A NASA desde há muitos anos que olha para a Lua como a base natural para exploração do Universo. O nosso satélite natural tem condições favoráveis para permitir conhecermos muito melhor o Espaço. Um dos projetos que a agência espacial está a explorar é a criação de uma base lunar. Contudo, há outras inovadoras ideias para o solo da Lua. Usar uma cratera para construir um radiotelescópio gigante é uma delas.
Apesar de estar já em desenvolvimento o Telescópio Espacial James Webb, estão também a ser desenvolvidas novas ideias para os futuros telescópios.
Radiotelescópio de Cratera Lunar
É uma ideia arrojada e com especificidades que não irão permitir colocar em prática tão cedo. No entanto, se temos telescópios a atravessar o espaço com tudo o que isso implica, porque não tê-los também na Lua?
Esta é uma das ideias apresentadas no programa Innovative Advanced Concepts (NIAC) da agência espacial norte-americana. O seu autor, um investigador que trabalha atualmente no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, explicou quais as vantagens que ele vê ao ter um telescópio na Lua.
Segundo o investigador, a Terra “incomoda-nos” quando se trata de explorar a vastidão do desconhecido.
Qual a razão da Terra “incomodar” na exploração espacial?
Conforme referimos, as várias agências espaciais, nos últimos 50 anos, desenvolveram telescópios quer na Terra como no espaço. Assim, desenvolveram vários tipos de lentes e espectros de ondas que nos permitem discernir o que temos a anos-luz de distância do nosso planeta.
Um caso que nos mostra esta realidade é o projeto do Search for Extraterrestrial Intelligence ou SETI. Esta nomenclatura significa Procura por Inteligência Extraterrestre e tem como objetivo a constante procura por vida inteligente no espaço. Este é um observatório global composto por 198 telescópios.
Uma das abordagens, denominada radio SETI, visa analisar sinais de rádio de baixa frequência captados por radiotelescópios terrestres (principalmente pelo Radiotelescópio de Arecibo), uma vez que este tipo de sinal não ocorre naturalmente, podendo ser interpretado como evidência de vida extraterrestre.
Projetos inovadores são cada vez mais valorizados
O programa NIAC procura “projetos inovadores, tecnicamente credíveis e conceitos avançados que possam fazer a diferença no espaço”. Já no passado demos a conhecer um desses projetos, certamente lembrar-se-ão do submarino autónomo para explorar mar de Titã.
Assim, a ideia de Saptarshi Bandyopadhyay recai sobre o argumento dos projetos inovadores, pese o facto de um dia poder ser tecnicamente credível. O especialista em robótica da NASA propõe o que ele chama de radiotelescópio de cratera lunar (LCRT). No fundo, é um telescópio que seria colocado do outro lado da Lua em relação à Terra. Provavelmente é onde a sonda chinesa Chang’e 4 anda a investigar.
Segundo Bandyopadhyay, colocar um telescópio numa cratera, nessa área, teria muitas vantagens não só em relação aos telescópios terrestres, mas também em relação aos telescópios espaciais. Segundo a sua explicação, desta forma seria possível utilizar ondas com mais de 10 metros, que são refletidas pela ionosfera terrestre e que “até agora não foi explorada pelo homem”, para além do facto de a Lua atuar como escudo físico contra as interferências da Terra, do resto dos satélites em órbita ou do ruído de rádio do Sol durante a noite lunar.
Interposto lunar para observações do universo
A proposta consiste na colocação de uma malha de 1 km de diâmetro, recorrendo a robôs, que iria aplicar o material na cratera. Assim, esta malha iria funcionar como refletor esférico, numa cratera de 3,5 km. Conforme refere Bandyopadhyay na sua nota, este seria a maior do género no sistema solar. Além disso, esta estrutura permitiria observações na faixa de comprimento de onda, de 10 a 50 metros, e na banda de frequência, de 6 a 30 megahertz.
O LCRT é um dos 23 projetos que receberam parte dos 7 milhões de dólares de que a NIAC dispõe para a investigação. Na fase 1 (a que passou a ideia da Bandyopadhyay) o prémio consiste em 125.000 dólares para financiar um estudo de nove meses de cada ideia, que, segundo a NASA, pode exigir pelo menos uma década para que a tecnologia esteja ao seu nível, mas continua a ser interessante (ou pelo menos assim parece, dado o apoio financeiro que recebem da mesma).