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InSight da NASA vai ser apanhada numa tempestade em Marte

Marte não é um bom sítio para usar painéis solares. As enormes tempestades de poeiras cobrem estes elementos e apagam as máquinas que o Homem envia para lá dependentes da energia solar. Aliás, a missão InSight da NASA, que se espera que termine num futuro próximo, viu uma queda recente na energia gerada pelos seus painéis solares à medida que uma tempestade de poeira do tamanho de um continente gira sobre o hemisfério sul de Marte.

A tempestade está a cerca de 3500 quilómetros do módulo InSight e teve inicialmente pouco impacto no “lander”. Mas cada vez se aproxima mais e está a “tapar” a luz.


A poeira mortal de Marte

A poeira já “matou” o rover Opportunity em 2018. Depois de vários anos a descobrir Marte, as poeiras acumuladas nos painéis solares que alimentavam de energia o robô, obrigaram a um último suspiro. Desde então, os rovers são monitorizados com muito mais atenção para não serem prematuramente aniquilados pelas poderosas tempestades de pó.

No caso do rover InSight, a missão monitoriza cuidadosamente o nível de energia do “lander”, que tem vindo a diminuir à medida que a poeira se acumula nos seus painéis solares. Na segunda-feira, 3 de outubro, a tempestade tinha crescido o suficiente e estava a acumular tanta poeira que a espessura da neblina poeirenta na atmosfera marciana tinha aumentado em quase 40% em torno do InSight.

Com menos luz solar a atingir os painéis do “lander”, a sua energia caiu de 425 watt-hora por dia marciano, ou sol, para apenas 275 watt-hora por sol.

O sismómetro do InSight tem estado a funcionar cerca de 24 horas dia marciano sim, dia marciano não. Mas a queda na energia solar não deixa alimentação suficiente para carregar completamente as baterias a cada sol. Ao ritmo atual de descarga, o “lander” só poderia operar durante algumas semanas. Assim, para conservar energia, a missão vai desligar o sismómetro do InSight durante as próximas duas semanas.

Estávamos mais ou menos no degrau inferior da nossa escada no que toca à energia. Agora estamos no chão. Se conseguirmos sobreviver a isto, podemos continuar a operar no inverno – mas eu preocupar-me-ia com a próxima tempestade que surgir.

Disse o gestor do projeto InSight, Chuck Scott, do JPL da NASA no sul da Califórnia, EUA.

A equipa tinha estimado que a missão do InSight iria terminar algures entre o final de outubro deste ano e janeiro de 2023, com base em previsões de quanto a poeira nos seus painéis solares irá reduzir a sua produção de energia. Desde há muito tempo que o “lander” ultrapassou a sua missão principal e está agora perto do fim da sua missão alargada, realizando “ciência bónus” ao medir sismos marcianos, que revelam detalhes sobre o interior profundo do Planeta Vermelho.

Imagens lado a lado do Mars Reconnaissance Orbiter mostram como uma tempestade de poeira global bloqueou a visão da superfície do planeta vermelho e, junto com ela, a luz solar necessária para alimentar alguns rovers da NASA

O estudo das tempestades marcianas

Há sinais de que esta grande tempestade regional atingiu o seu pico e entrou na sua fase de dissipação: o instrumento MCS (Mars Climate Sounder) da MRO, que mede o aquecimento provocado pela absorção de luz solar pela poeira, vê o crescimento da tempestade a abrandar. E as nuvens que levantam poeira, observadas em imagens do MARCI (Mars Color Imager) do mesmo orbitador – que cria diariamente mapas globais do Planeta Vermelho e foi o primeiro instrumento a detetar a tempestade – não estão a crescer tão rapidamente como antes.

Esta tempestade regional não é uma surpresa: é a terceira tempestade do seu género que foi vista este ano. De facto, as tempestades de poeira de Marte ocorrem em todas as épocas do ano marciano, embora mais delas – e maiores – ocorram durante o outono e inverno no hemisfério norte, que está a chegar ao fim.

As tempestades marcianas de poeira não são tão violentas ou dramáticas como Hollywood as retrata. Embora os ventos possam soprar até 97 km/h, o ar marciano é suficientemente fino para ter apenas uma fração da força das tempestades na Terra. Na sua maioria, as tempestades criam “bagunça”: atiram poeira para a atmosfera, que desce lentamente, por vezes demorando semanas.

Em raras ocasiões, os cientistas têm visto tempestades de poeira a crescer para eventos globais, que cobrem quase todo o planeta Marte. Conforme referido, uma destas tempestades de poeira de tamanho planetário acabou com a missão do rover Opportunity da NASA em 2018.

Uma Selfie da Curiosity mostra que não tem grandes problemas com o pó em cima da sua estrutura

E os outros rovers da NASA?

Basicamente a NASA percebeu que Marte expõe vários problemas aos seus robôs e as poeiras é um deles. Contudo, esta dificuldade foi ultrapassada nos rovers movidos a energia nuclear. Assim, quer o Curiosity, quer o Perseverance, não têm com que se preocupar em termos de uma tempestade de poeira que afeta a sua energia. Mas o helicóptero Ingenuity é movido a energia solar e tem notado o aumento global da neblina de fundo.

Além de monitorizar tempestades para a segurança das missões da NASA na superfície marciana, a MRO passou 17 anos a recolher dados inestimáveis sobre como e porque é que estas tempestades se formam. “Estamos a tentar captar os padrões destas tempestades para podermos melhor prever quando estão prestes a acontecer”, disse Zurek. “Aprendemos mais sobre a atmosfera de Marte com cada uma delas que observamos”.

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