A Lua, apesar de já ter recebido humanos no seu solo, continua a ser misteriosa quanto ao seu impacto na saúde humana. Contudo, o único cientista que pisou o solo lunar até hoje descobriu que é alérgico ao satélite natural da Terra. É verdade, o astronauta Harrison H. Schmitt, da Apollo 17, fez esta descoberta quando regressava ao módulo de aterragem, ainda na superfície lunar.
Humanos podem ser alérgicos à Lua
A cobertura predominante na superfície da Lua é chamada de regolito lunar. O regolito é uma camada de material fragmentado composto por rochas, minerais e poeira, que cobre a maior parte da superfície do satélite da Terra. Este “pó” formou-se durante milhares de milhões de anos resultante de impactos de meteoritos que fragmentaram as rochas da Lua em pequenos pedaços e com uma determinada característica que é adversa ao ser humano.
Schmitt andou na Lua em dezembro de 1972, a última missão tripulada ao satélite natural antes do fim do programa Apollo. Enquanto esteve na superfície, o geólogo passou o seu tempo a recolher amostras de rochas à volta do vale Taurus-Littrow, perto do Mar da Serenidade.
Quando tirou o fato na segurança do módulo de aterragem, entrou em contacto com a poeira lunar que tinha sido distribuída pela cabina.
A primeira vez que senti o cheiro da poeira tive uma reação alérgica, o interior do meu nariz ficou inchado, podia ouvir-se na minha voz. Mas […] gradualmente isso desapareceu e, na quarta vez que inalei poeira lunar, não notei mais nada.
Disse Schmitt no festival espacial Starmus em 2019, segundo o The Telegraph.
Schmitt não foi a única pessoa a sofrer uma reação alérgica à rocha lunar, tendo contado na conferência que um cirurgião de voo teve de parar o trabalho enquanto retirava fatos do módulo de comando devido à força da reação que teve. Schmitt disse que o problema tinha implicações para futuras missões.
Para alguns indivíduos temos de descobrir se vão ter uma reação, se vão ser expostos cronicamente a poeira lunar. A minha sugestão é que nunca os deixemos expostos à poeira lunar e há muitas soluções de engenharia desde que voei para manter a poeira fora da cabina, para a manter fora do fato. Vai ser sobretudo um problema de engenharia.
Referiu Schmitt.
Febre do feno… lunar
De acordo com a Agência Espacial Europeia (ESA), todos os outros astronautas sofreram, em certa medida, de “febre do feno lunar”. Geralmente, os sintomas experimentados eram espirros ligeiros e congestão nasal que desapareciam rapidamente, embora por vezes pudessem demorar alguns dias.
Estão em curso esforços para resolver o problema, possivelmente agravado por um fenómeno improvável: a estática. Na Terra, as partículas são suavizadas pela erosão do vento e da água, explicou a ESA, ao passo que na Lua – sem estas condições para as corroer – a poeira permanece afiada e pontiaguda.
Como a Lua não tem a nossa atmosfera para a proteger da radiação, o solo fica carregado estaticamente, enviando por vezes estas partículas pontiagudas para o ar e tornando-as mais suscetíveis de cobrir equipamento e entrar nos pulmões das pessoas.
O tamanho das partículas de poeira lunar é particularmente preocupante e é uma das questões que terá de ser abordada à medida que enviarmos mais astronautas de volta à Lua.
As partículas 50 vezes mais pequenas do que um cabelo humano podem permanecer durante meses nos pulmões. Quanto mais tempo a partícula permanecer, maior é a probabilidade de efeitos tóxicos.
Alertou Kim Prisk, fisiologista pulmonar envolvida em voos espaciais tripulados, no comunicado da ESA.
Poeira da Lua: Além de cheirar mal, ainda causa problemas de saúde
Segundo Gene Cernan, astronauta também da missão Apollo 17, o pisar a Lua dá a sensação de ser “macia como a neve, embora estranhamente abrasiva”. Também referiu que a Lua cheira mal. Tem um cheiro que vários astronautas apontaram como parecido ao cheiro de pólvora queimada.
Curiosamente, John Young, astronauta da Apollo 16, revelou que o pó lunar não tem um mau sabor. Já para o piloto da Apollo 11, Buzz Aldrin, a poeira que sujava o seu fato espacial tinha uma fragrância “como carvão queimado ou as cinzas de uma chaminé, sobretudo quando deitávamos um pouco de água sobre ela”. Na verdade, não é de estranhar este paralelo odorífico. O regolito que cobre a superfície deve-se à erosão cósmica.
A NASA está a oferecer 180.000 dólares (pouco mais de 150.000 euros) a quem possa fornecer soluções para contrariar as consequências desta pequena ameaça. Este assunto, se negligenciado, poderá colocar toda a missão em risco, além de afetar gravemente a saúde dos astronautas.