O Sol é o astro que mantém a vida na Terra. Assim, em agosto de 2018 a NASA lançou para o espaço a sonda Parker Solar Probe. Como resultado, esta nave feita pelo homem tornou-se na primeira sonda mais próxima do Sol. Com instrumentos científicos de ponta para medir o ambiente em torno de si própria, a Parker Solar Probe completou três das 24 passagens planeadas por partes nunca antes exploradas da atmosfera do Sol, a coroa.
Agora, foram divulgados dados surpreendentes dos dois primeiros encontros do Parker Solar Probe com o Sol.
Exploração sem precedentes da nossa estrela
Estas descobertas revelam novas informações sobre o comportamento do material e das partículas que se afastam do Sol. Desta forma, os dados ajudam os cientistas de responder a perguntas fundamentais sobre a física da nossa estrela.
Além da necessidade de conhecer mais sobre o Sol, fonte de vida, há uma grande expectativa no trabalho desenvolvido para proteger os astronautas e a tecnologia no espaço. Assim, as informações que a Parker Solar Probe descobriu sobre como o Sol (que ejeta constantemente material e energia) vão ajudar a reescrever os modelos usados para entender e prever o clima espacial em redor do planeta. Além disso, servirão para entender o processo pelo qual as estrelas se formam e evoluem.
Estes primeiros dados da Parker revelam a nossa estrela, o Sol, de maneiras novas e surpreendentes. A observação do Sol de perto, e não a uma distância muito maior, está a dar-nos uma visão sem precedentes de fenómenos solares importantes e de como nos afetam na Terra, além de fornecer novas ideias relevantes para a compreensão das estrelas ativas nas galáxias. É apenas o começo de um momento incrivelmente emocionante para a heliofísica com a Parker na vanguarda de novas descobertas.
Referiu Thomas Zurbuchen, administrador associado para ciência na sede da NASA em Washington.
O Sol produz um turbilhão de acontecimentos que nos influência
Na Terra não temos a noção da agitação que se passa na nossa estrela maior. De facto, a nossa estrela é magneticamente ativa, libertando poderosas explosões de luz. Dilúvios de partículas que se movem perto da velocidade da luz. Nuvens com milhares de milhões de toneladas de material magnetizado.
Como resultado, toda esta atividade afeta o nosso planeta, injetando partículas prejudiciais no espaço onde os nossos satélites e astronautas voam. Interrompendo assim as comunicações e sinais de navegação, e mesmo – quando intensos – levando a falhas na energia elétrica. Tem vindo a acontecer ao longo da vida útil de 5 mil milhões de anos do Sol e assim continuará a moldar os destinos da Terra e dos outros planetas no nosso Sistema Solar futuro.
Nesse sentido, o que acontece no Sol é fundamental para entender como molda o espaço ao nosso redor. A maior parte do material que escapa deste astro faz parte do vento solar, um fluxo contínuo de material solar que banha todo o Sistema Solar. Este gás ionizado, chamado plasma, carrega consigo o campo magnético do Sol, estendendo-o através do Sistema Solar numa bolha gigante que abrange mais de 16 mil milhões de quilómetros.
NASA quer saber mais sobre o vento solar que fustiga a Terra
Observado perto da Terra, o vento solar é um fluxo relativamente uniforme de plasma, com ocasionais quedas turbulentas. Contudo, durante a viagem de quase 150 milhões de quilómetros até chegar à Terra, já se perderam muitas informações dos mecanismos exatos do Sol. Informação relevante para perceber aquece e acelera o vento solar.
Desta forma, mais perto da fonte do vento solar, a Parker Solar Probe viu uma imagem muito diferente. Na verdade, viu um sistema ativo e complicado.
Have questions about #ParkerSolarProbe‘s new discoveries? Leave a question for the mission team on @reddit — scientists will be answering starting at 2pm ET! https://t.co/uaultw9ta7 pic.twitter.com/o9W2pq5X33
— NASA Sun & Space (@NASASun) December 5, 2019
A rotação do vento solar
Algumas das medições da Parker Solar Probe estão a aproximar os cientistas de respostas a perguntas com décadas. Uma dessas perguntas é como, exatamente, o vento solar flui do Sol.
Conforme é sabido, perto da Terra, vemos o vento solar fluir quase radialmente – o que significa que está a sair diretamente do Sol em todas as direções. Mas o Sol gira enquanto liberta o vento solar; antes de se libertar, o vento solar gira com ele.
Agora, pela primeira vez – ao invés de apenas ver o fluxo direto que observamos perto da Terra – a Parker Solar Probe foi capaz de observar o vento solar enquanto ainda estava em rotação. É como se a Parker Solar Probe visse o carrossel rodopiante diretamente pela primeira vez, não apenas as crianças que saltam dele.
O instrumento de vento solar da Parker Solar Probe detetou a rotação a começar a mais de 32 milhões de quilómetros do Sol e, à medida que a Parker se aproximava do seu ponto de periélio, a velocidade da rotação aumentava. A força da circulação era mais forte do que muitos cientistas previram, mas também transitou para um fluxo externo mais rapidamente do que o previsto, que é o que ajuda a mascarar estes efeitos onde geralmente estamos, a cerca de 150 milhões de quilómetros do Sol.
Poeira perto do Sol
Segundo os investigadores, em breve poderemos saber algo concreto sobre a elusiva zona livre de poeira. Conforme foi referido, o nosso Sistema Solar está inundado de poeira. São as migalhas cósmicas de colisões que formaram planetas, asteroides, cometas e outros corpos celestes há milhares de milhões de anos atrás.
Assim, os cientistas suspeitam há muito que, perto do Sol, esta poeira seria aquecida a altas temperaturas pela poderosa luz solar, transformando-se em gás e criando uma região livre de poeira em torno do Sol. No entanto, nunca ninguém a tinha observado.
Ao ritmo desta diminuição, os cientistas esperam ver uma zona verdadeiramente livre de poeira a pouco mais de 3,2-4,8 milhões de quilómetros do Sol. Quer isto dizer que a Parker Solar Probe poderá observar a zona livre de poeira já no início do próximo ano. Aliás, será nesta altura, aquando o seu sexto “flyby” pelo Sol, que a nave estará mais perto do Sol do que nunca.
Portanto, à medida que a Parker Solar Probe continua a sua viagem, fará mais 21 grandes aproximações ao Sol. Contudo, as distâncias serão cada vez menores, culminando em três órbitas a uns meros 6,16 milhões de quilómetros da superfície solar.
Os dados dos dois primeiros encontros solares da Parker Solar Probe estão disponíveis ao público via online.