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Pontos de Lagrange: o que são estas áreas-chave que os EUA e a China querem dominar?

Com a China e os Estados Unidos da América (EUA) a crescerem em matéria espacial, os pontos de Lagrange estão a tornar-se cruciais para a afirmação da influência de cada uma das nações fora da Terra. O que são estas áreas-chave e por que motivo são relevantes?


Os pontos de Lagrange, assim designados em homenagem ao astrónomo Joseph-Louis Lagrange, situam-se no espaço interplanetário, onde a atração gravitacional de dois corpos celestes (como a Terra e o Sol) equilibra a força centrípeta que mantém os objetos mais pequenos em órbitas estáveis.

No sistema Sol e Terra-Lua, cinco pontos de Lagrange (designados por L1 a L5) emergem destas interações gravitacionais.

Dois deles, o L4 e L5, situam-se 60 graus à frente e atrás da Terra (mais a Lua) na sua órbita em torno do Sol.

A estabilidade que esses locais (L4 e L5) asseguram torna-os atrativos para satélites e telescópios, uma vez que as naves espaciais podem permanecer nestes pontos durante longos períodos sem grandes gastos de combustível.

Além disso, a estabilidade oferece ainda uma visão contínua da Terra e da Lua, tornando esses locais ideais para tarefas como a monitorização dos padrões climáticos da Terra.

Depois, a relativa ausência de interferências atmosféricas, combinada com a proximidade da Lua, confere a L1 e L2, também, vantagens estratégicas.

Ora, a nação que conseguir controlar estas posições, estes pontos de Lagrange, assegura uma vantagem não apenas espacial, mas em matéria de comunicações e vigilância.

O L2 é especificamente importante devido à sua visibilidade do lado mais afastado da Lua. Não podemos ver isso da Terra e a China está a ir para lá.

Observou Laura Duffy, engenheira de sistemas espaciais, segundo a imprensa.

Do ponto de vista do Sol, o L2 está localizado a 1,5 milhões de quilómetros atrás da Terra. A sua órbita em torno do Sol reflete a velocidade da Terra, mas está cerca de quatro vezes mais longe do nosso planeta do que a distância mais distante da Lua.

Esta localização oferece uma visão clara do espaço profundo. Aliás, foi por este motivo que telescópios como o James Webb foram aí colocados.

A China, por exemplo, estacionou o satélite de retransmissão Queqiao no L2, no sistema Terra-Lua, para manter a comunicação com a sonda lunar Chang’e 4. Esta foi a primeira a aterrar no lado mais distante da Lua.

Os EUA têm aspirações semelhantes para L2, incluindo missões como o Gateway, planeado para o final da década de 2020.

 

China e EUA sabem exatamente de que partes do espaço precisam para o conquistarem

Um relatório recente de uma comissão bipartidária da Câmara dos Representantes descreve em pormenor a crescente concorrência económica e tecnológica entre a China e os EUA.

Investigando a rivalidade desde a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, em 2001, o relatório propõe um conjunto de cerca de 150 recomendações políticas destinadas a “reiniciar fundamentalmente” as relações.

O financiamento da NASA e do Departamento de Defesa é fundamental para garantir o comando e o controlo no domínio espacial, estabelecer o domínio na governação multilateral do espaço e estimular a descoberta científica e a inovação americana.

Lê-se no relatório, que aconselha o Congresso a “financiar os programas da NASA e do Departamento de Defesa, fundamentais para combater as ambições malignas do PCC [Partido Comunista Chinês] no espaço, inclusive garantindo que os [EUA] sejam o primeiro país a estacionar permanentemente ativos em todos os pontos de Lagrange”.

 

China já não fica para trás

Recentemente, a China fez grandes progressos no seu programa espacial, demonstrados por esforços como a missão de devolução de amostras lunares Chang’e 5 e a próxima expedição Chang’e 6 ao pólo sul da Lua.

A estação espacial Tiangong tornou-se operacional e o país pretende enviar taikonautas à Lua num futuro próximo.

O PCC compreende bem a necessidade de operações baseadas no espaço e está a desenvolver capacidades espaciais formidáveis para desafiar o domínio dos EUA.

Afirma o relatório.

Outras nações e agências têm, também, demonstrado interesse nos estratégicos pontos de Lagrange. À medida que estes se tornam centrais no contexto da corrida espacial, resta esperar para perceber como o seu controlo poderá moldar o avanço da humanidade no espaço.

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