Polymarket: o que é a plataforma digital que “apostou” na vitória de Donald Trump
As eleições norte-americanas, que levaram Donald Trump de volta ao poder, também foram alvo de apostas. O Polymarket saltou para ribalta e foi motivo de intenso debate. Longe de ser uma sondagem tradicional, pode ter uma influência decisiva. Venha conhecer esta plataforma.
Donald Trump foi uma aposta que gerou muito dinheiro
O Polymarket, uma plataforma descentralizada de previsão de eventos baseada em blockchain, tem ganho popularidade entre analistas políticos, investidores e curiosos interessados em antecipar os resultados de grandes eventos, como as eleições americanas.
Fundado em 2020, permite que os utilizadores apostem em diversos tipos de eventos — desde desportivos e culturais até questões de políticas públicas e, claro, eleições.
Com a sua estrutura baseada em contratos inteligentes, a plataforma tornou-se um termómetro para sondar a opinião pública e prever tendências, levantando discussões sobre o impacto que pode ter na perceção e nos resultados das eleições nos Estados Unidos.
Como funciona o Polymarket?
O Polymarket é uma plataforma de “mercado de previsões”, onde os utilizadores podem comprar e vender participações em eventos futuros. Estas apostas, ou previsões, são alimentadas por contratos inteligentes na blockchain da Polygon, o que garante que as operações sejam transparentes, seguras e descentralizadas.
Em vez de depender de instituições financeiras tradicionais, o Polymarket usa criptomoedas, permitindo que as transações sejam rápidas e sem intermediários. Os utilizadores apostam em respostas binárias (sim/não) para questões relacionadas com eventos futuros, como “Quem ganhará as eleições presidenciais?” ou “O Partido Republicano conseguirá maioria no Senado?”
Os preços das previsões variam com a oferta e a procura, de forma semelhante ao funcionamento dos mercados financeiros. Se uma aposta sobre a vitória de um candidato custa 60 cêntimos, isso indica que o mercado atribui 60% de probabilidade a esse resultado.
Caso aconteça, aqueles que apostaram no resultado vencedor recebem 1 dólar por cada ação, o que representa um lucro significativo. Caso contrário, perdem o valor investido.
Influência nas eleições americanas
Nos últimos anos, a plataforma tem sido utilizada como um indicador importante para prever os resultados das eleições americanas. Com base nas previsões dos utilizadores, a plataforma gera uma visão geral sobre qual candidato ou partido tem maior probabilidade de vencer.
Embora não seja um substituto para sondagens formais e científicas, a sua natureza aberta e descentralizada permite que funcione como uma forma de "sabedoria das multidões", refletindo as expectativas coletivas de milhares de utilizadores.
A principal diferença entre o Polymarket e as sondagens tradicionais é que, enquanto estas últimas se baseiam em perguntas diretas aos eleitores, o Polymarket representa o investimento financeiro de utilizadores dispostos a colocar o seu próprio dinheiro nas suas previsões.
Isso pode resultar em análises mais realistas e menos influenciadas pelo viés de resposta, já que os utilizadores estão financeiramente envolvidos e, por isso, tendem a ser mais racionais nas suas apostas.
Além disso, o Polymarket atrai a atenção de pessoas com um conhecimento mais detalhado dos cenários políticos e económicos, como analistas e investidores experientes, o que pode trazer uma maior precisão para as previsões.
Nos Estados Unidos da América, as eleições presidenciais e legislativas são acompanhadas de perto neste tipo de plataformas, o que faz com que muitas pessoas utilizem estas previsões como uma forma de medir o "sentimento do mercado" em relação aos candidatos.
A perceção pública
O Polymarket tem sido alvo de debate devido à influência que pode exercer na perceção pública sobre os candidatos e os partidos. À medida que a plataforma ganha popularidade, torna-se uma fonte de informação adicional para os eleitores, que podem ser influenciados pelos resultados das apostas ao formar as suas próprias opiniões.
Se atribui uma alta probabilidade de vitória a um determinado candidato, isso pode levar algumas pessoas a acreditar que este candidato é o favorito, influenciando a opinião pública e até mesmo as intenções de voto.
Mais, em períodos eleitorais intensos, onde a polarização é evidente, o Polymarket pode amplificar certas narrativas. Caso a plataforma mostre uma probabilidade de vitória significativa para um candidato, esse dado pode ser partilhado em redes sociais, ajudando a criar uma sensação de inevitabilidade em torno desse candidato.
Esta situação pode ter um efeito psicológico nos eleitores indecisos, que podem optar por votar no candidato que percebem como favorito, em vez de votar segundo as suas próprias convicções. Nos últimos dias antes das recentes eleições americanas, o Polymarket apostava já claramente na vitória de Trump.
Regulamentação e ética
A crescente popularidade do Polymarket também trouxe questões relacionadas com a regulamentação e a ética. Em muitos países, os mercados de previsão sobre eventos políticos enfrentam restrições legais, uma vez que podem ser considerados uma forma de jogo.
Nos EUA, onde as apostas em eleições são amplamente reguladas, o Polymarket encontrou uma lacuna ao operar com criptomoedas e numa plataforma descentralizada, o que torna a sua fiscalização mais complexa.
Alguns críticos argumentam que permitir apostas em eleições pode incentivar o comportamento especulativo e desvirtuar o processo democrático. No entanto, os defensores da plataforma argumentam que, tal como outros mercados de previsão, fornece informações valiosas ao público e pode até aumentar o interesse pela política entre os cidadãos.
A Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC) já investigou a plataforma anteriormente e tem emitido alertas sobre a necessidade de regulamentação. Mas a própria natureza descentralizada do Polymarket torna a sua regulação um desafio. Com a crescente adoção de tecnologias baseadas em blockchain, é provável que governos e entidades reguladoras continuem a monitorizar este tipo de plataforma para assegurar que operem de forma justa e ética.
A influência da plataforma nas eleições americanas foi, sem dúvida, relevante, mas deve ser vista como um complemento às outras fontes de informação e não como uma previsão absoluta. Como em qualquer mercado financeiro, as apostas no Polymarket refletem opiniões e especulações que podem ou não se concretizar, mas que, no entanto, contribuem para a compreensão da dinâmica política moderna.
Imagem: REUTERS/Brian Snyder
Neste artigo: Blockchain, Donald Trump, mp, Polymarket
Quase todas as casas de apostas tiveram o mesmo, uma das mais fortes é a Betfair e pelo que vi 2 dias antes das eleições dava o Trump a ganhar.
Só lembrar que as sondagens “formais e científicas”, além de estar quase sempre erradas, também podem ser utilizadas para manipular a opinião publica e “incentivar o comportamento especulativo e desvirtuar o processo democrático”. Eu diria que este sistema acaba por ser mais transparente, para não falar que previu o resultado com muito menos erros.
E qual foi o grau de indução na escolha do voto? Ou não teve influência? Só transparência não chega, é fundamental a isenção
É um mercado de apostas, reflete o que cada pessoa acha de quem vai ganhar ou perder e quanto está disposto a apostar. Como é que se aplica a isenção? E lembro que estamos a falar dos EUA, onde até os jornais e canais de televisão indicam o candidato que apoiam. Onde é que se faz valer a isenção num contexto destes?
Simples, as pessoas apostam no favorito. Nas sondagens e na contagem de votos tradicionais, existe manipulação.
pois só há manipulação quando ganham os outros…