Será pretensioso da nossa parte pensar que, num Universo gigante como o nosso, estamos sozinhos? Assumindo que não estamos, o que será que os extraterrestres ficam a saber quando nos observam?
É a questão que fascina os cientistas e para a qual, ainda, não há resposta. Desta vez, consideraremos que não estamos sozinhos e assumiremos que, algures pelo Universo, poderão estar civilizações extraterrestres a observar-nos.
De facto, a teoria é que, se existirem, estarão muito mais desenvolvidas do que nós e tecnologicamente mais bem preparadas. Afinal, segundo Michael Garrett, Sir Bernard Lovell Chair of Astrophysics na The University of Manchester, nós só evoluímos para uma civilização técnica nos últimos 200 anos. Portanto, outras semelhantes podem existir há mais tempo e estar mil, 10.000 ou 100.000 anos mais avançadas do que nós.
Nos últimos anos, os meus colegas e eu começámos a pensar se uma civilização avançada poderia detetar as assinaturas tecnológicas (“techno-signatures”), como as emissões de rádio, da Terra. E, em caso afirmativo, o que é que poderiam detetar?
Questionou Michael Garrett, num artigo, onde reflete que, apesar de esta não ser a primeira investigação deste tipo, muita coisa foi mudando, nomeadamente, “com o advento dos telemóveis”.
Há cerca de 20 anos, os telemóveis e as torres que os ligam criaram uma nova assinatura tecnológica de emissão radioelétrica de banda larga. E, embora tenham uma potência relativamente baixa, são milhares de milhões de telemóveis e muitos milhões de torres.
Assim, a emissão radioelétrica acumulada destes aparelhos está a começar a tornar-se bastante significativa.
Mas será que seria percetível para uma civilização extraterrestre que estivesse a observar de longe?
Utilizando uma base de dados da OpenCellID, com dados preenchidos por crowdsourcing, os investigadores conseguiram construir um modelo simples que estima a distribuição global das torres de telemóveis. Descrevem-no como “rudimentar e incompleto”, mas admitem ser a sua “melhor estimativa”.
Uma vez que a Terra gira sobre o seu eixo, uma civilização avançada localizada algures na nossa galáxia conseguiria medir a emissão de rádio das torres de telemóveis à medida que diferentes partes da Terra rodassem à sua vista.
Então, uma civilização avançada que efetuasse muitas medições precisas, ao longo do tempo, poderia, provavelmente, concluir que o nosso planeta está maioritariamente coberto de água e está separado em várias massas terrestres – a fuga de rádio provém tipicamente das massas terrestres e não da água.
Além disso, poderia também perceber que, embora a maior parte das fugas de rádio móvel esteja associada a massas de terra, as torres (e, consequentemente, os seus utilizadores) tendem a situar-se ao longo da costa. Veriam também que as redes de torres móveis estão distribuídas de forma bastante equitativa pelo planeta.
Os investigadores calcularam a potência emitida pela Terra e estimaram a transmissão vista de três estrelas diferentes da nossa galáxia – HD 95735, a estrela de Barnard e Alpha Centauri A. Com isso, perceberam que uma civilização alienígena perto desses locais precisaria de telescópios muito melhores do que os nossos para detetar a fuga de rádio móvel da Terra.
Michael Garrett explicou que há também outros tipos de emissões que poderiam ser detetadas, como sistemas de radar militares e transmissões de comunicações no espaço profundo para naves espaciais distantes, como as sondas espaciais Voyager.
As assinaturas tecnológicas de rádio são provavelmente a característica que define a existência da nossa própria civilização, pelo menos na perspetiva de um extraterrestre. Mas uma espécie extraterrestre também encontraria fugas de radiação em todo o espectro eletromagnético (incluindo a luz visível).
Se continuarmos a aumentar o nosso consumo de energia ao ritmo atual, o “calor perdido” – um produto final inevitável da utilização de energia – será descarregado para o espaço.
Outras assinaturas tecnológicas, incluindo os poluentes industriais na atmosfera da Terra, seriam também percetíveis para os extraterrestres equipados com potentes telescópios. Uma civilização extraterrestre avançada poderia adivinhar, por exemplo, a nossa fase particular de industrialização, bem como o nosso consumo de energia.