum que todos os jogadores vivenciam, há caminhos diferentes que influenciarão sua própria experiência neste jogo Dragon Age.
No entanto, as habilidades de cada aliado não se resumem ao combate e existem inúmeras situações em que podemos usá-las (mesmo que esse companheiro não esteja naquele momento na nossa party) para desbloquear caminhos ou ultrapassar obstáculos específicos na exploração do mundo de Thedas.
É simplesmente fantástica essa imersão na história e não só, fazendo com que a forma como as missões paralelas vão surgindo seja extremamente fluída e coerente. Tudo faz sentido em Veilguard.
As interações com o resto do Mundo é da inteira responsabilidade do jogador e refletem-se nas missões respetivas ou em alguns pontos da história principal. No entanto, a interação com os membros da nossa party podem-se refletir em algo mais, como referi acima.... desde a simples amizade e camaradagem, até algo mais profundo.
Seja como for, temos sempre um leque de opções para os diálogos, cada qual com um impacto distinto no interlocutor.
Uma palavra de elogio para o fantástico Codex que a Bioware incluiu em The Veilguard. Para se jogar o jogo, não é obrigatoriamente necessário conhecer-se a história passada mas, com um Codex assim, ainda menos falta faz esse conhecimento.
Graficamente o jogo encontra-se tremendamente bom e a ação que assistimos no écran é extremamente bem acompanhada, não só pelo fantástico trabalho de vozes mas também pela banda sonora de Dragon Age: The Veilguard.
A experiência de jogar este Dragon Age: The Veilguard é simplesmente fantástica e trata-se claramente de um RPG que todos os apreciadores deste género de jogo irão gostar. As horas passam a correr e nem damos por elas, tal a envolvência que o jogo nos traz.
É o melhor Dragon Age de sempre e quiçá o melhor RPG da Bioware. Creio que as lições aprendidas com Mass Effect e Dragon Age anteriores ajudaram a consolidar The Veilguard. O jogo é massivo mas nunca parece demais. Parece sempre de menos e queremos sempre mais. Mais. Mais!