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Poluição: Encontradas quantidades anormais de microplástico no fundo do mar

Com a pandemia a obrigar o mundo a abrandar, o ruído e a poluição diminuíram significativamente, não fosse o ser humano a principal fonte poluente do mundo. Assim, várias têm sido as notícias que dão conta desta regressão naquilo que, há uns meses, era quase impossível de regredir. A verdade é que, quando menos esperamos, surge algum motivo para percebermos que o nosso planeta “não é infinito” e que todas as nossas ações e comportamentos vão espoletar reações.

Apesar de haver algumas melhorias acontecidas nestas semanas, os oceanos estão com problemas. Há microplásticos em grandes quantidades depositados no fundo do mar.

 


 

Poluição leva a quantidades anormais de microplásticos no fundo do mar

A equipa, constituída por investigadores da Universidade de Manchester, de Durham, de Bremen e de Ifremer e do Centro Nacional de Oceanografia, recolheu inúmeros factos. Desde amostras de sedimentos do fundo do mar Tirreno, no Mediterrâneo, até à sua análise, em conjunto com modelos calibrados de correntes marítimas profundas e de cartografia detalhada do fundo do mar.

Com isto, os cientistas descobriram microplásticos em maior quantidade do que o normal, no fundo do mar. Como tal, recolheram pistas de modo a perceber de que forma as correntes marítimas e a normal circulação das marés, em alto mar, os pode transportar até lá.

De acordo com a investigação, é provável que esses plásticos minúsculos, com menos de 5 mm de dimensão, se acumulem de forma mais densa no fundo do oceano perto do foco de biodiversidade. Como resultado, há um intensificar dos danos causados aos ecossistemas marinhos dessas zonas.

Para atingir várias conclusões, os investigadores recorreram à separação da matéria entre sedimentos e microplásticos, contados ao microscópio, através de espetroscopia, a fim de determinar os tipos de plástico presentes.

 

 

Esta situação pode pôr em risco ecossistemas marinhos

A equipa internacional encontrou pedaços com até 1,9 metros numa camada fina, perto do fundo do mar, que cobria apenas 1 m². Isto sugere que as correntes marinhas agem como faixas marítimas. Estas transportam e concentram estes plásticos problemáticos em determinados pontos. À luz disto estão as manchas de lixo visíveis à superfície em determinadas áreas do Pacífico.

Esses focos das correntes são também locais de reprodução para a vida marinha. Ali reproduz-se a espécie ascídia. Esta espécie filtra o alimento, e é particularmente propensa a ingerir microplásticos, assim como são as esponjas marinhas e os corais de água fria.

Por outro lado, os vermes marinhos, que vivem nas camadas superiores dos sedimentos, exploram-no e acabam por ingerir microplásticos enterrados há décadas. Assim sendo, é percetível que os poluentes, mesmo depois de caírem no fundo do oceano, continuam a significar um impacto negativo nos ecossistemas marinhos mais importantes.

 

Os seres marinhos recebem microplásticos junto dos seus alimentos

O principal autor do estudo publicado na revista Science, Ian Kane, da Universidade de Manchester, disse que os ecossistemas frágeis se alimentam de nutrientes e água oxigenada. Assim, as correntes que transportam os microplásticos são as mesmas que levam o alimento aos seres vivos.

O verdadeiro problema são os plásticos que se encontram no ambiente que podem acumular vários poluentes e toxinas nas suas superfícies. Há provas de que algumas destas toxinas podem ser libertadas quando estiverem nas entranhas do organismo. Depois, temos o efeito da cadeia alimentar, onde pequenas criaturas são comidas por criaturas maiores.

Disse Ian Kane.

No final da cadeia, está o ser humano que, ao consumir um belo de um peixe, preparado das mais variadas formas, pode estar a ingerir microplásticos, de há muitas décadas, contaminados com poluentes inimagináveis.

 

Os microplásticos são um problema real que carece de atenção

Apesar de não haver muitas investigações sobre os impactos do microplásticos na vida marinha, as que existem suscitam preocupação. Isto, porque num estudo recente, por exemplo, foi revelado que os caranguejos eremitas, uma vez em contacto com microplásticos, tornam-se menos capazes de selecionar novas carapaças para viver. A poluição neste meio está a mudar a espécie.

Ao contrário do que possa estar a pensar, os microplásticos não provêm da decomposição de pedaços de plástico maiores. Afinal, os microplásticos que perturbam a vida marinha são provenientes da indústria têxtil e de vestuário. Assim sendo, e segundo Kane, esta é uma descoberta muito importante, na medida em que mostra a grandeza do que pode ser feito, a fim de impedir que estas pequenas partículas cheguem ao mar, em primeiro lugar.

Este estudo mostra por que estimativas da poluição de plástico, focadas apenas no que é observado à superfície, subestimam tão severamente o problema.

Afirma Jacqueline Savitz, membro do grupo de conservação Oceana.

Pequenas mudanças permitem grandes diferenças

Todos nós podemos fazer a diferença, ao escolher não comprar fast-fashion, que tem uma vida curta nas lojas e nos nossos armários, ou escolher evitar as embalagens de plástico, e por aí em diante.

Sugere IanKane.

Para ele, não está apenas nas mãos dos consumidores fazer determinadas escolhas. Aliás, as intervenções mais significativas precisam de partir dos governos e das indústrias de resíduos e de tratamento de águas. Estas podem, por exemplo, efetuar uma filtragem da água, de modo a evitar a passagem dos microplásticos para o mar.

Estes filtros existem, por exemplo, filtros de grafite, desenvolvidos pela Universidade de Manchester, e os novos filtros de nanofibra, desenvolvido na Finlândia… Mas é realmente a nível político e governamental que isto precisa de ser implementado.

Sublinha o principal autor do estudo.

 

É necessário agir para combater a poluição

A relação entre os focos de microplásticos e os focos de biodiversidade obriga as populações a parar, o quanto possível, a produção exorbitante de plástico. Ian Kane revela que a reciclagem pouco ou nada tem feito para solucionar o problema e que a limpeza nunca será suficiente.

Na sua perspetiva, a indústria petroquímica não tem contribuído para solucionar do problema, tem, pelo contrário, piorado a situação. Caberá aos responsáveis políticos travar o fluxo de plástico para os nossos oceanos.

A área examinada é zona de pescas importantes, como a pesca do atum-rabilho, espadarte e cherne.

 

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