As acusações que o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) faz à Apple são… estranhas! Vários analistas, como a empresa de investimento Ritholtz, referem que an Apple não apontou uma arma à cabeça de ninguém para escolher o iPhone em vez de um Android, é uma preferência do consumidor. Mas o DOJ acredita mesmo que Apple terá matado o Windows Phone!
E quem “tramou” a Huawei?
Desde quinta-feira, a Apple e o DOJ estão envolvidos numa batalha mediática sobre a posição dominante da empresa de Cupertino.
O DOJ processou a Apple para a obrigar a abrir-se à concorrência a todos os níveis. Para justificar a sua ação, o departamento apresentou um documento de 88 páginas com numerosos exemplos. Entre eles, o facto de a Apple ter eliminado o Windows Phone, o Amazon Fire Phone e outros, como os telemóveis da LG e da HTC.
Em suma, todos os concorrentes que falharam podem culpar a Apple. Por seu lado, a Apple acredita que o DOJ quer transformar o iPhone num Android.
Apesar de haver inúmeras razões para a Apple não ser diretamente e de forma intencional a culpada de algumas marcas terem desaparecido do mercado ou alguns produtos não terem vingado, não podemos esquecer quem baniu algumas marcas chinesas do mercado americano, como é o caso da Huawei.
Acusações graves
Para estarmos enquadrados com algumas das acusações, este extrato permite perceber o que foi apresentado pelo DOJ:
Muitas empresas de grande dimensão e bem financiadas tentaram e não conseguiram entrar com êxito em mercados relevantes devido a estas barreiras à entrada. Entre os fracassos do passado contam-se a Amazon (que lançou o seu telemóvel Fire em 2014, mas não conseguiu manter o negócio de forma rentável e saiu no ano seguinte); a Microsoft (que saiu do seu negócio de telemóveis em 2017); a HTC (que saiu do mercado vendendo o seu negócio de smartphones à Google em setembro de 2017); e a LG (que saiu do mercado de smartphones em 2021).
Atualmente, apenas a Samsung e a Google continuam a ser concorrentes importantes no mercado dos smartphones de desempenho dos EUA. As barreiras são tão elevadas que a Google é apenas um terceiro concorrente distante da Apple e da Samsung, apesar de a Google controlar o desenvolvimento do sistema operativo Android.
No fundo, segundo o Departamento de Justiça dos EUA, todos os fracassos dos gigantes da tecnologia são culpa da Apple.
Nenhum argumento válido
Se existe uma correlação entre o sucesso da Apple e os fracassos de empresas como a Amazon, HTC, LG e Microsoft, ela é muito real, mas não é, na opinião de muitos analistas e investidores, do tipo sugerido pelo DOJ.
A Apple não impediu ninguém de oferecer os seus próprios telemóveis, e a empresa fundada por Steve Jobs chegou mesmo ao mercado depois da maioria destas empresas com o iPhone em 2007.
A Apple tem tido um enorme sucesso graças à sua abordagem única, oferecendo um telemóvel simples de utilizar e de elevado desempenho. Evoluiu ouvindo os seus clientes, o que não foi o caso da Microsoft, LG, HTC, Nokia e outras.
Basta olhar para o sucesso de marcas chinesas como a Xiaomi ou a Huawei para ver que a concorrência é possível, sem esquecer a inabalável Samsung. Mesmo a Google, que se atrasou na conceção de smartphones, conseguiu assegurar um mercado.
No caso do Fire Phone da Amazon, que apareceu em 2014 (e desapareceu em 2015), também vale a pena recordar que a marca não optou pelo caminho mais fácil.
Entre os seus defeitos estão o facto de não oferecer acesso à Google Play Store, de não estar disponível em todos os operadores, de custar 200 dólares com uma subscrição nos EUA (como o iPhone na altura) mas para um modelo low-end, de não ter praticamente aplicações e de só oferecer produtos da Amazon.
Além disso, o DOJ responsabiliza mesmo a Apple pela aquisição da HTC pela Google. A lógica disto escapa-nos completamente, uma vez que pode ser vista como uma ação anticoncorrencial por parte da Google.